Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Já Era Hora", da Netflix, é confortável, divertido e emocionante

Comédia romântica com pitadas de drama, filme italiano "Já Era Hora" traz mensagem sobre dedicar tempo ao que e a quem realmente importa na vida

Vitória
Publicado em 20/03/2023 às 18h55
Filme italiano
Em "Já Era Hora", Dante se lembra apenas dos dias em que faz aniversário, ano após ano. Crédito: Fabio Lovino/Divulgação

Em “Tudo Bem no Natal que Vem” (2020), Leandro Hassum vive um sujeito que nasceu no Natal, mas odeia a data. Como, afinal, ele poderia competir a atenção com o nascimento de Jesus? Após um acidente em um Natal, ele apaga e acorda na véspera de Natal do ano seguinte sem se lembrar de nada o que aconteceu nos outros dias do ano. E assim segue, ano após ano, com o personagem acordando sempre em 24 de dezembro sem lembranças dos 364 dias anteriores. A fórmula deu certo para a Netflix, que, ano passado, lançou, “Natal Outra Vez”, um assumido remake mexicano do filme de Roberto Santucci e Paulo Cursino.

Com exatamente a mesmíssima fórmula, apenas inteligentemente não sendo centrado no Natal, o italiano “Já Era Hora” chega à plataforma sem nenhuma indicação de ser um remake ou alguma citação ao filme brasileiro (na verdade, se diz uma adaptação de um curta australiano). No filme dirigido e escrito por Alessandro Aronadio, conhecemos Dante (Edoardo Leo) em uma noite de réveillon, quando seu caminho se cruza com o da adorável Alice (Barbara Ronchi). O filme dá um salto temporal até o aniversário de Dante, data em que sua Alice prepara uma enorme festa surpresa para ele, mas, cheio de compromissos, Dante se atrasa, o que parece ser uma constante. Após o que restou da festa, o protagonista dorme e acorda no mesmo dia, mas no ano seguinte.

A premissa, como dito, é idêntica à do filme com Leandro Hassum, e o mesmo ocorre com alguns acontecimentos, tornando ainda mais estranho o filme não fazer nenhuma referência a ele nos créditos. No decorrer da trama, há alguns distanciamentos - depois de algum tempo, o “salto” temporal ocorre mesmo sem Dante dormir, atrapalhando seus planos de consertar as coisas enquanto se lembra do que está acontecendo.

A mensagem do filme é clara: Dante trabalha muito e vive muito pouco. Mergulhado no trabalho e em uma ascensão na empresa, ele tem pouquíssimo tempo para Alice e para o pai enfermo e internado em uma clínica. Quando a situação de seu relacionamento muda e uma pessoa próxima adoece, o protagonista decide de vez tentar interromper o ciclo no qual inexplicavelmente se encontra.

Filme italiano
Em "Já Era Hora", Dante se lembra apenas dos dias em que faz aniversário, ano após ano. Crédito: Fabio Lovino/Divulgação

“Já Era Hora” tem estrutura clássica de comédia romântica com algumas doses de drama, mas nunca ousa demais. Todas as viradas do texto são previsíveis e, nos momentos em que poderia arriscar, o filme opta pelas saídas mais fáceis. Essas características não chegam a ser um problema, pois tornam o filme facilmente digerível e confortável, com a mensagem de lembrar o espectador das coisas simples que importam mais na vida do que dinheiro e status social. Em contrapartida, o conforto do roteiro também torna o filme mais esquecível, pois há pouco (ou nada) ali que seja, de fato, alguma novidade para alguém.

Ao contrário de “Tudo Bem no Natal que Vem”, que subverte a fórmula de maneira inteligente e cria situações inesperadas, “Já Era Hora” mergulha nela sem explorar muito os possíveis conflitos de Dante naquela situação. Mesmo quando tudo se complica para ele, as soluções são fáceis: ele precisa apenas se dedicar a viver mais e a trabalhar menos, dar valor ao que realmente importa, mensagem repetida várias vezes durante o filme e que apenas Dante não percebe ser o problema central desde a primeira cena.

Filme italiano
Em "Já Era Hora", Dante se lembra apenas dos dias em que faz aniversário, ano após ano. Crédito: Fabio Lovino/Divulgação

Como uma dramédia romântica, falta a “Já Era Hora” tanto um drama mais denso quanto um humor mais direto. Há, é claro, o drama de Dante e o humor causado pelas situações, mas o filme fica no quase, sem nunca emocionar ou fazer rir além daquela respiradinha mais forte com o nariz. As duas características, na verdade, são as responsáveis por tornar o filme italiano tão fácil de ser consumido, uma qualidade nem sempre alcançável, mas também são o que o tornam tão fácil de ser esquecido, um defeito nunca desejado.

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