Criado pelo escritor Maurice LeBlanc em 1905, o “ladrão gentil” Arsène Lupin protagonizou diversas aventuras até a morte de LeBlanc, em 1941. Misterioso, mas cheio de charme, disfarces e um senso de justiça impecável, Lupin chegou a antagonizar Sherlock Holmes, mas Arthur Conan Doyle não gostou da brincadeira do autor francês, que então mudou o nome de sua versão do “melhor detetive do mundo” para Herlock Sholmes - nada sutil.
A obra de LeBlanc é ainda hoje admirada e levada a outras mídias. Em 2004, Romain Duris viveu o ladrão no irregular “Arsène Lupin: O Ladrão Mais Charmoso do Mundo”. Em 2020, foi lançado “Lupin III: O Primeiro”, filme em animação com as aventuras do neto de Arsène Agora, 8 de janeiro, início de 2021, chega à Netflix “Lupin”, série francesa que não conta a história do ladrão, mas o homenageia com a devida reverência.
Em apenas cinco episódios na primeira parte (a Netflix tem chamado assim), “Lupin” conta a história do imigrante senegalês Assane Diop (Omar Sy, de “Intocáveis”). Após uma pequena apresentação do personagem, o primeiro grande roubo já está em planejamento; Assane pretende roubar um colar que pertenceu à rainha. Entre ideia e execução, tudo acontece muito rápido, mas é após o roubo que o roteiro desenvolve seu personagem para o público. A escolha parece estranha e atropelada no início, mas logo tudo começa a se encaixar, peça por peça, como em um elaborado plano de Arsène Lupin.
A narrativa se desenvolve intercalando flashbacks de diferentes momentos da vida de Assane e os acontecimentos pós-roubo. Gradualmente vamos entendendo suas motivações, seu modo de agir e, principalmente, quem são as pessoas ao seu redor. Ao mesmo tempo, vamos acompanhando a investigação policial que não chega a lugar nenhum até que um policial, fã de Arsène Lupin, identifica no roubo elementos dos livros de Maurice LeBlanc.
Criada e roteirizada por George Kay (“Killing Eve” e “Criminal”), a série tem, em sua primeira parte, episódios dirigidos por Louis Leterrier (“Truque de Mestre”) e Marcela Said (“Narcos México”). Leterrier empresta à série seu conhecimento em filmes de truques para encantar o espectador, mas ao invés da grandiosidade dos filmes dos mágicos estrelado por Jesse Eisenberg e cia., “Lupin” é intencionalmente menor, recorrendo à simplicidade dos truques e disfarces do ladrão para criar seus planos elaborados e às vezes divertidamente absurdos.
Um dos grandes méritos da série é o carisma de Omar Sy. O ator francês convence tanto quando precisa ser físico (do alto de seu 1,90m), em boas cenas de ação, quanto quando a cena requer recursos dramáticos. Mesmo meio absurdo, o texto é inteligente o suficiente e tira bom proveito do ator. O interessante é que vamos descobrindo parte do mistério ao mesmo tempo que o personagem, amarrando as pistas que Assane descobre a cada episódio.
O roteiro também acerta ao atualizar Arsène Lupin sem mexer em nada de seu legado. O ladrão está em todos os cantos do texto, mas como uma ideia, um norte para Assane, que tem com o personagem uma fonte de ligação com o falecido pai. Da mesma forma, Assane desperta no filho a paixão pelo ladrão criado por LeBlanc - Arsène Lupin se torna uma ideia e viverá para sempre na cultura francesa.
“Lupin” é ágil, divertida e deve cair no gosto do público. Os episódios têm arcos relativamente fechados, como as aventuras do personagem que homenageia, mas a série tem uma trama maior e mais intrincada que atravessa toda a temporada. Seu único problema é sua curta duração - os cinco episódios da primeira parte parecem servir como um prelúdio para algo maior e muito mais complicado para Assane. A notícia boa é que a segunda parte já foi filmada; a ruim é que ainda não há uma data de lançamento confirmada pela Netflix.
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