Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Kate": filme da Netflix é genérico, mas diverte com muito estilo

Mary Elizabeth Winstead brilha como uma implacável assassina em "Kate", filme de ação estilo "John Wick" lançado pela Netflix

Vitória
Publicado em 10/09/2021 às 14h44
Filme
Mary Elizabeth Winstead em "Kate", filme da Netflix. Crédito: Jasin Boland/Netflix

Em 1999, as irmãs Wachowski revolucionaram o cinema de ação com “Matrix”. A ação cinematográfica nunca mais foi a mesma depois das protagonizadas por Neo e Trinity em um dos filmes mais influentes da História. Muito ali se baseia em computação gráfica, principalmente nas continuações, mas a famosa sequência em que a dupla invade um prédio para resgatar Morpheus é feita quase em sua totalidade com recursos práticos. Foram necessárias horas de treinamento de artes marciais, coreografias com cabos de aço e profissionais especializados no cinema asiático. O resultado é inesquecível e até hoje, 22 anos depois, serve de referência.

Um dos dublês do filme foi Chad Stahelski, que ocupava o lugar de Keanu Reeves em cenas mais ousadas - inclusive na anteriormente citada. Nas duas continuações, Chad recebeu a companhia de David Leitch na equipe. Anos mais tarde, e com alguma experiência em direção de segunda unidade, a dupla deixou os trabalhos de dublê e se aventurou pela direção com “John Wick - De Volta ao Jogo” (2014). O fato de já terem trabalhado com Keanu Reeves foi fundamental para atraí-lo ao projeto e, assim, dar mais visibilidade a ele.

“John Wick” revolucionou novamente o cinema de ação com coreografias de menos artes marciais, mas usando armas para combate próximo e brutal em takes longos, algo que o cinema de ação de Hong Kong já apelidava de “gun-fu”. Stahelski e Leitch se separaram, com o primeiro se mantendo nos filmes da franquia “John Wick” e o segundo trabalhando em blockbusters como “Deadpool 2” (2019) e “Hobbs & Shaw (2018), além de ter levado para a tela “Atômica” (2017), com Charlize Theron, talvez o filme que mais se aproxime dos protagonizados por Keanu Reeves, mas com um diferencial: uma mulher, Charlize Theron, dá vida e corpo à ação.

E foram justamente filmes como “John Wick” e principalmente “Atômica” que permitiram que “Kate”, lançado nesta sexta (10) pela Netflix, saísse do papel. Dirigido por Cedric Nicolas-Troyan, do fraco “O Caçador e a Rainha do Gelo” (2016), o filme estrelado por Mary Elizabeth Winstead pega emprestado diversos elementos de seus pares, mas se esforça para criar uma identidade própria.

A atriz vive a personagem-título, uma assassina implacável disposta a deixar a profissão após uma missão que feriu seus princípios por envolver uma criança. Antes do derradeiro assassinato, porém, Kate é envenenada, não consegue eliminar o chefão da Yakuza e tem cerca de 24 horas para descobrir quem fez isso com ela e cumprir a missão a que foi designada.

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Mary Elizabeth Winstead em "Kate", filme da Netflix. Crédito: Jasin Boland/Netflix

O texto de Umair Aleem coloca Kate ao lado de Ani (Miku Patricia Martineau), a criança da missão anterior, materializando uma velha crítica de roteiros escritos por homens para humanizar mulheres construídas como vilãs: “despertar” o instinto maternal em uma mulher para quem é reforçado que ela se trata de um instrumento. Assim, ao menos em seus momentos finais, Kate sente o afeto da família que nunca teve - sua figura paternal, Varrick (Woody Harrelson), é o assassino que a treinou.

O mérito de “Kate” é conseguir que sua ação valha a pena e supere o roteiro genérico. Como já havia mostrado em “Aves de Rapina”, Mary Elizabeth Winstead se sai muito bem em filmes de ação, mesmo com mais combate corporal e com armas. A atriz fez treinamentos específicos para cada técnica utilizada pela personagem e o resultado é ótimo.

A direção de Nicolas-Troyan entrega um filme ágil, sempre em movimento por uma Tóquio noturna e o tempo todo iluminada por luzes neon. É interessante ver como Kate se deteriora durante o filme e nunca se recupera; ela sai mais ferida de cada combate e Elizabeth Winstead mostra isso ao público. A protagonista não tem muita profundidade e toda a personalidade dela é desenvolvida nas quase duas horas de filme, o que nem sempre é suficiente para despertar a empatia do outro lado da tela.

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Mary Elizabeth Winstead em "Kate", filme da Netflix. Crédito: Jasin Boland/Netflix

Esse aspecto faz com que o espectador fique em seu lugar, no sofá, com a única obrigação de se divertir com “Kate”. O filme é estiloso, filmado em locações ao invés de telas verdes, com um colorido vivo e embalado por uma trilha sonora de muito rock e pop japonês. O brilho, claro, está na ação, da incrível (ainda que computadorizada) perseguição de carro pelas ruas de Tóquio às viscerais lutas com armas de fogo ou facas.

De volta ao roteiro, é de se lamentar que ele não encontre uma solução melhor para apresentar a reviravolta do terceiro ato do que o excesso de exposição. Em um diálogo quase constrangedor em que os “vilões” explicam tudo, mas tudo mesmo, o texto apresenta aquilo de que o público já desconfiava.

Apesar do roteiro genérico e de algumas derrapadas, “Kate” é um ótimo entretenimento muito em função de Mary Elizabeth Winstead (que parece pronta para viver Ripley em um remake de “Alien”) e do estilo impresso por Nicolas-Troyan. Em uma Netflix na qual filmes como “Justiça em Família”, “Incursão Alienígena” e “Ascensão do Cisne Negro” passam semanas entre os mais vistos, “Kate” tem tudo para se destacar com folga.

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