Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Mistério em Paris", da Netflix, diverte com charme de "gente como a gente"

Em continuação do sucesso "Mistério no Mediterrâneo", da Netflix, Adam Sandler e Jennifer Aniston acabam envolvidos em um novo crime

Vitória
Publicado em 31/03/2023 às 04h01
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Filme "Mistério em Paris", da Netflix. Crédito: Scott Yamano/Netflix

Três dias após ser lançado pela Netflix, “Mistério no Mediterrâneo” já havia sido assistido por quase 31 milhões de pessoas mundo afora. Goste ou não, Adam Sandler é um sucesso e parece ter encontrado no streaming um ambiente favorável a seus filmes, pois qualquer um em busca de uma comédia leve e sem grandes conflitos chega aos trabalhos de Sandler com pouquíssimos cliques na Netflix.

A baixa expectativa é tão latente que criou-se até conversa de Oscar para “Arremessando Alto”, um filme “diferente” e um pouco acima da média (para o ator). Fato é que, como produtor, Sandler tem seu público justamente por não ousar ou se arriscar; é na segurança e no charme de um cara comum que o ator tem seu nicho e gera identificação.

“Mistério no Mediterrâneo” é exatamente isso, um filme com um protagonista comum, um policial incapaz de se tornar detetive, casado com uma cabeleireira e com um casamento desgastado. Juntos, eles são colocados no meio de uma trama de muito luxo e assassinato na Europa e nunca são brilhantes em nada - é no lugar de pessoas como eu e você, com observações cotidianas que não fazem parte do universo bilionário do filme, que os personagens de Adam Sandler e Jennifer Aniston salvam o dia.

“Mistério em Paris”, continuação do sucesso de 2019, segue a mesma fórmula. Novamente dirigidos por Kyle Newacheck a partir do roteiro de James Vanderbilt, Sandler e Aniston voltam a viver Nick e Audrey em uma nova aventura que os tira do lugar comum. O filme tem início explicando o que aconteceu com o casal após o filme anterior - como desvendaram um assassinato, acharam que seria uma boa ideia abrir uma agência de detetives, mas o negócio não vai bem.

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Filme "Mistério em Paris", da Netflix. Crédito: Scott Yamano/Netflix

Quando são convidados para o casamento do velho amigo Marajá (Adeel Akhtar) com a linda Claudette (Mélanie Laurent), eles partem novamente para a Europa e reencontram personagens como o Coronel Ulanga (John Kani) e o inspetor Delacroix (Dany Boon), além, claro, de várias novas caras. Durante a festa, porém, as coisas saem do controle e o noivo acaba sequestrado, colocando Nick e Audrey novamente em meio à investigação de um misterioso crime com vários possíveis suspeitos.

Com 80 minutos de duração, “Mistério em Paris” não perde tempo com apresentações e é muito mais enxuto que seu antecessor, impedindo que o filme se repita com frequência, um dos erros do anterior. Isso, no entanto, não impede que o novo filme opte sempre pelo caminho mais seguro e siga a mesma estrutura do primeiro filme da série.

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Filme "Mistério em Paris", da Netflix. Crédito: Scott Yamano/Netflix

O roteiro não tem vergonha de forçar a barra para colocar o casal de protagonistas novamente como suspeitos do crime central da trama, mesmo que isso não faça sentido algum. O texto tem seus melhores momentos quando brinca com os clichês das histórias de detetives - o maior detetive do mundo, vivido no filme por Mark Strong, aparece repentinamente, saindo da água, ao melhor estilo “De Férias com o Ex” para assumir o caso.

“Mistério em Paris” até funciona como um filme independente, mas só será aproveitado na íntegra por quem assistiu ao filme anterior. Principalmente na dinâmica entre Adam Sandler e Jennifer Aniston, há algumas boas piadas e situações que remetem ao primeiro filme e talvez façam pouco sentido para que não viu “Mistério no Mediterrâneo”.

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Filme "Mistério em Paris", da Netflix. Crédito: Scott Yamano/Netflix

Sandler e Aniston são bons como um casal tipicamente americano, pessoas que não fazem ideia de como é a vida fora da bolha dos EUA e se complicam com diferenças culturais óbvias para a maioria do mundo. É novamente com essa característica de “gente como a gente” que Sandler faz valer seu carisma, dialogando com um público que o entende e que se identifica com ele. Aniston, talvez por seus anos de "Friends", também tem uma identificação facilitada com o público, principalmente quando Audrey reclama do comportamento do marido.

Em uma carreira longa e irregular como a de Adam Sandler, “Mistério em Paris” passa longe de ser ruim como “Cada Um Tem a Gêmea que Merece” (2011) ou bom como “Embriagado de Amor” (2002), mas tampouco tem o carisma de “Como Se Fosse a Primeira Vez” (2004). Fosse lançado nos cinemas, teria recepção morna de crítica e boa bilheteria, padrão na carreira de Sandler, mas se manteria em um nicho. Com o alcance da Netflix, Adam Sandler reforça seu papel de estrela global, mas não uma estrela inalcançável, e sim um sujeito que vai de moletom para a glamourosa estreia do próprio filme, como se fosse “um dos nossos” que venceu na vida.

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