Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

O legado do Mr. Bean vive na ótima "Homem x Abelha", da Netflix

Eternizado pelo papel de Mr. Bean, Rowan Atkinson vive o cuidador de uma casa de luxo em um confronto épico contra uma abelha em série da Netflix

Vitória
Publicado em 27/06/2022 às 20h20
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Série "Homem x Abelha: A Batalha", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

No primeiro dia de 1990, estreava na TV britânica o hoje clássico personagem Mr. Bean. Criado por Rowan Atkinson, que interpretava o personagem, e por Richard Curtis, que posteriormente ficaria famoso por escrever filmes como “Um Lugar Chamado Notting Hill” (1999), “Simplesmente Amor” (2003) e “Quatro Casamentos e um Funeral” (1994), a série acompanhava o personagem-título em situações corriqueiras que escalavam sempre para uma grande confusão.

Mr. Bean, o personagem, era descrito por Atkinson como “uma criança no corpo de um adulto” - à época não se falava de personagens no espectro autista, o que talvez fosse o caso. “Mr. Bean”, a série, se tornou um grande sucesso, sendo exibida nos EUA pela HBO e no Brasil, durante o “Fantástico”. Apesar de a série original ter apenas 15 episódios (sim!), Atkinson ficou mundialmente famoso como o Mr. Bean e nunca fez questão de se livrar dessa fama, tendo voltado ao personagem em séries, que incluem uma animação própria, e filmes. Além disso, em todos os filmes em que o ator atuou, a pegada era sempre “Mr. Bean fazendo algo”, como, por exemplo, a comédia “Johnny English”, com Atkinson no papel de um espião meio 007.

Em “Homem x Abelha”, lançada pela Netflix, Atkinson não é, mas poderia ser Mr. Bean. Nos nove episódios da série, acompanhamos Trevor (Atkinson) em seu primeiro dia no novo emprego como cuidador de casas. A primeira, logo de cara, é uma casa fantástica, cheia de obras de arte e artefatos raros e na qual tudo é automatizado por um complexo sistema. Tudo vai bem até que uma abelha tira Trevor do sério e as coisas saem do controle levando o protagonista à loucura, da mesma forma como acontecia com Mr. Bean.

Com nove episódios que nunca ultrapassam a marca dos 20 minutos (a maioria tem dez), “Homem x Abelha” é um ótimo entretenimento despreocupado e que se sustenta no talento de Atkinson para o gênero. A série até busca alguma profundidade para Trevor, trazendo um pouco de sua relação com a filha e a ex-esposa - o recurso ajuda a entender a importância daquele trabalho para o personagem, mas nada além disso. Da mesma forma, o texto tem um fio de arco dramático apenas para dar à série uma sensação de ciclo fechado, de conclusão.

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Série "Homem x Abelha: A Batalha", da Netflix. Crédito: Netflix/Divulgação

O roteiro mistura humor absurdo a algumas cenas mais físicas de forma quase infantil, adjetivo usado aqui como elogio. “Homem x Abelha” traz a essência do texto e do estilo de atuação de Atkinson, com poucas palavras, uma ingenuidade genuína e a simplicidade do homem comum - aqui, no caso, um sujeito perdido em meio à automatização da casa. É curioso que a casa seja um obstáculo, e não a antagonista, papel que cabe à abelha, ou seja, não são os avanços, a tecnologia, mas a natureza em uma rivalidade milenar que é tratada com essa exagerada dimensão pela série para fins cômicos.

“Homem x Abelha” é um veículo para Rowan Atkinson e talvez não funcionasse com outro ator. Com ele em cena, no entanto, a série da Netflix é leve, rápida, divertida e arranca boas risadas, entregando justamente o que se espera dela.

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