Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"La Casa de Papel: Coreia" apenas repete série original

Série "La Casa de Papel: Coreia - Área de Economia Conjunta” é um remake coreano da Netflix para o fenômeno espanhol. A ambientação em uma Coreia unificada é ótima, mas não passa disso

Vitória
Publicado em 24/06/2022 às 16h26
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Série "La Casa de Papel: Coreia - Área de Economia Conjunta”. Crédito: Jung Jaegu/Netflix

A sequência de abertura de “La Casa de Papel: Coreia” mostra os motivos da existência deste produto derivado do fenômeno espanhol da Netflix. Ao som de “DNA”, do BTS, a Tóquio (Jeon Jong-seo) da nova série dança na escadaria de uma universidade na Coreia do Norte, um breve respiro antes de mergulharmos no “crime que entrará para a história como revolucionário” e também um dos poucos momentos em que temos a impressão de estar assistindo a algo novo.

Embalada pelo sucesso dos grupos de K-pop, por séries como “Round 6” e filmes como “Parasita”, vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2020, a Coreia do Sul é hoje uma potência cultural mundial - “Round 6”, inclusive, tem o mérito de ter despertado o consumo de conteúdos legendados em alguns mercados. A junção de dois fenômenos globais da Netflix, então, era uma ideia irresistível demais para a plataforma, mas é também uma grande oportunidade desperdiçada.

“La Casa de Papel: Coreia - Área de Economia Conjunta” poderia se passar em um mesmo universo da série espanhola, com ladrões inspirados pelo Professor e sua turma, abrindo até espaço para uma franquia global de roubos mundo afora, mas opta por outro caminho. A série que chega nesta sexta (24) à Netflix é um remake da primeira temporada da série original, com algumas peculiaridades, é verdade, mas, ainda assim, um remake bem direto.

Em uma Coreia fictícia de um futuro próximo, a guerra entra Coreia do Norte e Coreia do Sul chega a fim pacífico, e atual Área de Segurança Conjunta se torna uma área de livre comércio passível de ser explorada pelos dois lados. A ideia dessa área trazer benefícios à população de ambos os países é logo abandonada quando se percebe que a novidade vem sendo explorada mesmo é pelas elites - a vida ficou até mais complicada depois do fim da guerra para a classe trabalhadora da qual Tóquio faz parte.

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Série "La Casa de Papel: Coreia - Área de Economia Conjunta”. Crédito: Jung Jaegu/Netflix

Ex-soldado da Coreia do Norte, ela sonha com uma vida do outro lado, a tentativa de viver o “sonho coreano” na Península da Coreia, mas logo é consumida pelo capitalismo selvagem de grandes investidores, tubarões do mercado, golpistas e, sem condições de bancar um empréstimo que havia assumido, vê seu sonho ruir.

Tóquio, assim como a personagem de Úrsula Corberó na série espanhola, é a protagonista inicial com a qual o público é levado a se identificar. Logo ela é abordada pelo Professor (Yoo Ji-Tae) com a promessa não apenas de dinheiro, mas de uma vingança contra o sistema que a colocou nessa posição. A série constrói então a narrativa de corrigir injustiças, de colocar o povo no poder na luta contra novos e antigos governantes.

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Série "La Casa de Papel: Coreia - Área de Economia Conjunta”. Crédito: Jung Jaegu/Netflix

A premissa é ótima, apresentando um contexto social diferente e bem mais complexo, mas essas nova Coreia unificada e suas nuances são pouco exploradas pela série, que prefere recriar, às vezes cena por cena, sua ascendente espanhola. Uma Coreia unificada também significa uma casa da moeda única, ou seja, uma grande oportunidade. Tudo, mesmo repetindo o estilo da série espanhola, é tecnicamente bem feito, com a qualidade da indústria coreana de cinema e a marca da Netflix, mas “La Casa de Papel: Coreia - Área de Economia Conjunta”, pelo menos a princípio, é uma repetição pouco atrativa para quem assistiu à série original.

Tóquio, Berlim (Park Hae-soo, de “Round 6”), Rio (Lee Hyun-Woo), Denver (Kim Ji-hoon), Moscou (Lee Won-jong), Nairobi (Jang Yoon-ju), Helsinque (Kim Ji-Hoon) e Oslo (Lee Kyu-Ho), toda a turma capitaneada pelo Professor, se comportam e agem exatamente como suas versões espanholas, o que também acontece do outro lado da lei, com a policial Seon Woojin (Kim Yunjin), que faz as vezes de Raquel Murillo, a Lisboa. Ao invés das máscaras de Dalí, máscaras de Hahoe, tradicionais na Coreia, também se faz presente a filha do embaixador, que até tem um papel maior na nova versão, mas nada que mereça grande destaque. A série ainda repete a estrutura narrativa e o didatismo, com sequências do assalto sendo alternadas com explicações do Professor durante o treinamento para o assalto.

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Série "La Casa de Papel: Coreia - Área de Economia Conjunta”. Crédito: Jung Jaegu/Netflix

“La Casa de Papel: Coreia - Área de Economia Conjunta” tem noção de sus força pop e não é ruim, mas, pelo menos nessa primeira parte de sua primeira temporada (seis episódios), se limita a repetir a série espanhola ainda fresca no imaginário popular, oferecendo, assim, poucos atrativos para que os fãs do material original se envolvam novamente em uma história tão popular justamente pelas surpresas e reviravoltas dos planos sempre brilhantes do Professor. “La Casa de Papel: Coreia” precisa se afastar do material original e assumir uma identidade própria além das referências à cultura coreana se quiser ter alguma relevância.

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