É uma pena que o trocadilho do título original de “Meus Sogros Tão Pro Crime” não funcione no título brasileiro. Originalmente chamado “The Out-Laws” (uma grafia diferente para “fora da leis”, o título faz trocadilho com “The In-Laws” (“sogros”) e pode até não ser um jogo de palavras dos mais geniais, mas é a melhor coisa do filme lançado pela Netflix.
Antes mesmo do início do filme, há praticamente um aviso quando a logomarca da Happy Madison aparece durante os créditos iniciais – a empresa fundada por Adam Sandler é a produtora de quase todos os filmes do ator, principalmente os piores. Não é difícil, assim, prever o tom do filme dirigido por Tyler Spindel, do no máximo razoável “A Missy Errada”.
Às vésperas de se casarem, Owen (Adam Devine) e Parker (Nina Dobrev) recebem a boa notícia de que os pais dela, Billy (Pierce Brosnan) e Lilly (Ellen Barkin), que vivem há anos em uma reserva indígena isolados do mundo, irão ao casamento. Owen ainda não conhece os sogros, que chegam de surpresa alguns dias antes da festa, mas com seus próprios planos. Acontece que o noivo é gerente de um banco e Billy e Lilly, quem diria, são uma lendária dupla de ladrões que precisam de dinheiro para pagar a mafiosa Rehan (Poorna Jagannathan, de “Eu Nunca…”, com um terrível sotaque do Leste europeu).
O desenrolar do filme oferece poucas surpresas e um humor de gosto bem duvidoso. “Meus Sogros Tão Pro Crime” talvez funcione para os fãs das comédia de Sandler ou para os saudosos de comédias noventistas como “American Pie”. O filme, na verdade, parece feito para esse público, com referências a filmes e estrelas do esporte da época, bandas como Blink-182 e muitas piadas de teor sexual que parecem escritas pelas versões de 20 anos de Mark Hoppus e Tom DeLonge.
A única diferença para os filmes da época é que, por estar em uma plataforma de streaming e não em uma sala de cinema com séries restrições etárias, o filme se permite ser um pouco mais violentamente explícito, mas nada, absolutamente nada que não tenha sido feito melhor. O filme da Netflix até se encaixa na tendência da morte sem peso, com figurantes e alguns coadjuvantes sendo mortos por mero entretenimento – até mesmo quando o ingênuo bobalhão Owen mata uma pessoa, isso não o afeta de forma alguma, pelo contrário, ele dá risada.
O filme tem algumas “boas” (as aspas são importantes) sequências de ação para o gênero, deixando a impressão de que foram concebidas antes mesmo de qualquer texto. Ainda assim, é perceptível a falta de cacoete de Tyler Spindel para filmá-las. O diretor nunca leva suas cenas de ação a sério, com cortes rápidos e pouco fluidez. Ainda assim, a vontade de ser uma comédia de ação compromete o desenvolvimento de personagens e relações.
“Meus Sogros Tão Pro Crime” sofre com seus personagens nunca críveis. Owen é um adulto bobão que parece preso na adolescência, já Parker quase não tem espaço no texto, servindo apenas para movimentar o roteiro de um lado para outro e para algumas piadas repetidas sobre sua profissão. Neste cenário, o veterano Brosnan se sai melhor, com as poucas boas piadas do filme, mas Barkin, apesar de uma ou outra boa cena, é tão subaproveitada quando Dobrev.
Ao fim, “Meus Sogros Tão Pro Crime” pode até funcionar para um nicho de homens héteros saudosos dos anos 1990, com piadas sobre sexualidade, alguns conceitos ultrapassados, uma coadjuvante que faz tudo enquanto geme… Se essa é sua praia, boa diversão, mas isso não faz do lançamento da Netflix um bom filme.
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