Era questão de tempo para que filmes e séries passassem a abordar a pandemia de Covid-19 de maneira natural, como parte das tramas, mas sem fazer da doença o sua força motriz; trata-se, afinal, do maior acontecimento mundial para todos nascidos após a Segunda Guerra (1939 - 1945).
“Infiesto”, filme espanhol lançado pela Netflix, se passa nos primeiros dias de confinamento na Espanha, ou seja, em março de 2020. O filme dirigido por Patxi Amezcua, roteirista da série “Operação Maré Negra” (Amazon Prime) e do filme “Um Homem de Ação” (Netflix), é um policial com início quando uma jovem desaparecida há três meses, e dada como morta, reaparece. Cabe aos detetives Samuel (Isak Férriz) e Castro (Iria del Rio) a investigação do caso, que pode ser bem maior do que parece.
O filme resgata bem os primeiros dias da pandemia, ainda sem protocolos estabelecidos e regras a serem seguidas, um mundo cercado de dúvidas. Enquanto lidam com o caso, ambos detetives lidam também com a proximidade da doença, pois cada um deles tem uma pessoa querida em situação de risco. As ruas das cidades totalmente desertas também ajudam na construção do clima e dão o texto um ar relativamente insólito.
Com pouco mais de 90 minutos de duração, “Infiesto” às vezes parece apressado, com resoluções imediatas. Essa característica entra em conflito com o estilo “True Detective” da trama, que demanda por mais respiros, mais troca entre os protagonistas e, principalmente, mais esquisitices. O roteiro usa a Covid como forma de dar profundidade a seus protagonistas, principalmente em uma das viradas para o terceiro ato, mas nunca se aprofunda em nenhum deles - há pouca troca entre Samuel e Castro, que seguem de uma pista a outra, do ponto A ao ponto B, cena após cena. Essa escolha não é necessariamente ruim, dando agilidade ao filme e o colocando sempre em movimento, mas cobra seu preço na falta de peso dada a cada descoberta.
A pressa do filme também resulta em uma virada pouco crível no final, pois não há construção que envolva o espectador no mistério. Assim, é quase irônico que essa surpresa tenha uma boa resolução e mostre que “Infiesto” poderia ser muito bom em um texto com mais tempo para se resolver. O filme de Patxi Amezcua teria potencial para uma minissérie em seis episódios, por exemplo, algo na linha de “A Garota na Fita” ou até mesmo, se aumentasse um pouco seu nível de ambição, da já citada “True Detective”.
Com ambição contida e operando de maneira muito simples, “Infiesto” é um filme policial de razoável para bom, uma obra que parece mais um episódio especial de uma inexistente série protagonizada pela dupla de detetives resolvendo crimes de pessoas desaparecidas na Espanha. Vale ressaltar que a maneira como a série conecta a pandemia ao texto (e aos crimes) é melhor que o esperado e, novamente, poderia se transformar em algo muito mais interessante com uma narrativa mais longa.
Da maneira como se apresenta, porém, o filme é apenas razoável. Tem um bom cenário, uma ambientação interessante, mas entrega um apanhado de boas ideias em sequência e sem o devido respiro. Ao fim, não é que “Infiesto” seja ruim, ele só fica no meio do caminho do potencial da história que conta.
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