A influência do Império Britânico na África do Sul vai muito além da imposição da língua inglesa para suprimir os diversos dialetos falados pelas tribos originárias de lá. Os britânicos impuseram costumes, leis e regras de comportamentos que até hoje são tratadas como vigentes no país africano.
“Labirinto do Medo”, série sul-africana lançada pela Netflix, é um exemplo dessa influência. Com formato que faz lembrar obras da TV britânica como “Doctor Who”, “Torchwood”, “Truth Seekers”, “Luther” e principalmente “Shadow”, a série mistura o formato procedural, de um caso por episódio, com uma narrativa principal.
A série conta a história do escritor Will Stone (Anthony Oseyemi), um autor best-seller que fez carreira com livros sobre os casos sobrenaturais solucionados por ele. Depois de anos na Inglaterra, Will volta à sua pátria natal para alguns eventos e para buscar novos casos, mas também para se resolver com seu passado. Logo de cara, sua ajuda é solicitada por Kelly (Shamilla Miller), uma popular influenciadora digital que se deparou com um “fantasma” durante a gravação de um vídeo. Aos dois logo se soma Joe (Rea Rangaka), um ex-policial contratado pela editora para acompanhar Will, afinal, “na África, os fantasmas seriam os menores dos problemas dele”.
O primeiro episódio já entrega a dinâmica da série e funciona para estabelecer o trio de protagonistas. Tal qual o Doutor em “Doctor Who”, Will tem suas companhias com funções pré-estabelecidas na narrativa. Joe é o alívio cômico, o sujeito que não acredita em nada daquilo e de repente se vê no meio ao desconhecido. Já Kelly funciona como o coração da série e o ponto de equilíbrio que conecta Will à realidade, não deixando ele se perder em seus problemas regressos.
Apesar do nome, “Labirinto do Medo” tem pouco, bem pouco, de terror. A narrativa da série se aproxima muito das já citadas “Doctor Who” e “Truth Seekers” e até de “Arquivo X”, com o grande arco sendo desenvolvido enquanto os casos episódicos são solucionados. Há na série problemas graves de roteiro, com todos os episódios funcionando quase sempre da mesma forma: caso apresentado, equipe chega no local, Will entende o que está acontecendo, uma ou outra correria, caso solucionado e uma lição para o escritor ao fim.
“Labirinto do Medo” ainda assim tem bons momentos. A série explora o riquíssimo folclore africano, lendas e mitos das tribos de outrora para criar o universo que às vezes se aproxima do cinema de terror europeu, mas nunca se aprofunda em uma ou outra história, justamente o contrário.
O arco central da série é o resgate do que aconteceu com a irmã de Will, algo pelo que ele ainda hoje se culpa. É também neste arco que “Labirinto do Medo” encontra seu ponto fraco: as coincidências. O texto até tentar justificar os acasos com narrações em off do estilo “as coincidências são mesmo aleatórias?”, mas se perde na maneira como liga tudo, principalmente no episódio final, ao tentar encontrar funções e justificativas para tudo o que foi visto até aquele momento.
A série funciona bem como uma história de arco fechado, mas também oferece muitas possibilidades a partir da conclusão daquela história. “Labirinto do Medo” é bem melhor quando abraça o procedural e não tenta conectar tudo de forma abrupta. As lendas africanas são infinitas e podem funcionar como uma trama própria, não apenas como recheio para o arco principal.
Ao fim, “Labirinto do Medo” não entrega o que promete, ou seja, medo. A série sul-africana da Netflix funciona mais como uma espécie de “Castle” sobrenatural do que como uma obra de terror. Vale ressaltar, porém, que, superando o texto ruim e as coincidências, a série entrega alguns episódios bem interessantes - seu problema é quando tenta linkar tudo em uma grande narrativa e aposta em uma reviravolta digna de “Scooby-doo”.
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