No inglês, o termo CODA significa “Child of Deaf Adults” (“Crianças de Adultos Surdos”, em tradução literal) e é usado para determinar crianças que nascem em uma família de surdos, mas sem problemas auditivos. O título do filme de Sian Heder (“Orange is the new Black”) faria pouco sentido por aqui, por isso ele ganhou o título genérico de “No Ritmo do Coração”. Originalmente lançado pela AppleTV+ mundo afora em agosto de 2021, o filme demorou a chegar aqui e agora o faz na Amazon Prime Video.
“No Ritmo do Coração” é uma refilmagem do francês “A Família Bélier” (2014), de Éric Lartigau, mas é um raro caso de remake que supera o filme original. O filme logo nos apresenta Ruby (Emilia Jones), uma jovem de 18 anos prestes a sair da escola e com escolhas muito importantes pela frente. Como a única pessoa que ouve em sua família, Ruby tem papel fundamental na empresa de pesca criada por eles, mas também tem uma paixão pela música e um talento único que pode lhe render uma bolsa na disputada Berklee College of Music.
“No Ritmo do Coração” é um filme convencional, sem grandes ousadias narrativas, mas se destaca pelo bom-humor orgânico e pelo afeto carregado pelo roteiro. Ruby encontra um mentor, o professor de música Bernardo Villalobos (Eugenio Derbez), e um interesse amoroso, o jovem Miles (Ferdia Walsh-Peelo), com os quais terá encontros e desencontros ao longo da trama.
Além da espetacular atuação de Emilia Jones, “No Ritmo do Coração” tem seu maior trunfo na representação da família da protagonista. Tanto os pais de Ruby, Frank (Troy Kustur) e Jackie (Marlee Matlin), quanto o irmão, Leo (Daniel Durant), têm ótimos momentos em sequências que apresentam ao espectador um mundo que não deveria ser tão distante, mas ainda é.
Ao contrário do que foi feito “A Família Bélier”, os atores do filme de Sian Heder são realmente deficientes auditivos, o que torna tudo mais genuíno - ajuda, claro, eles serem todos bons atores, sobretudo Troy Kustur. O filme consegue captar a essência da família e transmiti-la com eficiência não apenas as dificuldades mais imagináveis, mas também as de Ruby por crescer nesse núcleo familiar. Entendemos a importância da filha naquela família, quase como uma dependência voluntária, pois Ruby sempre esteve ali para eles, que nunca buscaram uma pessoa de fora para auxiliá-los.
Um dos grandes méritos de “No Ritmo do Coração” é o filme se entender como é, uma formulaica jornada de descobertas e independência. Citar a fórmula e a estrutura narrativa básica, neste caso, não é um demérito; ciente das limitações do texto que tem em mãos Sian Heder explora todas as possibilidades dele sem causar desconforto ou estranheza, mas conferindo identidade autêntica ao filme. É justamente por isso que o lançamento da Amazon Prime Video é tão bom.
O roteiro adaptado por Heder é sensível e cheio de detalhes, mas nunca abandona o entretenimento. O filme trata de questões delicadas com respeito, sem nunca partir para a caricatura ou para a piada apenas pela risada. É interessante como a diretora direciona o olhar do espectador para as mãos dos personagens, para a importância da linguagem de sinais e faz até que sintamos a relevância daquelas palavras pela intensidade dos movimentos.
“No Ritmo do Coração”, ou “CODA”, é um filmaço que usa o conforto do cinema convencional para colocar os holofotes voltados para personagens normalmente relegados a papéis menos importantes. Sian Heder utiliza os conceitos básicos para entregar um filme emocionante e divertido, uma celebração à família, à música e à vida. Imperdível.
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