A poesia de Lívia Corbellari é dura, crua e por vezes cruel com seu leitor. Cruel pois, com poucas palavras, Lívia mostra uma realidade, desperta sensações e faz aflorar sentimentos que às vezes o leitor nem sabia ter.
Em "Carne Viva", seu livro de estreia que tem lançamento às 19h desta quarta (06) na Cervejaria Mula Ruge, no Centro de Vitória, Lívia reúne poesias de diferentes estilos e escritas em momentos distintos, mas todas condizentes com o título do livro. Há poemas mais ritmados, que lembram canções ("ritmo é a base da poesia", explica), mas também há mini-prosas, como trechos de uma crônica.
Jornalista formada pela Ufes, Lívia nasceu na Bahia, em 1989, mas mora no ES desde 1996. Ela faz parte do núcleo editorial da "Revista Trino", publicação sobre literatura brasileira contemporânea, e mantém o projeto literário "Livros por Lívia". Confira abaixo entrevista com a escritora.
Fazendo uso de suas próprias palavras, "por que a poesia se ninguém se move"?
Vixe (risos)... É a forma que encontrei de linguagem. Tenho muita essa coisa de recortar, o livro é pequeno, os poemas são todos curtos, e achei que a poesia seria a melhor forma de chegar aos temas que eu queria, de abordá-los de forma mais direta. Por mais que muita gente tenha essa dificuldade com a poesia, acha difícil, que não compreende, prefere um romance, uma narrativa linear, acho que esses temas abordados por mim, a questão do corpo, da violência, do desejo, do prazer, da dor... Pela poesia eu consegui me expressar da forma mais direta, mais crua...
Os textos já existiam antes do conceito, do tema central?
Alguns. Tudo começou em 2015, no Cronópio, um grupo de discussão literária que com orientação do Erly Vieira Jr. na Ufes. Eram reuniões semanais e tínhamos a obrigação de toda semana levar um texto novo, uma poesia, uma crônica, um conto, um pedaço de um romance... Muitos textos nasceram dali. Depois continuei escrevendo, mas sem a periodicidade, de forma bem menos organizada. Ano passado é que dei uma olhada no que eu tinha e vi que as coisas se comunicavam, até os poemas de 2018, 2019 tinham muito a ver com esses do começo, um ponto em comum, eles conversavam. Aí comecei a pensar no livro como um projeto, escolher os que iam entrar, os que ficariam de fora, a divisão em três partes ("Fluxo intenso", "Vias de fato" e "Mar Aberto") para deixá-lo o mais digerível possível. Depois que pensei no conceito eu ainda fiz alguns textos novos, alguns deste ano, mas já pensando num livro, no projeto, nas partes. Alguns eu já declamei em saraus, então algumas pessoas já conheciam. O Saulo Ribeiro (editora Cousa), inclusive, me conheceu por meio desses saraus. Participei de alguns da Cousa, e foi aí que começou essa conversa de lançarmos em parceria.
São textos muito pessoais?
Tem muita coisa minha, mas também tem muito de pessoas próximas a mim. É uma fagulha, essa coisa pessoal, de estar próximo, porque depois entra muita criação, essa minha coisa de sintetizar o texto, cortar, escolher as palavras, aí já vira outra coisa. Quem lê também vai enxergar outra coisa, então é difícil dizer se são pessoais porque tem uma criação muito intensa em cima. A poesia traz isso, não tem como fugir.
Lívia Corbellari
Poeta
"veias enferrujadas / sangue duro / corações engarrafados / tentamos negar nossas origens / mas o ódio e a mágoa são hereditários / ainda assim / é irremediável amar / e eu não sei fingir igual a minha mãe / e a mãe dela / mas você sabe machucar / igual ao seu pai / e o pai dele"
No olhar de um leitor leigo, achei uma pegada meio musical, com ritmo de letras...
Me falaram isso também (risos). Não foi uma intenção minha, mas claro que poesia é o ritmo, mas já me falaram isso e achei bem legal. Trabalho muito o ritmo, a escolha das palavras, tudo isso, então a experiência que com a inspiração é a fagulha que vira outra coisa depois.
Também num olhar de leigo, o livro traz poemas estilos diferentes...
São umas experimentações que eu tava fazendo, mais uma prosa. São mais recentes. Achei que tinham a ver com o livro, então coloquei. Por ele (o livro) abranger um período longo, de 2015 a 2019, tem estilos diferentes mesmo.
Você consome muita poesia?
Gosto muito. Dos gêneros é o meu preferido. Estou sempre buscando poetas, mulheres e homens, novos. Gosto muito de saber o que pessoas da minha idade, da minha geração, estão escrevendo. Muita gente fala que quem escreve livros de poesia escreve para outros poetas, que só compra livro de poesia quem também é poeta, fica ali naquela bolha. É um pouco assim, mas a bolha está estourando um pouquinho. A Rupi Kaur, do "Outros Jeitos de Usar a Boca", estourou e quebrou alguns preconceitos de que poesia é difícil, a linguagem dela é supersimples.
Tem também o cara do "Eu Me Chamo Antônio" (Pedro Gabriel)...
É! Tem ele também. Começou no Instagram e estourou. A poesia está encontrando um público novo na internet.
LANÇAMENTO DO LIVRO "CARNE VIVA", DE LÍVIA CORBELLARI
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- Onde: Cervejaria Mula Rouge. Rua Doutor Azambuja (Cruzamento com Gama Rosa), Centro, Vitória.
- Quando: 06/11 (quarta-feira), a partir das 19h.
- Entrada gratuita. O livro será vendido por R$ 20.
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