Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Os 7 de Chicago": ótimo drama da Netflix é aposta para o Oscar

Dirigido por Aaron Sorkin, "Os 7 de Chicago" tem ótimos diálogos e elenco afiado em um drama de tribunal ágil sobre um dos mais marcantes julgamentos dos EUA

Publicado em 16/10/2020 às 12h27
Filme
Jeremy Strong e Sacha Baron Cohen no filme "Os 7 de Chicago". Crédito: Niko Tavernise/NETFLIX

No final de agosto de 1968, após o presidente Lyndon B. Johnson anunciar que não disputaria a reeleição nos EUA, a Convenção Nacional dos Democratas selecionaria um novo candidato à presidência. Em meio à efervescência cultural da época e à desastrosa participação americana na Guerra do Vietnã, movimentos sociais organizaram uma série de protestos pacíficos em Chicago, local da convenção. A ideia era a realização de um festival de música e discursos anti-bélicos no parque, mas os cerca de 10 mil manifestantes foram recebidos por 23 mil policiais. Em um clima de alta tensão, basta uma faísca para explodir uma confusão generalizada.

Responsabilizados pela violência, Abbie Hoffman, Jerry Rubin, David Dellinger, Tom Hayden, Rennie Davis, John Froines e Lee Weiner ganharam o apelido de “Os 7 de Chicago” ao responder a um processo de conspiração contra os EUA e incitação à desordem. Os sete, na verdade, eram oito, pois o Pantera Negra Bobby Seale também acabou participando do julgamento mesmo sem ter muito a ver com o ocorrido - a presença de um revolucionário negro entre os acusados, na cabeça dos promotores, ajudaria a colocar a opinião pública contra o grupo. É esse recorte da História americana que chega nesta sexta-feira (16) à Netflix com o filme devidamente intitulado “Os 7 de Chicago”.

Dirigido e escrito por Aaron Sorkin, roteirista vencedor do Oscar por “A Rede Social” (2010), o filme é uma das grandes apostas da Netflix para o Oscar 2021. O roteiro conta uma história já conhecida por boa parte da audiência, mas o faz com eficácia. Desde os primeiros minutos, já é possível perceber que “Os 7 de Chicago” não será um filme de tribunal comum; a montagem é ágil, com os personagens geograficamente separados sendo apresentados em uma narrativa contínua.

O editor Alan Baumgarten, que já trabalhou com Sorkin no subestimado “A Grande Jogada” (2017), usa bem a montagem para conferir ritmo ao filme. Além de emprestar a um drama jurídico uma agilidade não muito vista no gênero, ele ainda faz bom uso do material de arquivo sobre os protestos de Chicago, mas nunca abusa do recurso, ele os insere para que o público perceba que as coisas realmente aconteceram daquela forma.

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Filme "Os 7 de Chicago". Crédito: Niko Tavernise/NETFLIX

A fidelidade do texto de Sorkin aos fatos é um dos pontos altos de “Os 7 de Chicago” justamente porque o diretor/roteirista entende o absurdo daqueles acontecimentos - sem spoilers, digo que as absurdas situações do julgamento aconteceram quase todas da maneira como vemos em tela.

Algumas dessas situações funcionam como alívio cômico justamente por seu potencial de absurdo, o que é bem entendido pelo numeroso e talentoso elenco. Sacha Baron Cohen e Jeremy Strong se destacam como Abbie Hoffman e Jerry Rubin, mas Mark Rylance também brilha como o advogado William Kunstler e Yahya Abdul-Mateen II, como o Pantera Negra Bobby Seale. Do lado oposto aos acusados, o promotor interpretado por Joseph Gordon-Levitt também se destaca, mas nunca rouba a cena. No elenco principal, curiosamente, o único que não se destaca é Eddie Redmayne, mas isso se dá muito em função da personalidade de Tom Hayden, personagem que interpreta.

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Filme "Os 7 de Chicago". Crédito: Niko Tavernise/NETFLIX

Aaron Sorkin também se mostra mais contido no ritmo da narrativa. Conhecido por roteiros fortemente sustentados por diálogos rápidos e nem sempre fáceis de se acompanhar, o cineasta deixa a imagem contar parte da história e intercala as imagens do protesto com algumas narrações orgânicas que funcionam bem e nos ajudam a entender os personagens - todos eles vão sendo construídos aos poucos, com paciência e pouca pressa.

“Os 7 de Chicago” surpreende por contar uma história americana de mais de 50 anos, mas ainda assim encontrar ecos na política americana hoje e, por que não, na brasileira. O filme de Aaron Sorkin surpreende por sua agilidade incomum em dramas jurídicos e ganha força com um elenco talentoso que faz com que o público queira ver mais de cada um daqueles personagens.

Ainda é cedo e nem sabemos ao certo se haverá ou não um Oscar em 2021, mas “Os 7 de Chicago” está na briga e larga bem. É um filme com grife - ótimo elenco, além de escrito e dirigido por um cara querido na indústria - e com uma mensagem urgente que ainda ecoa cinco décadas depois; um prato cheio para a Academia.

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