Com o primeiro número publicado em janeiro de 2003, “Invencível” é uma das HQs mais legais dos últimos anos. A história criada por Robert Kirkman (“The Walking Dead”) e Cory Walker subverte o universo de super-heróis como conhecemos, fazendo uso de diversos elementos com os quais o público já se identificava, como poderes, personagens similares a alguns já conhecidos, alienígenas e supervilões, mas mudando dinâmicas de construção narrativa - personagens morrem com frequência e as ações de cada um deles têm muito mais consequências.
Por 144 edições, Kirkman contou a história de Mark Grayson, um jovem de 17 anos, filho do Omni-man, uma espécie de Super-Homem, o herói mais poderoso do planeta. Natural do planeta Viltrum, Omni-man atua sozinho como o defensor da Terra, que também contra com diversos outros grupos de heróis, sendo o Guardiões do Globo o principal deles. “Invencível” tem início quando Mark finalmente descobre seus poderes e se torna o herói que dá nome à HQ e à série recém-lançada pela Amazon Prime Video.
“Invencível”, a série, chega à plataforma com três episódios e terá episódios semanais toda sexta-feira. A história da série é a mesma do material original, com a descoberta de Mark (Steven Yeun) como herói à sombra do pai (J. K. Simmons). Nos capítulos de lançamento, vemos o jovem às voltas com seus poderes e também com problemas adolescentes como amizades e garotas. Como, afinal, equilibrar uma vida de super poderes com uma adolescência normal? Tenho certeza que já vimos essa premissa em algum lugar...
A série, tal qual a HQ, abusa da violência gráfica, o que talvez funcione para quem nunca teve contato com o material original - para os já introduzidos, o impacto é menor. Por anos uma história pensada como um filme, como animação a série consegue ser muito fiel aos quadrinhos, com muitas cores e possibilidades narrativas. O resultado são sequências de ação grandiosas e inventivas, com exércitos alienígenas, poderes e super-heróis enchendo a tela.
É curioso como a série começa com uma pegada diferente, mostrando uma ameaça pelo ponto de vista de um homem comum, mas logo abandona esse olhar. “Invencível” vai, aos poucos, se transformando em uma trama de mistérios, mas, por mais coloridos e violentos que sejam os episódios iniciais, eles também são superficiais e nunca chegam ao mesmo nível alcançado pelo impacto do primeiro.
Enquanto o Omni-man, também conhecido como Nolan Grayson, dos quadrinhos é apresentado como uma figura muito mais humana, e tem até uma profissão (escritor), sua versão animada é inicialmente antipática e distante - sua única conexão com a humanidade é Debbie Grayson (Sandra Oh), sua esposa, personagem que curiosamente ganha muito mais camadas na série.
Após ver séries como “The Boys” apostarem na violência e na subversão dos heróis, “Invencível” perde esse frescor. Apesar disso, se seguir fel às HQs, a série tem muito potencial. A obra de Kirkman segue por caminhos inimagináveis e cada vez mais absurdos, ampliando em muito seu escopo inicial. A questão é saber se a série terá tempo hábil para chegar até esses arcos.
É interessante notar como a série se distancia dos quadrinhos na construção de alguns personagens. Mark e Debbie são asiáticos (e têm vozes de atores asiáticos), há heróis negros, latinos e personagens de orientações sexuais distintas, conferindo à trama muito mais representatividade do que a HQ, na qual todo mundo é branco.
Também é interessante a forma como a série parece levar mais a sério todo o aspecto satírico da obra de Kirkman. Há piadas e momentos de mais leveza, mas “Invencível”, a série, parece gostar mais da violência do que usá-la apenas como um recurso de impacto, é quase como se toda a narrativa funcionasse para criar as sequências mais gráficas.
Vale questionar, ainda, a estratégia da Amazon de lançar episódios semanais, opção que deu certo com “The Boys”, mas que foi utilizada apenas a partir da segunda temporada da série também adaptada dos quadrinhos, quando ela já tinha um público cativo. Sem uma base de fãs pré-estabelecida, “Invencível” corre o risco de não atrair um público semana após semana. A série tem um potencial infinito, mas corre o risco de não fisgar o público se optar pela cadência de episódios semanais.
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