Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Ninguém Pode Saber", da Netflix, é um bom suspense dramático

Minissérie lançada pela Netflix, "Ninguém Pode Saber" adapta sucesso literário em um bom trama elevado pelas ótimas atuações de Toni Collette e Bella Heathcote

Vitória
Publicado em 07/03/2022 às 21h50
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Série "Ninguém Pode Saber", da Netflix. Crédito: MARK ROGERS/NETFLIX

A escritora americana Karin Slaughter é um sucesso mundo afora com seus suspenses policiais que já fomentaram comparações com Gillian Flynn (“Garota Exemplar”) e Dennis Lehane (“Entre Meninos e Lobos”). Slaughter já foi publicada em mais de 120 países, inclusive o Brasil , mas, surpreendentemente, nunca havia tido uma obra adaptada para a TV ou para o cinema. “Ninguém Pode Saber”, lançada pela Netflix, é a primeira série a levar um livro da autora para as telas e só reforça a surpresa de isso não ter sido feito antes.

“Ninguém Pode Saber” usa o recurso do impacto inicial para prender o espectador, mas logo desacelera para um ritmo condizente com o gênero. A série tem início em um restaurante com uma conversa entre Laura (Toni Collette) e Andy (Bella Heathcote), mãe e filha, um papo sobre os rumos e as decisões de Andy, uma mulher solteira de 30 anos ainda sem uma carreira definida, que largou a universidade em Nova York para retornar à cidade natal.

Tudo muda quando um homem atira contra duas outras mulheres no estabelecimento e Laura, para proteger a filha, acaba salvando o dia de forma espetacular. Tratada como heroína pela imprensa e pelos moradores da pacata cidade, Laura teme a exposição, pois tem medo de que alguém de seu passado, um passado desconhecido pela filha, a encontre, o que não demora a acontecer. Mãe e filha então se separam em linhas narrativas diferentes que vão reconstruir o passado de Laura e fazer com que Andy e o público entendam o que está acontecendo ali.

Com oito episódios, “Ninguém Pode Saber” segue as regras do gênero sem grandes surpresas, mas se sustenta principalmente pelas atuações de Collette e Heathcote, que ironicamente pouco dividem a tela. A dinâmica entre Laura e Andy é estabelecida logo na sequência inicial e durante o primeiro episódio, mas depois elas seguem caminhos diferentes. Sob o comando da showrunner Charlotte Stouds, a diretora Minkie Spiro cumpre seu papel de maneira eficiente, respeitando o material original e tropeçando em algumas de suas muletas (principalmente com Andy), mas também entendendo que a série tem em suas protagonistas sua grande força.

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Série "Ninguém Pode Saber", da Netflix. Crédito: MARK ROGERS/NETFLIX

“Ninguém Pode Saber” faz escolhas narrativas interessantes, como não demorar para revelar mais sobre o segredo de Laura. Assim, ao invés de desenvolver toda revelação de maneira atropelada nos episódios finais, a série o faz de forma tranquila e sem pressa. Em determinado momento, acompanhamos flashbacks sobre o tal passado para entender quem são as pessoas perseguindo a protagonista - esse arco funciona também para despertar a simpatia do público com Laura e para entendermos suas escolhas.

A narrativa da linha do tempo no passado, mesmo conferindo profundidade a Laura, é mais utilizada do que deveria; gasta-se tempo demais nela para uma trama pouco movimentada e que ainda deixa alguns buracos na compreensão do espectador. O texto também subutiliza alguns coadjuvantes como Martin (Terry O’Quinn), o bilionário pai de Laura, e Jasper (David Wenham), irmão da protagonista, curiosamente dois personagens com posições importantes na trama, mas sobre os quais acabamos sabendo pouco. Além disso, acompanhar o crescimento das histórias de Laura e Andy no “presente” é muito mais interessante, tornando todo flashback um desvio de atenção.

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Série "Ninguém Pode Saber", da Netflix. Crédito: MARK ROGERS/NETFLIX

Refém do material original, o texto faz algumas escolhas questionáveis, mas nada do nível do péssimo “Naquele Fim de Semana”, que subestima a inteligência do espectador, ou da imaturidade juvenil de “Um de Nós Está Mentindo”, por exemplo A série está sempre em movimento e numa crescente constante apesar da desacelerada nem sempre bem-vinda após o primeiro episódio e pela incômoda quebra oferecida pelas diferentes linhas temporais.

“Ninguém Pode Saber” é um suspense nem sempre previsível conduzido por duas ótimas atuações que elevam o nível da série. A adaptação do livro de Karin Slaughter é uma das melhores séries do gênero justamente por não ser apenas um “whodunit” ou uma história dependente de suas reviravoltas, mas sim uma obra preocupada com seus personagens e com os desenvolvimentos deles.

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