Lançado em 2019 “Ne Zha” foi um grande sucesso. A animação foi a primeira chinesa a ser lançada em formato IMAX e se tornou a animação chinesa de maior bilheteria de todos os tempos e teve a maior arrecadação global para uma animação não americana - foram cerca de US$ 750 milhões, uma quantia de fazer inveja em grandes blockbusters de Hollywood.
Mas quem é Nezha? Nezha é uma entidade, um deus protetor do folclore budista chinês que tem a forma de uma criança travessa e muito poderosa. Sua história foi contada em diversas versões na cultura chinesa, tendo inspirado danças, filmes, séries e filmes como o sucesso de 2019, mas também como “New Gods: Nezha Reborn”, lançado pela Netflix na última semana.
A animação dirigida por Ji Zhao leva a Nezha para um cenário futurista com estética dieselpunk e coloca a entidade como protagonista de muita ação. O roteiro acompanha Li Yunxiang, um talentoso piloto de motos que ganha a vida fazendo entregas e em corridas clandestinas. O texto já é aberto com uma selvagem corrida, cheia de informação e acontecimentos simultâneos, momento em que somos apresentados ao protagonista que também age como um “herói” clandestino da sociedade.
Na cidade do filme, Donghai, a água se tornou tão valiosa quanto ouro. Ela é controlada pelo grupo familiar mafioso encabeçado por Amo De - quem tiver a água manda na cidade. O caminho do terceiro filho do chefão se cruza com o de Li e faz surgir no protagonista o espírito de Nezha.
“New Gods: Nezha Reborn” tem estrutura clássica de filme de heróis. Praticamente toda sua metade é desenvolvida na descoberta dos poderes e no treinamento de Li com um misterioso e divertido personagem mascarado. Toda a mitologia chinesa do roteiro é apresentada como um atropelo para o espectador que sabe pouco ou nada a respeito. É de se imaginar que a escolha por uma apresentação rápida seja simplesmente para dar dinâmica ao filme e não repetir uma história que todos já conhecem - seria como contar pela trocentésima vez a história do Tio Ben ou dos pais de Bruce Wayne.
O que se destaca em “New Gods: Nezha Reborn” são as sequências de ação, principalmente as de confronto direto entre deuses, e a ambientação. Aproveitando ao máximo as possibilidades da animação, as cenas de briga são criativas, coloridas e realizadas no estilo oriental, contando parte da história. As coreografias são ótimas, mas por vezes aceleradas demais. Nada que comprometa.
Já a cidade de Donghai é um mix de influências chinesas, na arquitetura, e americanas, principalmente nos veículos. É interessante também como o design de produção dá importância a peças de veículos, construindo cenários com eles e tratando-os até como certa homenagem, como se fossem guerreiros caídos - o que chega a fazer sentido se levarmos em consideração como Li constrói sua armadura. No universo criado para o filme, humanos e divindades dividem o mesmo espaço urbano, assim ninguém nem se assusta quando Li começa a evocar uma criança gigante em chamas.
Esteticamente impecável, “New Gods: Nezha Reborn” carece de profundidade. Como dito antes, pode ser apenas falta de conhecimento sobre o folclore abordado, mas, ainda assim, falta contextualização além da que nos é apresentada nos momentos que antecedem as batalhas ou pelo misterioso mascarado. O já citado “Ne Zha”, que não tem relação nenhuma com o lançamento da Netflix, ajuda a entender um pouco da cultura.
A narrativa de “New Gods: Nezha Reborn” se assemelha à de um jogo, com fases, subchefes e chefes a serem abatidos. Nenhum personagem é desenvolvido além do protagonista, o que faz com que nos importemos bem pouco inclusive com alguns que têm papel central no texto.
“New Gods: Nezha Reborn” é uma ótima diversão, um filme de ação e fantasia com sequências grandiosas de ação e um bom universo. Vale ressaltar que o filme tem três cenas pós-créditos que indicam a clara intenção de transformar tudo em uma franquia, num interessante universo compartilhado dos Novos Deuses.
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