Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"O Telefone Preto" manipula espectador com terror pop e tensão

Influenciado pela obra de Stephen King, "O Telefone Preto" mistura estilos de terror para criar narrativa tensa, com bons sustos e ótimas atuações

Vitória
Publicado em 19/07/2022 às 18h24
Filme
Filme "O Telefone Preto". Crédito: Fred Norris/Universal Pictures

“O Telefone Preto” é o tipo de história que não poderia ser ambientada nos dias de hoje. Dirigido por Scott Derrickson (“O Exorcismo de Emily Rose”) a partir de um conto de Joe Hill (filho de Stephen King, autor da HQ “Locke & Key”), o filme é construído sobre o pânico causado por um misterioso sequestrador que captura crianças em uma cidade do interior. Sem câmeras de segurança, testemunhas ou sobreviventes, nada se sabe sobre ele.

Quando conhecemos Finney (Mason Thames), conhecemos também seu medo até de falar o apelido dado pelo sequestrador. Aos 13 anos, Finney é um menino inteligente, mas muito tímido e vítima constante de bullying na escola. Em casa, ao lado da irmã, Gwen (Madeleine McGraw), sofre com os abusos do violento pai (Jeremy Davies). O complicado relacionamento com o pai e a ausência da mãe (entendemos depois) fortalecem o vínculo entre os irmãos.

Não demora para que Finney se torne vítima do sequestrador (Ethan Hawke, sempre com o rosto coberto por assustadoras máscaras) que o leva para um local desconhecido com forte isolamento acústico, um colchão no chão e um telefone preto preso à parede. O telefone inexplicavelmente toca de vez em quando, mas nunca tem ninguém na linha; "alguma questão elétrica", diz o sequestrador. 

Ao contrário de obras como “Stranger Things”, que usam a nostalgia como seu grande atrativo, “O Telefone Preto” utiliza a ambientação no final dos anos 1970 de forma diferente. Boa parte das lembranças da época do texto não são romantizadas e até causam repulsa hoje, mas são essenciais para a autenticidade do filme e para reforçar para o público mais jovem que muito do que se vê em tela não se relaciona com os dias de hoje.

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Filme "O Telefone Preto". Crédito: Fred Norris/Universal Pictures

“O Telefone Preto” é um filme sempre tenso, pois logo de cara elimina algumas possibilidades mais otimistas. O filme de Derrickson é também assustador nos momentos certos, garantindo alguns bons sustos sem ser gratuito como um terror jump scare. Ao invés disso, o cineasta utiliza bons movimentos de câmera e uma fotografia quase sempre sombria - o filme, afinal, passa boa parte de seu tempo no cárcere de Finney.

O sequestrador é uma figura sempre ameaçadora, uma sensação reforçada pelas máscaras ao invés de ser prejudicada por ela; Ethan Hawke faz um papel absurdo com sua imposição de voz alternando entre um tom quase amigável mas ainda assim autoritário e amedrontador. Suas motivações nunca ficam claras, mas isso também é parte do mistério e do medo, o desconhecido, as possibilidades, os pontuais relatos que surgem na narrativa…

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Filme "O Telefone Preto". Crédito: Fred Norris/Universal Pictures

O núcleo jovem é ótimo, com Mason Thames gradualmente entendendo o que está acontecendo e finalmente tendo que se impor diante da adversidade. Já Madeleine McGraw é quem transmite a urgência do filme em seu desespero para encontrar o irmão.

Com jovens enfrentando adversidade e batendo de frente com a inevitável necessidade de amadurecimento, a influência de Stephen King vai bem além da herança genética de Joe Hill, com pelo menos uma referência clara a “It - A Coisa” (2017). “O Telefone Preto” é um filme de terror que mistura o real e o sobrenatural de maneira pouco óbvia, com o mundo real sendo muito mais assustador do que os fantasmas - não que eles não despertem medo no espectador, talvez isso só não ocorra da maneira como se espera.

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Filme "O Telefone Preto". Crédito: Fred Norris/Universal Pictures

“O Telefone Preto” é um terror pop e Scott Derrickson tem plena ciência disso, esticando o limite do mainstream, mas sem forçar demais. Esse potencial comercial vem da maneira como filme manipula os sentimentos do espectador durante a projeção, com alguns momentos cômicos, outros assustadores, dramas com os quais o público pode se identificar e um sentimento de esperança agridoce.

Conduzido por um texto enxuto, uma ótima direção e três excelentes atuações, “O Telefone Preto” é um filme à moda antiga, com início, meio e fim, sem a necessidade de uma continuação e que não cai na tentação da superexposição, as coisas são o que são sem a necessidade de explicar como ou por quê.

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Filme "O Telefone Preto". Crédito: Fred Norris/Universal Pictures

Inicialmente programado para ser lançado no inverno americano (início do ano), o filme foi tão bem nas sessões-teste que a Universal preferiu guardá-lo para o verão. “O Telefone Preto” teve custo de US$ 18 milhões e superou esse número com folga só na estreia de EUA/Canadá. Ainda com alguns mercados grandes para estrear (como o Brasil), o filme já fez US$ 115 milhões, mostrando que a escolha da Universal foi acertada e que o boca a boca, as boas críticas e a forte campanha de divulgação deram resultado.

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