Uma das grandes sacadas da Netflix para variar seu público global foi transformar as novelas mexicanas em séries para todos os gostos. De “Quem Matou Sara?” a “Mãe só tem Duas”, passando pela horrorosa “Três Vidas”, por “Desejo Sombrio” até pelo remake de “Café com Aroma de Mulher” (para ficar apenas nas mexicanas), são várias as narrativas que pegam emprestados os clichês da dramaturgia mexicana na plataforma.
Mesmo tendo se tornado motivos de piadas e sátiras mundo afora, as novelas mexicanas foram fenômeno mundo afora, inclusive no Brasil, fazendo com que essas séries já cheguem ao público com um sabor conhecido. Para os muitos fãs do gênero, a Netflix lançou “Pacto de Silêncio”, minissérie em 18 episódio de cerca de 40 minutos cada, com todos os vícios e méritos das melhores novelas mexicanas: melodrama, traição, família, assassinatos, revelações repentinas e muita viradas.
“Pacto de Silêncio” é história de Brenda Rey (Camila Valero), uma influenciadora muito famosa na Cidade do México, com mais de 10 milhões de seguidores. O que quase ninguém sabe é que Brenda cresceu nas ruas após ter sido abandonada pela mãe, 25 atrás. Quando a série começa, acompanhamos um flashback de quatro adolescentes em fuga após abandonarem uma criança recém-nascida em uma cabana. Logo descobrimos que apenas as quatro sabem quem é a mãe do bebê e que elas contaram com a ajuda da diretora do internato em que estudavam para acobertar tudo. Qual daquelas quatro meninas, então, seria a mãe de Brenda?
O texto da série não tem nada de sutil, muito pelo contrário, e, assim, logo no primeiro episódio, Brenda começa a por em prática seu plano de descobrir quem é sua mãe, além de se vingar das quatro mulheres, agora adultas e com vidas que seguiram adiante. Tudo é muito simples no início de “Pacto de Silêncio”, com conflitos sendo resolvidos rapidamente e com a trama caminhando com bastante agilidade.
Cada uma das possíveis mães tem características diferentes. Martina (Marimar Vega) é uma empresária de sucesso, viciada em trabalho e disposta a nunca se casar; Fernanda (Adriana Louvier) é uma perua que casou e constituiu uma bela família; Sofia (Litzy) é uma escritora que lançou um livro de sucesso há muito tempo, mas agora passa por dificuldades financeiras; enquanto Irene (Kika Edgar) é uma política muito influente e ambiciosa.
Um dos grandes méritos da série é dar um pouco de profundidade e personalidade a essas personagens ao ponto de o público se importar com elas e se questionar até que ponto a vingança de Brenda é justificada? É interessante como essa percepção chega à protagonista ao mesmo tempo em que bate no espectador, nos envolvendo na rocambolesca trama.
Como uma boa novela mexicana, cheia de tramas paralelas e viradas um tanto absurdas, “Pacto de Silêncio” segue por caminhos nem sempre interessantes. Em 18 episódios, a minissérie mergulha na pegada novelesca também no didatismo – é plenamente possível pular uns cinco episódios e ainda assim entender o que está acontecendo. O texto é expositivo, com diálogos que relembram tudo o que aconteceu, um recurso que funciona nas novelas diárias, para quem perdeu algum capítulo, mas que se torna cansativo em uma série.
O roteiro tenta o tempo todo manipular a expectativa do público, indicando pistas falsas e até criando algumas situações suspeitas, mas totalmente artificiais, para alguns personagens; a ideia é apenas postergar a grande revelação e seu desfecho, o que “Pacto de Silêncio” realmente guarda para seus últimos instantes.
Apesar de todos os elogios presentes neste texto, “Pacto de Silêncio” não é necessariamente boa. A série é longa demais e perde tempo com subtramas que nem sempre acrescentam no arco principal. O comportamento de algumas personagens também é meio ridículo, apesar de ser este o tom da trama.
Falta, porém, ousadia a “Pacto de Silêncio” nos momentos em que há a possibilidade de se destacar, o que é irônico, pois o texto até esbarra em alguns temas interessantes e ensaia seguir por caminhos menos previsíveis. Ao fim, a série é uma grande novela mexicana, daquelas que talvez funcionem justamente por serem ruins e meio caricatas. Não é para todos, mas tem seu público.
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