Algumas histórias não precisam ser revolucionárias, inovadoras ou super diferentes para atingirem seu público, muito pelo contrário. Ao trazer fórmulas conhecidas e clichês esperados para o texto, filmes e séries trazem também o conforto que esses recursos geram. É o caso, apenas para falarmos de obras recentes, do sucesso “Arremessando Alto”, com Adam Sandler, ou da série “Black Bird”, da AppleTV; nem o filme nem a série reinventam uma fórmula, mas ambos fazem uso dessas fórmulas para contar uma boa história.
É também o caso de “Live is Life”, filme espanhol lançado no Brasil pela Netflix, um drama adolescente de autodescobertas em meio a aventuras de um dia inesquecível de verão. Rodri (Adrián Baena) é um jovem estudante que só se preocupa em escapar dos valentões de sua escola. No último dia de aula, ele sai direto de sua fuga diária para uma viagem com os pais para a Galícia, onde passará o verão na casa dos avós.
Na Galícia, ele também reencontra um grupo de fiéis amigos, mas este ano as coisas estão diferentes - um amigo está às voltas com o tratamento para um agressivo câncer e o pai de outro está em coma após um acidente. Por isso, eles decidem ir em busca de uma flor de propriedades mágicas capaz de restaurar a saúde de quem a ingerir.
A aventura não demora para começar e vamos conhecendo os jovens durante ela, cada um com uma personalidade distinta e arcos próprios, todos com sua chance de protagonizar um momento naquela jornada por cenários lindíssimos e viradas formulaicas que colocam o texto e os personagens em movimento.
É interessante como “Live is Life” usa os clichês de forma inteligente para criar bons dramas. Em meio a brigas com os valentões da região, revelações, descobertas e conquistas, uma história típica de clássicos da "Sessão da Tarde" como “Conta Comigo” (1986) ou “Goonies” (1985), os jovens lidam com a realidade - a proximidade da morte, a esperança por dias melhores e, principalmente, o processo de amadurecimento, o abandono da infância e a chegada de uma fase de decisões, vitórias e derrotas.
Mesmo com algumas boas viradas e bons alguns bons arcos, “Live is Life” não se destaca pela originalidade. O filme demora para engrenar alguns conflitos e alguns deles, principalmente o arco dos valentões, é repetitivo. É muito curioso, assim, como o texto consegue aproveitar esse arco no clímax do filme de maneira interessante que garante o ápice emocional da trama mesmo que esse clímax pareça relativamente deslocado do tom do resto do filme.
“Live is Life” é surpreendente por sua simplicidade, por dar valor ao que importa e utilizar os clichês não como muletas, mas como recursos para o conforto. O filme de Dani de la Torre é uma aventura divertida, com boas piadas e muita cumplicidade entre os personagens, mas é principalmente um filme sobre ser obrigado a envelhecer e entender a vida sob outra perspectiva. Uma boa surpresa.
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