Em determinado momento de “Mãe x Androides”, um programador explica à Georgia, personagem de Chloë Grace Moretz, como os robôs do filme se rebelaram contra a humanidade e “hackearam” o sistema humano. A jovem questiona como, afinal, eles poderiam hackear a raça humana. O misterioso Arthur responde “Amor. Eu sei que parece idiota, mas é o que é. Seres humanos são programados por meio de hormônios e instintos”. A tentativa do diálogo soar inteligente e profundo é nítida, assim como todo o resto do filme escrito e dirigido por Mattson Tomlin e lançado pela Netflix, mas mostra o quão brega e superficial é “Mãe x Androides”.
O filme acompanha Georgia (Moretz), uma jovem estudante que se descobre grávida antes de partir para uma festa ao lado namorado, Sam (Algee Amith). A jovem nem sabe se quer ter a criança ou até mesmo continuar o namoro, mas tudo isso vira um detalhe quando androides garçons da festa em que se encontrava se rebelam e atacam os humanos sem qualquer explicação - o diálogo que abre este texto é o mais perto que o filme chega de explicar. A falta de uma explicação não seria necessariamente um problema se o filme fosse ao menos razoável, mas ele não é.
Após a apressada introdução, somos levados a cerca de nove meses adiante, com Georgia prestes a ter o filho e vivendo acampada com Sam no meio de uma floresta. Com a iminência do parto, eles resolvem enfim buscar um lugar seguro para que a jovem possa dar à luz. Sam quer chegar a Boston, de onde sai um barco de resgate que os levará à Coreia, e tomará toda decisão equivocada possível para manter a trama em movimento.
Em vários momentos, Georgia e Sam estão em segurança, mas uma decisão estúpida de Sam os coloca em movimento. É difícil entender o porquê de o casal esperar tanto para buscar um lugar seguro ou o motivo de adiarem a ida a Boston por tanto tempo, mas isso não importa para “Mãe x Androides”, um texto que tenta surpreender, mas se sustenta em clichês mal realizados do gênero que tiram do filme qualquer possibilidade dele ser levado a sério.
O filme de Tomslin não se preocupa em fazer sentido. Em um primeiro momento, diz que as armas de fogo são inúteis contra os androides, mas, em outro, eles são “mortos” com tiros de pistolas. O roteiro tenta construir alguma tensão, mas sempre opta por “apagões” na narrativa. Por exemplo, Sam, por mais uma decisão estúpida tomada, tem que brigar com um militar para conseguir uma carona. O diretor, então, opta por ir direto para as consequências da luta que tem Sam como vencedor, uma ideia difícil de comprar, pois o texto nunca o desenvolve como um lutador, pelo contrário, o personagem é mostrado como um jovem estudante ingênuo.
É irônico como uma comédia em animação como o espetacular “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” tem muito mais a dizer como drama familiar em meio a um apocalipse comandado pelas inteligências artificiais do que “Mãe x Androides”, uma obra que se leva tão a sério. O filme de Mattson Tomlin não se destaca em nada, com efeitos visuais comuns, um roteiro risível e diálogos constrangedores.
O filme até tenta, sem nenhuma sutileza, falar sobre as dificuldades da maternidade e das escolhas de uma mãe solteira, mas fica óbvio que Tomlin não entende do que escreve. O diretor/roteirista romeno, que diz ter feito metáforas no filme para contar sua história e a de seus pais, erra ao conferir a Sam praticamente todas as decisões importantes em uma trama sobre maternidade.
“Mãe x Androides” parece escrito por um amador e é difícil imaginar a Hulu, responsável pelo filme, aprovando o roteiro e o corte final. Os diálogos são constrangedores e pouca coisa faz sentido, das escolhas do casal (principalmente Sam) ao barco que sai de Boston para a Coreia. Ao fim, quando tenta emocionar, a sequência é quase risível e parece saída de uma sátira do gênero.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.