Desde as primeiras cenas de “O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Letherface” fica bem claro a reverência que os envolvidos no lançamento da Netflix têm ao filme de 1974, um dos mais influentes da História do cinema ao introduzir vários elementos do terror slasher que seria tendência alguns anos depois. O filme de 73 deve duas continuações, dois prelúdios, alguns filmes no mesmo universo e alguns recomeços que nunca chegaram perto do brilhantismo do original - alguns deles, inclusive, beiram o constragimento.
Dirigido pelo inexperiente David Blue Garcia, “O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Letherface” chega à Netflix nesta sexta (18) como uma continuação direta do filme original. A sequência inicial tem um grupo de jovens de Austin, no Texas, se dirigindo para a deserta Harlow. Ao parar em uma loja de conveniência, Lila (Elsie Fisher, do ótimo “Oitava Série”) assiste a um comercial de um desses programas com histórias de crimes reais. É na chamada para o programa que é recontada a história dos cinco jovens brutalmente assassinados por um maníaco com ferramentas e uma serra elétrica. A chamada também conta haver apenas uma sobrevivente do massacre e ressalta que o assassino nunca foi encontrado.
Quando Lila e os outros jovens chegam a Harlow, se deparam com uma cidade fantasma sem grandes surpresas. A ideia deles é justamente aproveitar os baixos preços daquele local abandonado e revitalizá-lo expulsando de lá seus moradores restantes e trazendo gente da cidade interessada em instalar por lá restaurantes, galerias de arte e tudo mais, a famosa gentrificação. A ida deles, inclusive, é um evento acompanhado por um ônibus de interessados na cidade, ou seja, mais corpos para o vindouro massacre.
“O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Letherface” é um filme curto, com cerca de 75 minutos de duração, e, por isso, não desperdiça tempo ao introduzir seu icônico vilão (ou seria protagonista?). Ainda assim, surpreende a maneira como o filme, ciente do que tem em mãos, demora para revelá-lo definitivamente. As primeiras aparições do Leatherface são com ele em contraluz, em segundo plano, desfocado ou com recortes parciais de seu rosto, tudo para guardar o impacto para o momento da revelação definitiva.
O roteiro de Fede Alvarez, do cultuado “O Homem nas Trevas” é muito eficiente ao aproveitar todos os momentos iniciais para construir tensão. Mesmo após a apresentação do vilão, “O Retorno de Leatherface” não perde a cadência dos instantes iniciais e cria uma espécie de terror de confinamento, com o assassino e alguns jovens na casa, não muito diferente do já citado filme de Alvarez.
No terceiro ato, porém, que coincide com o surgimento da serra elétrica (momento muito bem aproveitado pelo filme) tudo se transforma. “O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Letherface” se torna um filme maior à medida que mais corpos vão sendo dilacerados pelo maníaco. É neste ponto, também, que o filme perde um pouco de seu charme e de sua tensão ao ganhar contornos de filme de ação no conflito final abusando dos clichês e de viradas um tanto forçadas.
É interessante como o pouco desenvolvimento dos personagens parece intencional para que não nos importemos com eles - como um bom terror, o filme traz temas atuais a serem discutidos. Além da já citada gentrificação, quase o tema central do filme, Lila, a única que ganha alguma profundidade, é uma jovem sobrevivente de um massacre com um atirador em sua escola e, por isso, vive com um transtorno de estresse pós-traumático.
As motivações do Leatherface também são diferentes e menos caricatas no novo filme - enquanto antes as mortes era motivadas por canibalismo e pela manipulação que o personagem com transtorno psicológico sofria em casa, elas agora são quase uma resistência a invasores e uma vingança. Isso não significa, porém, que o texto humanize o personagem, que continua fiel à concepção original, apenas mostra que não é necessário colocar toda a maldade dele em sua neurodivergência.
“O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Letherface” é uma continuação, mas é também um recomeço. O filme mantém a brutalidade e a violência do filme de 74 e introduz alguns novos conceitos de terror principalmente pelo roteiro de Fede Alvarez. Obviamente não tem o impacto do filme original, quase 50 anos depois, mas se esforça parar criar uma obra tensa que atualiza as questões do terror para novos medos e novas gerações.
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