“Mask Girl”, nova série coreana da Netflix, nunca segue pelo caminho que se imagina, e isso é um grande mérito. Na verdade, quanto menos o espectador souber sobre a série, melhor será a experiência com ela – talvez seja até o caso de largar este texto, que não trará spoilers além da premissa, e retornar depois de ter assistido aos sete episódios que chegam à plataforma nesta sexta (18). Se tudo o que você que busca é uma ideia do que é o k-drama, lá vai: “Mask Girl” é um épico de vingança violento, com bons personagens e excelentes surpresas.
Adaptada do webtoon (quadrinhos publicados na internet) homônimo de Mae Mi, “Mask Girl” é inicialmente a história de Kim Mo-mi, uma jovem que, quando criança, sonhava com o estrelato e se imaginava como uma grande estrela da música coreana. A puberdade veio, porém, e não foi bondosa com Mo-mi, que se tornou uma adolescente esquisita e uma adulta fora dos padrões de beleza socialmente impostos. Aos 27 anos, Mo-mi leva uma vida dupla entre um trabalho burocrático num escritório e shows sensuais (para os padrões asiáticos) de dança com uma máscara como a popular Mask Girl.
A protagonista nutre uma paixonite por um colega de trabalho e é “vigiada” por outro, que ela nem sabe ser um solitário fã da Mask Girl. A princípio, a série parece ser um drama com algumas doses de comédia e suspense, a história da jovem que leva uma vida cheia de segredos. O primeiro episódio segue nesse tom, com uma pegada mais tensa e sensual do que o habitual nos dramas coreanos, mas também numa estrutura convencional e sem muitas surpresas.
“Mask Girl” opta por uma estrutura narrativa interessante, com cada episódio contando a história de um personagem a partir do ponto de vista dele. Assim, o texto desenvolve esses personagens e dá a eles uma profundidade inesperada e essencial para o decorrer da série e de seus desdobramentos. O segundo episódio, por exemplo, é contado por Joo Oh-nam (Ahn Jae-hong), o tal colega de Mo-mi fã da Mask Girl, e a simpatia que sua história desperta no espectador é importante para que a virada que vem a seguir tenha o impacto desejado.
Essa alternância de protagonistas nos sete episódios da série indica também tons diferentes à série. Há comédia, suspense, drama e até elementos de terror ao longo dos sete episódios que às vezes se prolongam demais. De forma natural, “Mask Girl” lida com a violência de gênero, a obsessão, a pressão por padrões estéticos, o comportamento masculino tóxico em sociedade funcionando como um organismo doente.
“Mask Girl” é um grande épico de vingança ao melhor estilo da trilogia de Park Chan-wook (“Sr. Vingança”, “Oldboy” e “Lady Vingança”), uma referência óbvia para a série. A comparação ao trabalho de Chan-wook se reforça com o trabalho da designer de produção Ryu Seong-hie, colaboradora habitual do cultuado cineasta e responsável pelo design de produção de filmes como “A Criada” e “Decisão de Partir”.
A jornada tem início em 2009, com a história de Mo-mi, mas se desenvolve até 2023 – essa construção narrativa da vingança, representada até mais por Kim Kyung-ja (Yeom Hye-ran) do que pela suposta protagonista, é a peça principal da série. Essa dualidade de protagonismo também ajuda na imprevisibilidade do texto, pois o desfecho pode seguir qualquer caminho, e isso é ótimo para um suspense. Quando a série se encaminha para seu fim, o espectador é surpreendido com o sentimento de talvez não gostar da protagonista, não torcer por ela.
Uma ótima surpresa no catálogo da Netflix, “Mask Girl” não é seu drama coreano habitual. Com forte conteúdo sexual, violência e muito sangue, a série se afasta da ingenuidade dos k-drama e dos doramas que fazem sucesso na Netflix. Se por um lado isso pode afastar um público já cativo, por outro abre possibilidades e ganha abrangência ao atingir um público às vezes resistente às obras coreanas.
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