O diretor Todd Phillips, de “Coringa”, ao falar sobre o filme, afirmou que não conseguiria realizá-lo da maneira que queria se a trama não fosse ambientada no início dos anos 1980. De fato, a origem do personagem, da maneira como foi contada, seria impossível de se filmar em uma era de tecnologia, câmeras e uma preocupação maior com questões de segurança.
Com “Irmandade”, que estreia nesta sexta (25/10) na Netflix, o showrunner e diretor Pedro Morelli faz algo parecido ao transportar toda a ação para 1994, uma era de transformações, mas ainda sem a conectividade e vigilância que temos hoje. A série de oito episódios acompanha a criação e o crescimento de uma facção criminosa que atua dentro de presídios em São Paulo - qualquer semelhança com o PCC (até na fonte utilizada para o logo da série), segundo os produtores, é mera coincidência. Em entrevista à coluna, em São Paulo, Moretti afirmou ter se inspirado em várias facções, não apenas em uma.
“Irmandade” é uma história de reencontro familiar. A advogada Cristina (Naruna Costa) se depara com o caso do irmão Edson (Seu Jorge), preso há mais de 20 anos por tráfico de drogas. Em uma tentativa de garantir dignidade ao irmão, ela acaba se envolvendo numa grande trama que inclui até trabalhar infiltrada na Irmandade, a facção comandada por Edson e pelo violento Carniça (Pedro Wagner). Ao mesmo tempo, acompanhamos o jovem Marcel (Wesley Guimarães), irmão caçula de Edson e Cristina, às voltas com as dificuldades de deixar a adolescência e assumir responsabilidades da vida adulta.
Em seus primeiros momentos, na breve sequência que se passa em outra época, “Irmandade” esbarra no mesmo problema de “3%”, outra série brasileira da Netflix: as falas são todas muito artificiais. A impressão logo é deixada para trás quando a trama se muda para a década de 90 e para o subúrbio da capital paulista.
Nos seis episódios disponibilizados para a imprensa, a série aposta no ritmo de thrillers policiais e funciona muito bem na maior parte do tempo. A ambientação, além de ser cronologicamente correta com as criações das facções no Brasil, funciona bem como recurso narrativo, principalmente a Copa do Mundo de 94 - quem viveu aquele momento certamente se identificará em alguns diálogos sobre a Seleção Brasileira da época e sobre o que o povo esperava dela.
A narrativa às vezes se atropela um pouco na necessidade de criar um gancho para o episódio seguinte. O curioso é que, apesar disso, os ganchos cumprem seu papel, pois a vontade é de sempre assistir a mais uma episódio, principalmente quando a série engrena de vez, lá pelo terceiro.
É interessante notar também a diferença no estilo de cada episódio de acordo com seu diretor; além de Morelli, Aly Muritiba e Gustavo Bonafé também comandam alguns capítulos da jornada de Cristina e Edson. Muritiba confere uma pegada mais de filme de gângster, enquanto Bonafé fica com os momentos de ação. Morelli, como showrunner, dá o tom da série e aposta no thriller, em criar tensão, expectativa.
Outro ponto a ser destacado são as atuações. Seu Jorge deixa toda sua carioquice de lado para compor Edson com imponência e sotaque da periferia de São Paulo; a Cristina de Naruna Costa é complexa, sempre entre o certo e o errado. Além dos dois, Wesley Guimarães garante ingenuidade a seu Marcel e Pedro Wagner rouba a cena como Carniça. O ator pernambucano, em uma transformação impressionante, cria um personagem sempre à beira da explosão, de uma reação violenta.
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“Irmandade” é um projeto ambicioso. Gravada dentro de um presídio (Piraquara, na região metropolitana de Curitiba), com investimento alto em produção e elenco, a série tem ritmo e qualidade de produções americanas do gênero. Ao fim dos seis episódios liberados para a imprensa a vontade era de continuar assistindo sem parar até o fim da temporada.
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