Falar que a cultura da Coreia do Sul é uma das mais populares no mundo hoje é repetição - o K-Pop ainda é um fenômeno, “Parasita” e Bong Joon-Ho ainda são os vencedores do último Oscar, e os serviços de streaming recebem cada vez mais produções coreanas de diferentes gêneros, prova de uma indústria de cinema diversificada.
“Nova Ordem Espacial”, lançado pela Netflix, é exemplo dessa diversidade. Ao contrário dos filmes de cineastas como o já citado Bong Joon-ho, Park Chan-wook, Hang Sang-soo ou Jung Byung-Gil, que se aproximam mais do cinema “alternativo” feito nos EUA e na Europa, o filme de Sung-hee Jo é um blockbuster como Hollywood fazia nos anos 1990 e 2000.
Ambientado em 2092, o filme acompanha a Victory, uma nave coletora de destroços espaciais. Em uma coleta, seus tripulantes se deparam com Dorothy (Ye-Rin Park) uma criança buscada pelas autoridades por ser uma arma de destruição em massa. Em um primeiro momento, os tripulantes se interessam pela recompensa pela garota, mas logo percebem que as coisas não são exatamente como aparentam.
No futuro de “Nova Ordem Espacial”, as florestas viraram desertos e o solo se tornou ácido, impossibilitando a plantação de qualquer alimento. A megacorporação UTS constrói um lar em órbita, mas somente alguns privilegiados escolhidos podem migrar para lá. Por trás do plano de sobrevivência orquestrado pelo magnata Sullivan (Richard Armitage), há uma conspiração que pode acabar de vez com a vida na Terra.
Como os filmes hollywoodianos do estilo, “Nova Ordem Espacial” é recheado de clichês e situações que poderiam ser previstas apenas pela sinopse. Tae-ho (Song Joong-Ki), piloto da Victory, ganha profundidade e é pelos olhos dele que somos apresentados às dinâmicas daquele universo. O resto da tripulação da nave tem seus momentos, mas nunca ganham destaque - esse mistério funciona muito bem para Tiger Park (Seon-kyu Jin), um personagem meio misterioso cuja única informação sobre seu passado nos faz entender sobre seus atos no presente.
A necessidade de ser um entretenimento seguro faz do filme de Sung-hee Jo uma obra previsível. O texto até ensaia uma ou outra decisão arriscada, mas nunca segue adiante com elas. Assim, não é difícil perceber por qual caminho o filme vai seguir desde seu início.
Em contraponto à sua previsibilidade, “Nova Ordem Espacial” entrega cenas de ação bem interessantes. Com efeitos grandiosos e recursos criativos, o filme se sai bem nas batalhas espaciais e na construção do mundo. Sim, há barulho de explosões e tiros no espaço, há situações absurdas e algumas reviravoltas que não combinam com o que o texto apresentou até ali, mas estamos falando de um blockbuster de ficção científica e ação espacial que só se preocupa com o estilo e a diversão.
O primeiro épico espacial da Coreia é também um filme internacional, com diversos idiomas e atores de vários cantos do mundo. É legal ver que cada um fala o seu idioma e todos se entendem graças a aparelhos tradutores; isso confere ao filme um aspecto global. Há influências claras de obras como “Firefly”, “Cowboy Bebop” e “Elysium”, mas “Nova Ordem Espacial” consegue aproveitar as referências e criar sua identidade.
Com 135 minutos de filme, ele se estende por uns 30 minutos além do necessário principalmente nas pirotecnias computadorizadas do terceiro ato, quando a trama ganha proporções grandiosas e a equipe de efeitos deve ter se divertido bastante ao lado do diretor criando as mais absurdas possibilidades.
“Nova Ordem Espacial” é uma diversão segura. Em meio à grandiosidade das batalhas e dos efeitos especiais, o que fica após o filme é a relação da jovem Dorothy com a tripulação da Victory - todo o resto, intencionalmente ou não, serve apenas como um pano de fundo espacial para uma história bem humana.
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