Antes de nada, é bom deixar claro que “Mortal Kombat”, filme que adapta mais uma vez a famosa franquia de jogos de luta para os cinemas, não é um filmaço e tampouco vai estourar fora da bolha de jovens, adolescentes e fãs dos jogos. Dito isso, vale ressaltar que o Rafael Braz adolescente teria amado o filme dirigido por Simon McQuoid apesar de todos os seus defeitos. Aposta para levar o público de volta às salas, o filme chega agora aos cinemas do Brasil.
“Mortal Kombat” é o que se esperaria de uma obra baseada nos jogos da NetherRealms. O filme já tem início com uma ótima sequência no Japão feudal, quando Bi-Han (Joe Taslim) assassina a família de Hanzo Hasashi (Hiroyuki Sanada), momento em que nasce a rivalidade entre dois dos personagens mais icônicos da franquia: Sub-Zero e Scorpion.
Anos adiante, conhecemos Cole Young (Lewis Tan), personagem que não existe nos jogos e faz uma função dupla na narrativa: é o herói, o que mais se aproxima de um protagonista, e também representa a audiência no filme. Herdeiro de Hasashi e criado como órfão, Cole é um lutador que já viu dias melhores e cuja principal característica parece ser sua enorme capacidade de tomar porrada. É ele o "escolhido" da vez, o sujeito normal que vai cumprir os passos da jornada do herói até aceitar seu destino. Não há novidade na estrutura.
Após ser abordado por Jax (Mehcad Brooks) e se ver em meio a algo que não entende, Cole parte ao encontro de Sonya Blade (Jessica McNamee), alguém que o explicaria o que está acontecendo e por que ele está sendo perseguido por um ninja sinistro capaz de congelar tudo.
O processo de ambientação do filme é pouco interessante, mesmo trabalhando com algumas referências dos jogos e personagens como os já citados e Kano (Josh Lawson), que oferece um alívio cômico a uma trama um tanto sisuda. O filme melhora quando todas as apresentações já foram realizadas e o público já entende o cenário, o significado da tatuagem de Cole e, claro, o que é o torneio Mortal Kombat.
Em sua segunda metade, “Mortal Kombat” ganha magia. Vamos conhecendo os heróis da Terra, nomes como Raiden (Tadanobu Asano), Liu Kang (Ludi Lin), Kung Lao (Max Huang), e também os vilões. O habitual arco do treinamento do protagonista é interessante, pois possibilita ao roteiro apresentar os poderes dos outros personagens e vê-los em ação antes dos conflitos finais. Assim, quando seus talentos são realmente necessários, já sabemos do que eles são capazes.
A história de Cole, claro, serve apenas como um pretexto para um grande conflito entre os campeões da Terra e os do reino da Exoterra, que estão prestes a ganhar o torneio pela décima vez seguida. Em jogo, o destino da humanidade.
“Mortal Kombat” se esforça para apresentar seu universo aos não iniciados, mas é eficaz em agradar os fãs. O roteiro faz piadas com golpes de personagens nos jogos (a apelativa rasteira de Liu Kang), recria alguns cenários, traz diversos rostos conhecidos e mantém os sangrentos “fatalities” como parte essencial da narrativa - com direito até a falas como “finish him!” entoadas gratuitamente para colocar um sorriso no rosto dos fãs. Cada um joga com as armas que tem.
Como filme, no entanto, há escolhas questionáveis principalmente no que diz respeito ao não cumprimento de algumas expectativas criadas nos primeiros arcos, mas não vou revelar spoilers aqui. Além disso, Cole carece de carisma e principalmente desenvolvimento além de ser o "escolhido".
Diretor de comerciais, McQuoid tem em “Mortal Kombat” seu primeiro filme e parece ainda buscar uma assinatura. O filme tem estilo, boas sequências de luta e alguns personagens interessantes, mas falta força para surpreender o espectador e se sustentar além das referências dos jogos, das frases de efeito e da violência estilizada. Os efeitos especiais utilizados nas lutas e principalmente nos “fatalities” são bem eficazes, o mesmo não pode ser dito da artificial composição de Goro, que aparenta ser um personagem de animação.
“Mortal Kombat” tem um trunfo nos atores do núcleo asiático, todos estrelas de artes marciais, mas o charme do filme é centrado no antagonismo de Joe Taslim e Hiroyuki Sanada, que levam às telas a centenária rivalidade de Sub-Zero e Scorpion. A história dos dois ninjas, figuras marcantes e antagônicas desde o primeiro jogo, lançado em 1992, é o que conduz o filme e dá ao roteiro um pouco de estofo.
A vontade de transformar a marca em uma franquia é nítida e essa ambição até “justifica” algumas escolhas do roteiro - além da última cena, que já indica os caminhos que serão seguidos a partir daqui. Mesmo sem ser um filmaço capaz de extrapolar um nicho, “Mortal Kombat” diverte seu público-alvo. Resta saber se esse público terá força suficiente para bancar a produção de novas histórias nesse universo. O primeiro passo é promissor.
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