Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Little Fires Everywhere", no Amazon Prime, é drama imperdível

Adaptação do livro "Pequenos Incêndios por Toda Parte", minissérie disponibilizada pelo Amazon Prime Video provoca nossos próprios preconceitos ao contar um drama cheio de relações humanas e suspense

Publicado em 26/05/2020 às 20h52
Atualizado em 26/05/2020 às 23h14
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Série "Little Fires Everywhere". Crédito: Amazon Prime Video/Divulgação

Um pequeno incêndio talvez seja possível de ser combatido, mas já tentou combater vários pequenos incêndios ao mesmo tempo antes que ele se tornam um grande problema? Adaptada do livro “Pequenos incêndios por toda parte”, de Celeste Ng, a série “Little Fires Everywhere” (que chegou com título original por aqui) está disponível no Amazon Prime Video desde a última sexta (22).

Lançada nos EUA pelo Hulu, a série produzida por Reese Witherspoon e Kerry Washington também tem as duas como protagonistas. Logo nas primeiras cenas já encontramos a casa de Elena (Reese WItherspoon) em chamas - quem seria o responsável? Um policial explica ser difícil saber, pois havia “pequenos incêndios em todas as partes”. O nome da série é explicado com menos de três minutos.

O que vamos conhecendo a seguir nos outros episódios são as entranhas da família de Elena na pequena cidade de Shaker Heights, uma família modelo em um modelo clássico de subúrbio americano. Elena é casada com Bill (Joshua Jackson), com quem tem quatro filhos, Lexie (Jade Pettyjohn), Trip (Jordan Elsass), Moody (Gavin Lewis) e a “problemática” Izzy (Megan Stott), que sofre para se manter dentro dos padrões da família modelo.

O conflito na trama é gerado pela chegada à cidade de Mia Warren (Kerry Washington) e sua filha, Pearl (Lexi Underwood). Uma artista em busca de inspiração, mas com pouquíssima grana, Mia acaba se tornando inquilina de Elena. Ao mesmo tempo, Pearl se torna amiga dos jovens da família Richardson e uma trama sobre relações humanas e maternidade está estabelecida.

“Little Fires Everywhere” é construída no esterótipo de “white savior” de Elena, que insiste em ter Mia por perto para “dar um jeito” na vida da artista. As duas personagens, a princípio, irritam, assim como os adolescentes. Aos poucos, porém, a série solidifica as relações de uma maneira estranha, mas eficaz. Pearl vê nos Richardson toda a estabilidade e o conforto que nunca pode ter ao lado da mãe, enquanto Izzy encontra em Mia um espelho para suas aspirações artísticas.

Em determinado momento, o “whodunit”, ou seja, a busca por quem incendiou a casa, deixa de ser o foco principal. O roteiro se preocupa em desenvolver os conflitos entre os personagens e em mostrar que qualquer um deles pode ser o responsável pelo incêndio. O texto aborda muito temas como maternidade, culpa, projeção e privilégios.

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Série "Little Fires Everywhere". Crédito: Amazon Prime Video/Divulgação

Fosse desenvolvida de outra forma, “Little Fires Everywhere” seria apenas um sub-”Big Little Lies”, mas as atuações e a qualidade do material original afastam essa possibilidade. Assim, o suspense permanece lá, mas cede espaço às relações humanas. Mesmo com o conflito entre Mia e Elena sendo a força motriz da série, ela consegue trazer boas tramas para os adolescentes e até um pouco de brilho para o esquecido Bill.

O roteiro cria pequenos clímax para cada núcleo, o que permite que seus oito episódios sempre sejam interessantes para a audiência. A narrativa ainda é esperta o suficiente para enganar o espectador, brincando com nossas expectativas e com nossos próprios preconceitos.

O formato de minissérie oferece à atração um ponto de partida e uma linha de chegada já estabelecida, eliminando a sensação de que o espectador será enrolado o que irão deixar para solucionar tudo na próxima temporada- vale lembrar que “Big Little Lies” também era uma minissérie, mas isso não impediu a HBO de produzir uma segunda temporada.

“Little Fires Everywhere” é tudo o que se espera de uma série de canal fechado/serviço de streaming. Tem bom texto e se sustenta em grandes atuações para contar uma história sobre culpa, arrependimentos e escolhas - é uma das séries que precisam ser vistas em 2020.

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