Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

Mistério e sexo são o segredo do sucesso de "Yellowjackets"

Série lançada pelo Paramount+ conta a história de um time de futebol feminino que sobreviveu a um acidente de avião, mas não escapou dos traumas causados por ele

Vitória
Publicado em 21/12/2021 às 19h38
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Série "Yellowjackets", exibida pelo Paramount+. Crédito: Showtime/Divulgação

Ao assistir aos primeiros episódios de “Yellowjackets”, desisti de escrever sobre a série do Showtime lançada no Brasil pela Paramount+ pois ela parecia fadada ao cancelamento após a primeira temporada, algo imperdoável para uma trama de mistério. Para minha surpresa, a série caiu no gosto do público e foi renovada para uma segunda temporada. Aqui estou, então, tecendo palavras sobre ela.

“Yellowjackets” é a história de um time de futebol feminino que sobre um acidente aéreo a caminho de um campeonato. O avião cai em uma floresta e as meninas precisam se virar para sobreviver enquanto o resgate não chega. A narrativa alterna momentos pós-acidente com outros 25 anos depois, quando acompanhamos algumas delas adultas e vivendo suas vidas com as marcas adquiridas por tudo o que aconteceu na floresta.

A série mistura o drama das sobreviventes a jornadas de autoconhecimento e alguns mistérios, criando uma narrativa estendida sustentada por ganchos entre episódios, o que funciona em uma trama de episódios semanais. Como uma série de mistério, “Yellowjackets” seria bem consumida se disponibilizada toda de uma vez, mas talvez tivesse menos espaço para crescer sem o espaçamento entre os episódios.

É interessante perceber como a série criada por Ashley Lyle e Bart Nickerson passeia entre os estilos e também entre épocas. “Yellowjackets” se assemelha muito às séries lançadas nos anos 2000, quando se buscava um novo “Lost” e tramas com grandes mistérios a serem respondidos, mas aposta pesado na estética noventista e na estrutura narrativa das séries de TV aberta dos anos 2010, que inseriram elementos procedurais dentro de um arco maior.

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Série "Yellowjackets", exibida pelo Paramount+. Crédito: Showtime/Divulgação

O arco do passado não é muito distante de uma trama de “Malhação”, com as jovens e os poucos homens que estavam no avião em questões sobre amizade, sexualidade e relacionamentos. Em alguns momentos, inclusive, todos agem como se estivessem em uma grande colônia de férias no meio da natureza. Nesse arco, “Yellowjackets” lembra bastante a boa “The Wilds” ao misturar um drama de sobrevivência com toques de suspense às questões típicas da idade das personagens e também ao fazer as ligações entre as duas narrativas paralelas.

A série aproveita as liberdades do canal Showtime para caprichar na violência - há momentos bem gore - e permitir uma ou outra cena de sexo menos pudica. Aos poucos a série se aprofunda no psicológico das adultas, principalmente a frustrada dona de casa Shauna (Melanie Lynskey), Natalie (Juliette Lewis), uma punk recém-saída da reabilitação, e Taissa (Tawny Cypress), mulher negra e gay em uma disputa por uma vaga no Senado. Ainda há Misty (Christina Ricci), construída intencionalmente como esquista e dúbia pelo texto para que boa dose da desconfiança recaia sobre ela.

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Série "Yellowjackets", exibida pelo Paramount+. Crédito: Showtime/Divulgação

É curioso como o texto espera que o público releve alguns comportamentos das jovens - afinal, são adolescentes em situações limítrofes - e depois espera que façamos o mesmo com as personagens já adultas. “Yellowjackets” se sustenta sobre os mistérios de ambos os arcos e as viradas da trama, e é por isso que o roteiro gasta tanto tempo criando novas possibilidades e alimentando-as mesmo que seja apenas para abandoná-las em sequência.

Como uma série semanal, ela precisa dessas viradas para manter o interesse do público e fomentar teorias e discussões ao longo da semana, mas essa constante manipulação das expectativas também pode frustrar o espectador. O texto também requer que a audiência ignore suas muitas coincidências e as mudanças de comportamento que têm como único objetivo colocar a trama em movimento, um recurso de roteiros pouco criativos.

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Série "Yellowjackets", exibida pelo Paramount+. Crédito: Showtime/Divulgação

A série do Paramount+ é eficaz em construir mistérios e nos faz querer saber sempre mais. Em contrapartida, pelo menos até o sexto episódio da primeira temporada, a série é péssima em resolver qualquer coisa. O acúmulo de mistérios, alguns bem desnecessários, como o do filho de Taissa, incomoda e dispersa a atenção do público para os pontos fortes da narrativa.

Em um primeiro momento, o resultado da série é positivo e a vontade é de continuar assistindo, mas a questão é: até quando o público continuará se dedicando a uma trama se ela não caminhar? “Yellowjackets” precisa ter um rumo definido, uma quantidade máxima de episódios pensados para entregar recompensas e a sensação de que a trama vai a algum lugar. Caso contrário, a série poderá ficar conhecida por sua “enrolação” - suas similaridades com “Lost” pesam contra ela neste ponto.  

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