Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Justiça em Família", da Netflix, é genérico, mas diverte

Estrelado por Jason Momoa ("Aquaman") e Isabela Merced ("Dora, a Aventureira"), "Justiça em Família" tem boas cenas de luta e algumas viradas surpreendentes

Vitória
Publicado em 20/08/2021 às 22h07
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Jason Momoa e Isabela Merced no filme "Justiça em Família". Crédito: Clay Enos/Netflix

Quando “Identidade Bourne” foi lançado, em 2002, o cinema de ação sofreu uma grande reviravolta. Os absurdos de outrora deram espaço a uma ação mais crua, próxima da realidade, com tomadas longas uma pega mais dura que influenciou da reinvenção do agente 007, agora encarnado por Daniel Craig, ao então vindouro Universo Marvel.

A maior influência da franquia do desmemoriado agente veio nos filmes de ação do estilo “um homem contra o mundo”. Liam Neeson virou herói de ação com quase 60 anos e Keanu Reeves conseguiu revitalizar sua carreira e o gênero com a ótima (até agora) trilogia “John Wick”. O novo cinema de ação ainda nos presenteou com ótimos filmes como “O Resgate” (2020) e “Anônimo” (2021), obras que elevaram o nível do que pode ser considerado um bom filme de ação.

“Justiça em Família”, que estreou nesta sexta (20) na Netflix, é uma vítima da qualidade de seus pares. Em outros tempos, o filme estrelado por Jason Momoa (“Aquaman”) seria um bom exemplar do cinema de ação, mas hoje parece anacrônico, como um filme do final dos anos 1990 ou início dos anos 2000.

Dirigido pelo estreante Brian Andrew Mendoza, “Justiça em Família” é uma história de acerto de contas. Ray (Jason Momoa) e sua filha, Rachel (Isabela Merced), buscam vingança contra o executivo de uma grande indústria farmacêutica que, por ganância, descontinuou o único medicamente que poderia impedir que a mãe da jovem morresse de câncer. Sem perceber, ambos acabam no meio de um grande esquema de corrupção que envolve um dos vilões favoritos do cinema hollywoodiano, a indústria farmacêutica.

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Jason Momoa e Isabela Merced no filme "Justiça em Família". Crédito: Clay Enos/Netflix

Em seus dois primeiros atos (apresentação e desenvolvimento), “Justiça em Família” abusa dos clichês do gênero. A narrativa é atropelada, mas eficaz, misturando a perseguição dos Cooper à da polícia e também à de um assassino contratado para eliminá-los antes que eles descubram toda a verdade. Há cenas clássicas, como a perseguição durante a saída de um evento esportivo e a luta no metrô (que parece vazio de repente), mas a grande surpresa vem na virada que dá início ao terceiro ato.

A grande surpresa do roteiro é bem guardada e atinge o espectador de supetão. Em contrapartida, assim que ela é revelada, a narrativa faz questão de explicá-la para que o espectador não se sinta enganado - é um recurso didático e expositivo, mas de uso até compreensível na situação, uma vez que o filme não havia dado nenhum indício antes. O problema é que a virada ressignifica toda a trama, tornando-a menos atrativa.

“Justiça em Família” tem cenas de ação eficazes, protagonizadas tanto por Momoa quanto por Merced, e o filme faz questão de mostrar do que eles são capazes antes mesmo dessas habilidades serem necessárias. A intensidade e a presença de tela do ator garante um “star power” para o filme, o que é reforçado por Isabela, mais popular entre outro público. O ator havaiano se sai bem quando é demandado para ser intenso, mas vai mal quando o texto pede uma atuação mais dramática. A ausência de peso dramático faz falta ao filme nos momentos em que o texto tenta ressaltar um importante lado de drama familiar.

É interessante como o texto arranha a superfície de discussões importantes. A família de Ray e Rachel perdeu tudo para tratar o câncer de Amanda (Adria Arjona) e se afundou em dívidas, levantando a velha questão sobre a saúde pública nos EUA. Há ainda a discussão sobre a ganância da indústria farmacêutica e a sua forte presença na política, mas nada é muito desenvolvido.

Ao apostar em vários clichês narrativos do gênero de ação, “Justiça em Família” perde boas oportunidades de se tornar um filme mais complexo, mas isso não significa que ele não ofereça um bom entretenimento, com boas cenas de ação e algumas reviravoltas que vão surpreender muita gente. O filme estrelado por Jason Momoa oferece um entretenimento rápido, sem grandes ambições narrativas ou de estilo, mas honesto, o que já faz valer o clique num sábado à noite.

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Jason Momoa e Isabela Merced no filme "Justiça em Família". Crédito: Clay Enos/Netflix

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