Perdemos Paulo Gustavo. Sim, na primeira pessoa do plural e agora em caixa alta: PERDEMOS. O ator e comediante de 42 anos foi mais uma das vítimas da Covid-19 e, após quase dois meses de internação, não aguentou as complicações da doença. Perdemos a Dona Hermínia, a Senhora dos Absurdos, o Playboy, as risadas e o humor de estereótipos que expunha vários absurdos e ridículos da sociedade brasileira.
Perdemos um grande artista, uma fonte de entretenimento, mas Dona Déa Lúcia Amaral perdeu o filho, Thales Bretas perdeu o marido, e os pequenos Romeu e Gael perderam um pai. Não há sequer uma pessoa feliz no Brasil hoje, ou pelo menos não deveria haver.
É ironicamente trágico que um dos últimos materiais viralizados do ator era um vídeo no qual falava: “não vivemos sem humor. Humor salva, transforma, alivia, cura e traz esperança pra vida da gente (...) Neste ano tão trágico, foram as artes dramáticas, a música, o cinema, a cultura em geral que nos ajudaram a seguir em frente. Eu fico muito feliz e orgulhoso em ser artista. Eu faço palhaçada, você ri, e eu fico com o coração preenchido aqui. Ri é um ato de resistência”.
Quanta esperança Paulo Gustavo não trouxe para o brasileiro nos últimos anos? Quantos não foram os sorrisos que ele colocou no rosto de pessoas passando por momentos difíceis? O quanto sua arte não serviu para amenizar a dor de centenas de milhares de famílias que perderam alguém para a Covid-19?
Não conhecia o trabalho de Paulo no teatro, mas me tornei espectador assíduo do “220 Volts” desde que assisti ao programa pela primeira vez no Multishow. O humorístico mostrava o talento múltiplo de Paulo Gustavo para personagens e caracterizações. As transformações da sociedade na última década eram claramente visíveis no programa, que foi abandonando quadros à medida que percebiam que eles não tinham mais espaço no humor e na sociedade, que poderiam ofender. Ninguém nasce desconstruído e sabendo de tudo, mas todo mundo pode evoluir.
A evolução do ator nessas questões é evidente, basta comparar os filmes “Minha Mãe é uma Peça”, que aos poucos deixou de fazer graça ao apontar o dedo e adotou mensagens de aceitação, de entender as diferenças… Tudo isso com uma protagonista cheia de preconceitos - era como ver que, sim, é possível mudar conceitos previamente estabelecidos.
Casado com Thales desde 2015, o ator se viu alvo de polêmica ao supostamente ter “censurado” um beijo entre dois homens em “Minha Mãe é uma Peça 3” e por ter criticado a maneira como a parada gay é realizada. Mesmo sem se envolver com o ativismo LGBTQIA+, o ator nunca se escondeu. A seu modo, com uma família linda, entrou na casa de brasileiros homofóbicos - e se um desses aprendeu algo, já foi um trabalho de “ativismo” bem feito.
Paulo Gustavo deixa Thales, Dona Déa Lúcia, Gael e Romeu. Paulo Gustavo nos deixa e deixa o Brasil mais triste. Acabou a correria do ator que preferia responder entrevistas via mensagem de áudio no WhatsApp, entre um compromisso e outro, acabou o humor, acabaram as risadas que ele nos proporcionava e, com isso, parte da esperança de um povo que tem sofrido tanto com o menosprezo às artes e principalmente com o menosprezo à saúde pública.
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Paulo Gustavo tinha 42 anos, era um cara de hábitos saudáveis e tinha condições financeiras para ter o melhor tratamento possível. Não resistiu. Mais uma família dilacerada pela “gripezinha”, pela Covid-19, uma doença para a qual já existe vacina, ou seja, mais uma perda que poderia ter sido evitada. Uma perda que dói até mesmo em quem ainda não acredita na gravidade da pandemia. Que ele descanse e que as pessoas próximas encontrem conforto e força.
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