Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"O Projeto Adam", da Netflix, tem aventura e encanto dos anos 1980

Estrelado por Ryan Reynolds, "O Projeto Adam" leva a fantasia de filmes como "De Volta Para o Futuro" e "O Último Guerreiro das Estrelas" para a Netflix

Vitória
Publicado em 11/03/2022 às 04h59
Zoe Saldana e Ryan Reynolds no filme
Zoe Saldana e Ryan Reynolds no filme "O Projeto Adam", da Netflix. Crédito: DOANE GREGORY/NETFLIX

Já escrevi algumas vezes e sempre repito: nostalgia vende. Mais do que vender um produto em si, a nostalgia oferece um conforto e remete a tempos em que, ao menos em nossas cabeças, tudo era mais simples e mais interessante, mesmo que provavelmente nem fosse assim. É buscando esse conforto que a Netflix lança “O Projeto Adam” nesta sexta (11), mas será que a nostalgia basta?

Dirigido por Shawn Levy (“Free Guy”), “O Projeto Adam” é uma aventura de ficção científica com ares oitentistas que imediatamente traz lembranças de “O Último Guerreiro das Estrelas” (1984) ou dos trabalhos de Steven Spielberg naquele período. O filme tem início em 2050, quando somos apresentados a Adam (Ryan Reynolds) em meio a uma batalha espacial na qual ele rouba uma nave capaz de viajar no tempo através dos “wormholes” para salvar sua esposa.

As coisas não saem como o planejado e Adam acaba em 2022, para quando a audiência também é levada para conhecer o Adam de 12 anos (Walker Scobell), um jovem ótimo em jogos, mas também vítima de bullying na escola. Desde esse primeiro momento, o texto e as atuações tentam conectar os dois Adam, com a versão mais nova soltando frases espertinhas e piadas nem sempre boas, uma característica marcante de Ryan Reynolds.

No passado, Adam precisa da ajuda de sua versão adolescente para salvar o futuro. Nesse meio tempo, ele também terá que voltar ainda mais no tempo para se resolver com seu pai (Mark Ruffalo), com quem teve uma relação cheia de lacunas e problemas que se arrastaram por décadas - “O Projeto Adam” é tanto um filme sobre salvar o futuro quanto uma obra sobre se acertar com o próprio passado.

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Filme "O Projeto Adam", da Netflix. Crédito: DOANE GREGORY/NETFLIX

“O Projeto Adam” tem boas e inventivas sequências de ação, mesmo que sejam simples, e Ryan Reynolds se sai bem com seu “sabre de luz”, outra referência utilizada como piada pelo texto. O ator confere um ar leve ao filme e parece bem mais envolvido e menos no “piloto automático” do que no sucesso “Alerta Vermelho”.

O filme é uma grande homenagem ao cinema de aventura dos anos 1980, com referências a “De Volta Para o Futuro” (1985), “E.T. O Extraterrestre” (1982), “O Vôo do Navegador” (1986), entre outros, o que nos leva à nostalgia no parágrafo inicial. O filme é nostálgico também em sua trilha sonora, com músicas de Boston, Led Zeppelin e Pete Townshend, mais um recurso para fisgar um público mais adulto. Felizmente, Shawn Levy usa o sentimento nostálgico não como único atrativo ou como sustentação, mas como uma espécie de ambientação para sua aventura.

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Filme "O Projeto Adam", da Netflix. Crédito: DOANE GREGORY/NETFLIX

“O Projeto Adam” se utiliza da clássica estrutura da jornada do herói e a mistura com um pouco de drama familiar. O chamado do jovem Adam se dá quando sua versão adulta precisa dele para voltar novamente ao passado - a escolha é interessante do ponto de vista de um adolescente, pois um adulto precisa urgentemente de sua ajuda. O recurso obviamente não é novo, mas funciona para aproximar o filme de outro público não conquistado pela nostalgia oitentista.

Scobell é ótimo como a criança marcada pela perda do pai e que usa o sarcasmo como mecanismo de defesa; já Reynolds também é uma figura perturbada por perdas recentes de pessoas que ele ama. Mesmo com o esforço para que os dois Adam sejam versões diferentes do mesmo personagem, isso nem sempre acontece, o que não impede que o texto crie boas piadas com a dinâmica deles e com a boa química entre os dois atores.

Além de Ruffalo, o elenco de coadjuvante tem ainda Zoe Saldana, Jennifer Garner e Catherine Keener. Saldana é ótima como a esposa do protagonista, uma guerreira super durona à lá Sarah Connor que também volta no tempo (algo mal explicado pelo texto). Já Garner é a mãe de Adam, uma mulher se esforçando para criar o filho sozinha após a morte do marido. Por fim, Keener é a grande viiã do filme, a dona de uma corporação que controla as viagens no tempo, uma personagem genérica.

Apesar de eficiente tecnicamente, o filme abusa de computação gráfica em alguns momentos, principalmente para rejuvenescer alguns personagens e em algumas sequências espaciais. Outro problema reside na falta de uma identidade, pois, na ânsia de fazer várias referências, o filme falha em se construir como um trabalho único - oferece conforto, mas prejudica o frescor.

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Filme "O Projeto Adam", da Netflix. Crédito: DOANE GREGORY/NETFLIX

O roteiro também traz repetições incômodas de situações e algumas coincidências utilizadas como muletas para o acerto final entre pai e filho. O simples fato do sempre amável Mark Ruffalo viver o pai de Adam já é suficiente para entendermos que ele não era uma pessoa tão ruim quanto as lembranças de Adam parecem indicar. Outro problema do roteiro está nos conceitos de viagem no tempo, com algumas ideias até interessantes, mas outras que são criadas e apresentadas convenientemente para emocionar e amarrar alguns pontos da história.

Sempre em movimento e leve, “O Projeto Adam” parece uma ideia dos anos 1980 realizada com avanços tecnológicos não-disponíveis na época. Ainda assim, o filme estrelado por Ryan Reynolds deve funcionar além da nostalgia para um público nascido após os anos 2000. Afinal, ao seguir e o estilo da época, Shawn Levy recria uma fórmula de sucesso à sua maneira, adaptada para os dias de hoje, mas mantendo a essência que encantou jovens e adolescentes há mais de três décadas.

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