Toda vez que for escrever sobre “La Casa de Papel” falarei sobre o mesmo fator: o hype. A série espanhola, criada inicialmente como uma minissérie para a TV, não tinha grandes pretensões em sua leva inicial de episódios - era apenas diversão, um jogo de gato e rato, algumas reviravoltas e uma conclusão satisfatória para a trama
O sucesso da série na Netflix foi tão grande mundo afora que o serviço comprou seus direitos e passou a produzir ele mesmo as novas temporadas. A fórmula era a mesma: um plano mirabolante, super arriscado, máscaras de Salvador Dali e, claro, reviravoltas. Se por um lado pouco inova em sua essência, “La Casa de Papel” também não decepciona.
Em sua quarta temporada, que chega sexta, 3 de abril, à Netfix, a série espanhola continua entregando o que promete. Tal qual as duas primeiras temporadas (que, na verdade, eram uma só…), a terceira e a quarta funcionam como uma história única. Já conhecemos o plano para roubar a reserva nacional de ouro do Banco da Espanha, e é por isso que ele, o plano, perde seu protagonismo.
Os novos episódios dão sequência aos acontecimentos da temporada anterior e conduzem aquela trama a um fim. A chegada à reta final possibilita que o texto caminhe para algum lugar, a uma definição; o problema, no caso, é a jornada. “La Casa de Papel” se repete e mostra que sua fórmula está esgotada.
Enquanto o assalto e a perseguição continuam funcionando bem, todo o drama pessoal de Tóquio (Úrsula Corberó), Rio (Miguel Herrán), Denver (Jaime Lorente) e Estocolmo (Esther Acebo) é insuportável. As discussões sobre relações e traumas, algo recorrente nesta temporada, serviriam para humanizar os personagens, mas o comportamento de adultos no meio de um assalto não pode se assemelhar ao de jovens em “Malhação”. A necessidade de não só manter “vivo”, mas também mitificar Berlim (Pedro Alonso) também atrapalha a narrativa com flashbacks cansativos e que pouco acrescentam. O roteiro ainda depende muito de equívocos e burrices de determinados personagens para caminhar, ou seja, força todas as situações para chegar aonde deseja.
Uma vantagem para a quarta temporada é o fato de já conhecermos os personagens e ainda assim sermos surpreendidos por eles. O roteiro consegue tirá-los de suas zonas de conforto e os forçar a agir de outra maneira - não basta mais apenas reagir ou apenas planejar. Essa mudança na dinâmica confere ares de novidade à trama, assim como o ritmo mais cadenciado dos primeiros episódios.
Claro que toda a ação que marcou a série ainda está presente, mas ela demora para se tornar o foco principal, e isso não é um problema. Os três primeiros episódios gastam seu tempo com calma para construir o novo cenário e mexer as peças no tabuleiro e colocar praticamente todos os personagens no meio do caos. É na segunda metade da temporada que o jogo começa a acelerar.
“La Casa de Papel” tem um nível de produção técnica absurdo, com fotografia e efeitos de cinema, mas opta pela narrativa seriada de televisão, uma estética mais densa, mas uma linguagem de entretenimento. A série também tem atores já confortáveis nos papéis, mas ainda capazes de entregar novas camadas de seus personagens.
Apesar dos problemas de roteiro, que não são nenhuma novidade, “La Casa de Papel” continua sendo aquela série que pegou o mundo de surpresa em 2017 misturando ação, filmes de assalto uma pitada de dramalhão mexicano. O que funcionava na época continua funcionando, mas a série peca, em seu final, por não ser tão conclusiva - há rumores de que já foi renovada por mais duas temporadas. Por mais que a temporada ensaie caminhar para dar um fim definitivo à trama, como foi prometido, ela acaba refém de ganchos para novos episódios.
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