“Lov3”, nova série brasileira da Amazon Prime Video, começa meio de supetão, com Ana (Elen Clarice), Beto (João Oliveira) e Sofia (Bella Carneiro) em um diálogo pela metade, como se ligássemos a televisão com o filme já em andamento. A impressão não é de toda errada, pois acompanhamos apenas um recorte da vida dos três, as semanas que sucedem a separação dos pais do trio. “A série surgiu da necessidade de falar sobre os novos modelos e formatos de relacionamentos e como eles redefinem a convivência e a experiência entre os jovens”, explicou o diretor Felipe Braga, cocriador do projeto.
Demora um pouco para que a série se livre dessa impressão incial, mas vamos gradualmente conhecendo os protagonistas e nos aproximando deles. Ana, tal qual a mãe (para seu desespero), está em um processo de separação e curtindo a recém-adquirida solteirice, mas acaba se reaproximando do ex-marido em uma relação aberta. Já Beto sofre não para se reconhecer como gay, mas para se sentir querido; o jovem só se relaciona com homens que se dizem héteros e que o dispensam logo depois, o que causa um estrago em sua autoestima. Sua irmã gêmea, Sofia, acaba de ser demitida mais uma vez e acaba dividindo o teto com um trisal que não a reconhece exatamente como parte da relação. Todos têm problemas em “Lov3” e buscam o autoconhecimento de maneiras diferentes.
A série, com episódios dirigidos por Mariana Youssef, Gustavo Bonafé e Felipe Braga, inicialmente gira em torno do sexo em sequências bem filmadas e que ajudam a entender a personalidade de cada irmão. “Lov3” nunca torna um ou outro relacionamento como o padrão a ser seguido e consegue discutir de maneira interessante questões como monogamia e poliamor com a mentalidade de que “na intimidade vale tudo”.
“Lov3” tem algumas influências claras, como a estética de “Euphoria”, mas entrega algo original. À sua maneira, a séria brasileira ultrapassa a questão meramente sexual de sua premissa quando entendemos que a sexualidade é parte essencial na construção da identidade. Nenhum dos três irmãos sabe ao certo o que busca, mas todos buscam se libertar de algo não necessariamente sexual - as relações são quase metáforas para amarras que impedem a total compreensão daquelas pessoas sobre quem eles são e quem querem ser.
A relação de Sofia com o trisal, por exemplo, é tratada com naturalidade. “Mostrar essa pluralidade de milhões de maneiras de sentir tesão e amar é muito importante para que todo mundo se reconheça em suas preferências sem discriminação”, disse Bella Carnerio na coletiva de lançamento da série. Elen Clarice completa: “sempre acreditei em várias formas de se relacionar e tudo é possível numa relação quando se tem diálogo”.
Já João Oliveira destacou todo o afeto da série nesse cenário ainda pandêmico de distanciamento. “Depois de um ano e meio de pandemia, encontrar essas pessoas e amá-las diariamente refletia esse aprendizado de ver as diferentes formas de amor e afeto”, disse.
O sexo é tão importante na narrativa que a série teve um “coordenador de intimidade” no set, cargo comum às produções internacionais, mas nem sempre presente por aqui. Assim, as cenas de sexo são variadas e sempre naturais, alternando entre algumas mais sensuais e outras de pura intimidade. “Lov3” normaliza corpos e comportamentos sem julgamento e quase sempre sem erotizar as relações.
Gravada e ambientada no período pandêmico que ainda vivemos, a série, assim como “Desjuntados” e “Manhãs de Setembro”, foi gravada no Uruguai. Mesmo que a história se passe em São Paulo, e é possível reconhecer alguns cenários de Montevidéu na série. A primeira temporada tem seis episódios de cerca de 30 minutos que proporcionam um consumo rápido, mas deixam um gancho para ser explorado em uma possível segunda leva de episódios.
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