Um dos nomes mais importantes da história da Sétima Arte, o cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard morreu nesta terça (13), por suicídio assistido, na Suiça, onde a prática é legal. “Ele não estava doente, apenas esgotado. Foi decisão dele”, disse representantes da família ao jornal “Libération”.
Por aqui eternizado nos versos de Renato Russo, na canção “Eduardo & Mônica” (“O Eduardo sugeriu uma lanchonete, mas a Mônica queria ver um filme do Godard”), e também citado por Gil & Caetano ("Cinema Novo"), Skank ("Sam"), Paralamas do Sucesso ("Selvagem"), entre outros, o cineasta se tornou sinônimo de um cinema “cult” e de intelectualidade. Ironicamente, se tornou conhecido ao revolucionar o cinema tradicional francês, aproximando-o da realidade dos anos 1960, ao lado de nomes como François Truffaut, Agneès Varda, Claude Chabrol e Alan Resnais, os ícones da Nouvelle Vague.
Desde o lançamento do ainda clássico “Acossado” (1960), Godard popularizou um estilo de filmar com câmera na mão, takes longos e planos sequência, tudo para mostrar a influência do roteirista e do diretor no produto final, valorizando o cinema autoral. Godard e os cineastas da Nouvelle Vague foram peça fundamental na revolução do cinema hollywoodiano no final dos anos 1960 e início da década seguinte, quando diretores como Steven Spielberg, Martin Scorsese, Francis Ford-Coppola, George Lucas e Robert Altman, influenciados pelo que foi feito na França e no cinema asiático anos antes, levaram o cinema de autor para o mainstream da principal indústria do mundo.
Após os eventos de maio de 1968, Jean-Luc Godard se voltou para um cinema mais político em obras como “Pravda” (1969), sobre a invasão soviética na então Tchecoslováquia, e “Até a Vitória” (1979), um filme sobre a guerrilha palestina. Nos anos 1980, buscou outras inovações e questões iconoclastas - o imperdível drama erótico “Eu vos saúdo, Maria” (de 1985, disponível no Globoplay), uma recriação moderna sobre a concepção de Jesus, foi censurado no Brasil à época do governo José Sarney (e provavelmente era o filme que Mônica queria ver na música da Legião Urbana) a pedido da igreja “para assegurar o direito de respeito à fé da maioria da população brasileira”. O filme só chegou ao Brasil dois anos depois de seu lançamento, em 1988, quando toda a polêmica sobre ele já havia se dissipado.
Godard sempre será um dos principais nomes do cinema mundial, mas seu reconhecimento pela Academia de Hollywood só veio em 2010, em um prêmio pelo conjunto da obra. Quem se importa? Ele nem sequer compareceu à cerimônia e sempre se colocou em oposição à dominação americana do cinema mundial. No ótimo “O Desprezo” (1963), estrelado por Brigitte Bardot, Godard ridiculariza os estúdios de Hollywood e seu desespero capitalista por bilheteria. Em “Elogio ao Amor” (2001), o cineasta culpa a indústria americana por “roubar memórias europeias” e transformá-las em dinheiro, uma crítica direta a, por exemplo, “A Lista de Schindler” (1993), de Spielberg.
Eleito pela revista “Sight & Sound” um dos dez maiores cineasta da História, Jean-Luc Godard se manteve ativo até o início dos anos 2010 e foi diminuindo o ritmo aos poucos. Talvez você não goste tanto do cinema de Godard, mas provavelmente tudo o que consumimos hoje na indústria (filmes e séries) tem influência da obra do diretor.
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