Paradoxos, o gato de Schrödinger, acontecimentos estranhos, um grupo de pessoas presas em um lugar que parece não existir no mundo, uma pequena cidade na qual ninguém sabe como foi parar, mas da qual ninguém consegue ir embora; estariam todos mortos ou aquilo é uma espécie de purgatório? Por que estão ali? “Origem”, série lançada no Brasil pelo Globoplay, tem uma influência clara e inequívoca: “Lost” (até no nome, já que originalmente se chama “From”).
Após um breve prólogo que dá o tom do terror da série, conhecemos os Matthews, Jim (Eion Bailey), Tabitha (Catalina Sandina Moreno), Julie (Hannah Cheramy) e Ethan (Simon Webster), durante uma viagem de carro. Após encontrarem uma árvore caída na estrada, eles têm que fazer um contorno e acabam na cidade que vimos no prólogo; eles pedem informação, tentam continuar a viagem, mas acabam voltando sempre à mesma cidadezinha. Em uma dessas tentativas, o carro em que eles estão sofre um acidente na proximidades da cidade. Os moradores, então, partem para uma ajuda desesperada, pois está perto de anoitecer e, como já fomos ensinados, coisas estranhas acontecem por lá à noite.
Tudo isso acontece acertadamente de forma muito rápida. O prólogo funciona como breve ambientação, pois, assim como os Matthews, não sabemos o que acontece por lá. “Origem” constrói toda sua narrativa baseada nesse mistério, às vezes se perdendo em ideias derivativas e arcos pouco originais, mas é muito eficiente no clima de tensão e perigo que permeia os dez episódios da primeira temporada (lançada com um ano de “delay” por aqui. A segunda está atualmente em exibição nos EUA).
Tudo muda com a chegada da família à cidade e é pelos olhos deles que entendemos todas as regras daquele universo. Criaturas circulam durante à noite matando quem estiver dando mole fora de casa e tentando convencer as pessoas que abram suas portas e janelas para elas. Desde que o xerife Boyd (Harold Perineau, de “Lost”) descobriu poderosos amuletos (não pergunte como…), os monstros não podem entrar em ambientes fechados protegidos por ele, só se forem “convidados”.
A chegada, porém, traz problemas para a comunidade que estava há mais de três meses sem incidentes. A jovem Sara (Avery Konrad) ouve vozes, Ethan vê uma criança fantasma durante o dia, o esquisitão Victor (Scott McCord), o primeiro a chegar lá, busca explicações. Em meio a tudo isso, há discussão sobre religião - talvez sejam os novos escolhidos e tenham alguma missão - e um bom arco sobre segundas chances e sobre viver como se quer.
A comunidade é dividida entre a cidade, que vive uma estrutura mais ou menos organizada, com casas separadas, igreja e até uma autoridade, e a casa colonial, um lugar onde as pessoas podem viver como querem, desde que não coloquem os outros moradores em perigo. Na casa, o consumo de drogas e o sexo são liberados e todos vivem mais ou menos em harmonia. Por que, então, gostariam de sair dali para voltar às suas vidas talvez miseráveis?
É fácil imaginar “Origem” como uma atualização de “Lost”. Fenômeno da TV nos anos 2000, a série sofreu com as convenções da época - muitos episódios por temporada, necessidade de novas histórias para sustentar cada ano, enrolação para se chegar a seu caminho definitivo. Jack Bender, produtor de ambas, deve ter aprendido com os erros e os acertos para “Origem. A série é enxuta, com dez episódios por temporada, e poucos personagens a serem de fato desenvolvidos - ao menos na primeira temporada, o que importa é o mistério. Assim, a série do Globoplay acaba funcionando como um conto fantástico de Stephen King.
“Origem” também tira proveito do momento atual das séries de TV/streaming e se permite ser mais explicitamente violenta, com sangue jorrando em várias mortes - o resultado do ataque das criaturas impacta logo de cara. Mesmo às vezes introduzindo e desenvolvendo coadjuvantes apenas para matá-los, o texto também mata alguns personagens importantes de forma pouco previsível, criando, assim, um clima de que tudo pode acontecer.
Ao menos em sua primeira temporada, “Origem” é muito legal. Tensa e às vezes até assustadora, a série poderia ser mais original, mas é bem capaz de que muitos de seus espectadores nem sequer tenham visto “Lost”. Se os criadores já souberem aonde querem chegar, sem se preocupar muito com respostas e explicações (o que parece não ser o caso), e tiverem condições de fazer isso, a série pode ganhar rumos muito interessantes nas próximas temporadas.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.