Sabe aquele tropeço aleatório que te faz interromper a caminhada segundos antes de um ar-condicionado despencar onde estaria sua cabeça? Ou aquela panela que misteriosamente cai no chão e te faz abaixar para pegá-la apenas para perceber que o forno está ligado? Pois é… “a vida não é aleatória por acaso”. Isso, meus amigos, não é sorte, mas sim o trabalho de anjos, ou melhor, de Angelus. “Ninguém tá Olhando”, série brasileira que a Netflix estreia nesta sexta-feira (22) acompanha a rotina desses seres celestiais responsáveis por cuidar dos humanos.
Criada e dirigida por Daniel Rezende (“Bingo” e “Turma da Mônica - Laços”), a série tem início quando um novo Angelus, Ulisses (Victor Lamoglia), chega ao 5511º Distrito; a questão é que o “chefe” não manda um novo funcionário há mais de três séculos. O que estaria acontecendo?
Uli recebe a mentoria de Greta (Júlia Rabello) e Chun (Danilo de Moura) para trabalhar no distrito comandado pelo rígido Fred (Augusto Madeira), mas percebe que há uma falha no sistema e que todas as regras estabelecidas são irrelevantes - nada vai acontecer se ele quebrá-las. Ele então decide ajudar os humanos à sua maneira e assim, ao lado de seus companheiros, acaba se envolvendo nas vidas do veterinário Sandro (Leandro Ramos) e do casal Miriam (Kéfera Buchmann) e Richard (Projota).
“Ninguém tá Olhando” é um tipo de comédia não habitual no Brasil - é caricata, mas usa isso a seu favor na hora de fazer graça. A série de Daniel Rezende é mais “Good Place” ou “Glow” do que um filme do Leandro Hassum, por exemplo.
O primeiro episódio é apenas regular; Uli é irritante e desperta zero empatia. Quem brilha desde o início é Julia Rabello e Leandro Ramos. Quando descobre a falha do sistema, Greta deixa de ser uma funcionária modelo para se tornar indiferente, é como se tudo o que ela conhecesse não existisse mais. Já Sandro é quem garante as risadas mais simples com diálogos absurdos e carisma, mesmo que às vezes se assemelhe muito ao Julinho da Van, personagem de Leandro no humorístico “Choque de Cultura”.
A grande sacada de “Ninguém tá Olhando” é seu humor ácido às vezes mais preocupado em incomodar do que em fazer rir. Em entrevista a este colunista (semana que vem na íntegra neste espaço), Daniel Rezende falou que, ao lado de Victor, obrigou o resto do elenco a assistir “Bojack Horserman”. O nível de desconforto não chega a tanto na série brasileira, mas a pegada está lá.
“Ninguém tá Olhando” mistura momentos em que constrange a outros que garantem gargalhadas - as sequências em que os Angelus descobrem os prazeres e a fisiologia humana são ótimos. Daniel Rezende não perde a oportunidade de fazer humor, mas tenta dar um tempero adicional.
Apesar do início irritante, Victor Lamoglia acaba convencendo ao longo da série, quando seu personagem encontra um ritmo e dinâmica com os outros. Augusto Madeira também está ótimo, assim como os já citados Leandro, Júlia e Danilo. Quem surpreende é Kéfera, que dá vida a uma Miriam que tenta se limitar, mas acaba descobrindo novas camadas de sua personalidade.
“Ninguém tá Olhando” consegue ao mesmo tempo fazer graça com escatologia, brincar com Nicolas Cage e gerar reflexão: o que, afinal, nos define?
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