“Perfil Falso” começa como uma série clichê, uma história de amor e desencontro, mas se transforma em algo completamente inesperado e surpreendentemente divertido. Lançada pela Netflix, a série colombiana tem início em Las Vegas, onde conhecemos a mexicana Camila (Carolina Miranda), uma irresistível e talentosa dançarina. Passeando pelo Tinder, ela dá match com o médico colombiano Fernando (Rodolfo Salas) e tem com ele um encontro perfeito; a noite é ótima e eles engatam um relacionamento.
Após um sumiço do namorado, porém, Camila impulsivamente decide ir atrás dele em Cartagena, na Colômbia, pois algo muito grave deve ter acontecido. Ao chegar lá, ela descobre que foi enganada, vítima de um perfil falso que nem faz muito sentido, pois Fernando, na verdade, é Miguel Estévez, um sujeito muito mais bonito e rico do que real Fernando.
O problema é que Miguel é casado com a bela Angela Ferrer (Manuela González), herdeira de um império imobiliário na região. Ao invés de ir embora choramingar em casa, Camila toma uma decisão: aluga uma mansão ao lado da casa de Ferrer e também um marido, o taxista boa praça David (Lincoln Palomeque), sem uma intenção clara, mas com a ideia de infernizar a vida de Miguel.
“Perfil Falso” abraça a estética das novelas mexicana e seu estilo narrativo, mas parece fazê-lo com plena ciência do lado involuntariamente cômico do gênero. A série criada por Pablo Illanes se leva a sério o tempo todo, mas brinca com os excessos de viradas, coincidências e com as situações absurdas que fizeram das novelas mexicanas um sucesso mundo afora.
A trama inicial proporciona algumas boas cenas de sexo, sem grande exposição, mas bem filmadas e até provocantes, mas é quando o texto amplia seu escopo que “Perfil Falso” mostra suas garras. Gradualmente vamos percebendo haver algo estranho no condomínio de luxo em que Camila, Miguel, Angela e muitos outros vizinhos moram. A série então dá início a um jogo de poder e se revela como uma espécie de “Succession” dos trópicos e embalada por planos bem menos elaborados do que os dos herdeiros dos Roy. A comparação pode parecer esdrúxula, mas “Perfil Falso” brinca com ela até na trilha sonora, com uma música bem similar à de abertura da série da HBO tocando em alguns momentos.
Ao contrário de “Succession”, porém, a série colombiana abusa do melodrama narrativo e principalmente dos planos envolvendo sexo, proporcionando muita traição e muita pegação para todos os gostos. No arco de Adrian (Mauricio Hénao), irmão de Angela e também um possível herdeiro do império do pai, Vitor (Víctor Mallarino), “Perfil Falso” extingue a figura da pessoa LGBTQIA+ sofrida e traz personagens trambiqueiros, de caráter duvidoso e poucos pudores, mas também poderosos e influentes. Adrian começa como um coadjuvante, mas ganha importância (e cenas de sexo) à medida que o texto se desenrola.
Cheia de personagens e com algumas viradas até bem surpreendentes em dez episódios de cerca de 35 minutos (o último tem 45), “Perfil Falso” peca pelo exagero. A necessidade de muitas movimentações no roteiro cria coincidências horríveis e personagens introduzidos apenas para iniciar esses movimentos. É o caso de Vicente (Iván Amozurrutia), um ex-namorado abusivo de Camila apresentado no primeiro episódio como uma ameaça, mas mais tarde utilizado maneira bem ridícula; o mesmo acontece com alguns outros vizinhos do Riviera Esmeralda, ali apenas para questionar Camila.
“Perfil Falso” se leva a sério, mas não deve ser levada demasiadamente a sério. A série adota o absurdo das novelas mexicanas e introduz algumas boas surpresas em um universo bem fotografado e com boa trilha sonora. O texto, que parece não explicar nada na primeira metade da temporada, acaba sendo bem amarrado com algumas ideias boas e outras bem ridículas. Ao fim, trata-se de uma novelesca galhofa que só funciona se for interpretada dessa forma.
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