A visível falta de intimidade entre Reese Witherspoon e Ashton Kutcher nos eventos de divulgação de “Na Sua Casa ou Na Minha” virou piada nas redes. Como, afinal, eles poderiam protagonizar uma comédia romântica se nem sequer conseguiam tirar uma boa foto juntos? Lançado pela Netflix, o filme dirigido e escrito por Aline Brosh McKenna é praticamente a solução para esse problema.
“Na Sua Casa ou Na Minha” é a história de dois melhores amigos, Debbie (Witherspoon) e Peter (Kutcher), que vivem, respectivamente, em Los Angeles e Nova York, ou seja, cada um em um lado dos EUA. O filme tem início em 2003, quando eles, quem diria, ficaram juntos por uma noite antes de cada um seguir seu rumo. É curioso como, já na cena inicial, fica clara a falta de química entre os protagonistas para funcionar como um casal, mas não demora para o filme saltar duas décadas e estabelecer a vida de cada um deles separados.
Após esse breve prólogo, o texto coloca Debbie às vésperas de uma viagem a Nova York para fazer um curso. Mesmo falando com Peter praticamente todo dia, eles não se veem há algum tempo. O filme é expositivo ao extremo ao explicar tudo o que aconteceu na vida deles nesses 20 anos. Debbie tem um filho adolescente, Jack (Wesley Kimmel), com o qual é superprotetora, e busca qualificação profissional para dar uma vida melhor a ele. Já Peter se tornou um muito bem-sucedido e disputado especialista em rebranding, um profissional que, mesmo muito cogitado por empresas, pula de consultoria em consultoria sem muito apego, assim como faz com mulheres na vida pessoal.
Um dia antes da viagem, porém, um imprevisto impede Debbie de viajar por não ter com quem deixar Jack. É quando Peter, entediado entre um emprego e outro, parte para Los Angeles para cuidar do filho da amiga enquanto ela vai para sua casa em Nova York fazer seu curso de qualificação.
“Na Sua Casa ou Na Minha”, apesar dos clichês, funciona bem quando mantém seus protagonistas separados. A relação de Peter com Jack é ótima, tirando o garoto da bolha de proteção imposta pela mãe; da mesma forma, na casa de Peter, Debbie conhece mais o amigo que insiste em fechar sua intimidade. O filme ainda introduz alguns coadjuvantes como Zen (Steve Zahn), que cuida do jardim de Debbie, e Minka (Zoe Chao), uma vizinha de Peter com quem Debbie desenvolve uma amizade instantânea. Ambos estão ali para fazer o roteiro se movimentar - Zen funciona como alívio cômico, enquanto Minka tem papel parecido, mas também ajuda Debbie a circular por NY.
É interessante ver como Peter e Debbie se completam à distância, e é assim que o texto constrói, na cabeça do espectador, a ideia de que vê-los juntos pode ser uma boa. Seguindo as fórmulas das comédias românticas, o filme de Aline Brosh McKenna constrói seus desencontros a partir das regras de Debbie para Jack, todas prontamente quebradas por Peter, e dos segredos de Peter, que sonhava em ser um escritor, mas abandonou o sonho ao se mudar para Nova York com um suposto medo dos terremotos da Califórnia.
Carregando no currículo roteiros de filmes como “Cruella”, “O Diabo Veste Prada” e “Compramos um Zoológico” (todos adaptações de livros), Aline Brosh McKenna não mostra tanta eficiência trabalhando com um texto original. “Na Sua Casa ou Na Minha” tem bons momentos, alguns bons diálogos e ideias que poderiam fazer o filme se destacar mais, mas falta dar ao texto um tratamento mais apurado dentro da fórmula e um pouco mais de peso às situações, algo que aproximasse os personagens do espectador. Debbie e Peter são exatamente o que você espera de Reese Witherspoon e Ashton Kutcher - ela é uma mulher bem resolvida, batalhadora, mas sonhadora, que fala sozinha enquanto faz caras e bocas para a câmera; já ele é um bonitão conquistador, carismático e engraçado. Falta profundidade a ambos e sutileza ao texto, que nunca deixa nada para a interpretação do público. É uma pena também que o tom de humor utilizado no prólogo e no epílogo permaneça restrito a esses dois momentos, sendo totalmente esquecido durante todo o resto do filme
Mesmo que Reese Witherspoon e Ashton Kutcher não funcionem tão bem juntos, eles continuam sendo dois rostos conhecidos e relativamente adoráveis em um filme confortável, uma trama “fofinha” que talvez seja o suficiente para despertar alguma identificação. “Na Sua Casa ou Na Minha” provavelmente encontrará seu público e terá uma boa audiência, pois as comédias românticas não precisam se esforçar muito para agradar. Se é entretenimento leve e totalmente descompromissado que você quer, o lançamento da Netflix pode ser uma boa opção.
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