Na lista de mais vistos da Netflix há algumas semanas, o filme russo “Incursão Alienígena” guarda em si uma pegadinha nunca avisada pela plataforma. O filme de ficção científica é uma continuação direta do sucesso “Invasão” (2017), não disponível na Netflix e só encontrado para compra ou locação no AppleTV.
Como isso nunca é avisado e nem sequer há uma introdução que explique os acontecimentos do filme anterior, é difícil entender quem são aquelas pessoas o que exatamente está acontecendo no filme de Fedor Bondarchuk.
A história tem início enquanto acompanhamos Yulya Lebedeva, uma jovem estudante sempre acompanhada por um time de seguranças - filha de um importante general, ela teve sua vida transformada com a misteriosa nave que caiu na Terra três anos atrás. Yulia tenta levar uma vida normal, mas segue sendo estudada para ver quão profunda foram as mudanças causadas pelo contato com os alienígenas.
A vida de Yulya vira de cabeça para baixo quando ela reencontra Hakon (Rinal Mukhametov), o alienígena com quem se envolveu há três anos. Hakon avisa a jovem que uma ameaçadora inteligência artificial alienígena, capaz de controlar satélites, redes sociais, usando a tecnologia terrestres contra a própria população, quer eliminar Yulya. Juntos, eles podem ter uma chance de sobreviver e salvar a Terra.
“Incursão Alienígena” não gasta tempo algum situando o espectador do que aconteceu antes. É fácil entender a dinâmica entre os protagonistas, mas nunca é explicado, por exemplo, a relação entre Yulya e Artyom (Alexander Petrov). Durante os créditos iniciais, o filma até tenta situar a audiência, mas nunca vai além do básico do básico.
O filme de Fedor Bondarchuk tem uma roupagem de blockbuster, com ótimos efeitos especiais e grandiosas sequências de ação/destruição, mas, apesar disso, tem alma de filme de segunda linha. A narrativa cria uma mensagem de heroísmo e sacrifício dos generais russos em nome da população - ao ponto de, em uma Moscou praticamente destruída, estátuas de líderes permanecerem sempre de pé.
Irina Starshenbaum parece nunca conferir à personagem o peso carregado por ela. Esse aspecto também é reforçado pelo texto, que nunca dá à protagonista momentos dramáticos relevantes, o que é reforçado por um tom cômico de outro personagem. Assim, quando o suposto clímax finalmente chega, o público não se importa com a gravidade da ameaça ou o destino daqueles personagens. Alguns deles, inclusive, estão ali apenas para a redenção, para se redimir dos acontecimentos do filme anterior, mas isso nunca é devidamente explicado.
Mais do que ser um filme medíocre, “Incursão Alienígena” é um filme confuso, que se perde na tentativa de ser grandioso em seus 134 minutos de projeção. O roteiro de Oleg Malovichko e Andrey Zolotarev pega emprestado elementos de diversos clássicos de ficção científica e/ou filmes desastre, mas nunca se aprofunda, algo que seu antecessor até se esforçava em fazer, nem sempre com sucesso.
“Incursão Alienígena” deveria se entender como um blockbuster de ação, apostando nos ótimos efeitos especiais para criar algumas sequências potencialmente memoráveis, mas tenta imprimir drama com personagens ruins e péssimos diálogos. É quase triste como o filme ensaia algumas possibilidades interessantes (Artyom no exoesqueleto, por exemplo), mas depois as esquece na totalidade. Toda a originalidade do original foi esquecida e o resultado é um filme genérico, que irrita mais do que empolga. A Netflix poderia pelo menos ser honesta o suficiente para deixar claro se tratar de uma continuação, pois a experiência deve se tornar ainda mais vazia sem a ciência do que aconteceu no primeiro filme.
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