Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Hypnotic": suspense psicológico da Netflix é horroroso

Estrelado por Kate Siegel ("Missa da Meia-Noite"), "Hypnotic" é um apanhado de ideias ruins em um roteiro preguiçoso

Vitória
Publicado em 29/10/2021 às 02h20

A atriz Kate Siegel se tornou um rosto reconhecível nos últimos anos. Sempre escalada nos trabalhos do marido, o cineasta Mike Flanagan, a atriz ganhou popularidade em séries como “A Maldição da Residência Hill”, “A Maldição da Mansão Bly” e “Missa da Meia-noite”. Antes, havia se protagonizado o bom “Hush” (coescrito por ela) e aparecido como coadjuvante no interessante “Jogo Perigoso”. Em comum (além de todos estarem disponíveis na Netflix), o fato de todos serem bons roteiros de terror. Assim, quando um novo filme do gênero aparece no catálogo da plataforma com o rosto de Siegel estampado no poster, o interesse é imediato.

O problema é que a atriz talvez seja a única coisa do recém-lançado “Hypnotic” que mereça algum destaque. O filme escrito por Richard D’Ovidio (“Chamada de Emergência”) e dirigido pela dupla Matt Angel e Suzanne Coote (ambos do péssimo “Vende-se Esta Casa”) acompanha Jenn, uma mulher que sofre pelo rompimento com o ex-noivo e pelos motivos que causaram a separação. Indicada por uma amiga, Gina (Lucie Guest), Jenn passa a visitar o terapeuta Collin Meade (Jason O’Mara), que ela casualmente conhece em uma festa, e a realizar sessões de hipnose para superar seus medos.

Três meses depois, a vida de Jenn parece melhor, mas ela vem sendo atormentada por alguns sonhos que não parecem exatamente sonhos. Após um acontecimento estranho, ela passa da desconfiar do processo de hipnose. O que, afinal, estaria seu terapeuta fazendo com ela?

“Hypnotic” curiosamente não faz segredo com o que está acontecendo em cena. Desde o início, antes mesmo de Jenn ser apresentada ao público, fica clara a dinâmica da hipnose: uma ligação de um número desconhecido, uma palavra-chave utilizada como gatilho, e coisas estranhas começam a acontecer (se fosse no Brasil não teríamos esse problema. Quem é que atende ligações de números desconhecidos?)

Ao inesperadamente renunciar a uma possível virada de revelação final, o filme confia em sua narrativa e em alguns pontos cruciais para impactar, mas o problema é o roteiro ser medonho. O terapeuta (apresentado como vilão já na primeira cena) é construído como uma espécie de Hannibal Lecter, um sujeito refinado e charmoso cujo consultório parece saído de um programa de obras do HGTV de tão impecável. Ele, no entanto, não é muito inteligente - Jenn encontra pistas incriminadoras sobre o terapeuta em uma simples busca na internet; é como se Hannibal Lecter deixasse uma trilha de iguarias retiradas de corpos humanos que levasse a polícia direto para sua casa ou tivesse um canal de receitas de carne humana no YouTube.

Filme
Filme "Hypnotic", da Netflix. Crédito: Eric Milner/Netflix

Aqui surge também outro problema de “Hypnotic”, o detetive interpretado por Dulé Hill é o suprassumo da incompetência, mais um fruto do roteiro preguiçoso. Todas as conclusões a que ele chega são induzidas pela protagonista e as descobertas que ele faz são tão óbvias que seria possível ter evitado algumias mortes pelo caminho. O personagem serve apenas como apoio para explicar para à protagonista o modus operandi do assassino e também como solução ex-machina quando o texto não encontra saídas.

O roteiro usa a hipnose como um superpoder, como se fosse algo que o professor Xavier ou Jean Grey fariam em alguma história dos X-Men. Não há a sutileza, por exemplo, de “Corra!”, que faz bom uso da hipnose no cinema e brinca com as sensações do espectador. Em “Hypnotic” nada precisa fazer sentido, basta jogar a responsabilidade na hipnose, chega a ser irresponsável. O filme depende demais desses absurdos essenciais para suas viradas, mas que não valem ser discutidos aqui para não entregar nada. Todas essas viradas, vale ressaltar, são devidamente explicadas por algum personagem em algum momento - é quase irônico imaginar que Richard D’Ovidio tenha escrito um filme tão pobre e ainda acredite que precise explicá-lo de alguma forma.

Com muita boa vontade, dá para dizer que “Hypnotic” tem uma premissa interessante, ao lidar com assuntos como controle e medo, e uma clara influência de “Sob o Domínio do Mal”, mas não faz ideia do que fazer com isso. Com roteiro desinteressante, que precisa que seus personagens sejam pouco inteligentes para avançar, o filme parece um apanhado de ideias não necessariamente boas jogadas aleatoriamente em uma narrativa pobre e pouco original.

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