Protagonista de mais de 80 livros escritos por Erle Stanley Gardner (1889 - 1970), Perry Mason ganhou sua própria série de sucesso, exibida nos EUA entre 1957 e 1969. Nos episódios, movido por um grande senso de justiça, o personagem era um advogado de casos considerados indefensáveis que ele obviamente, ao lado dos colegas Della Street e Paul Drake, sempre dava um jeito de vencer - em apenas três dos 271 episódios da série original Mason perdeu o caso, mas, ainda assim, deu um jeito de salvar o dia.
Reinventado pela HBO em 2020, o personagem ganhou uma história de origem que causou certo estranhamento. Conhecemos Mason (Matthew Rhys) antes dele se tornar advogado, atuando como detetive particular em trabalhos nem sempre muito dignos. Tudo muda quando ele é contratado para investigar um caso muito popular que acaba se mostrando muito mais complexo. Ao final da temporada, Mason assume o caso como advogado e dá seus primeiros passos na profissão, mostrando também o personagem que todos queriam ver desde o início.
Na segunda temporada de “Perry Mason”, em exibição pela HBO e disponibilizada pela HBO Max com episódios às segundas, Mason lida com os traumas da temporada anterior - ele continua no Direito, mas se afastou dos casos criminais, o que diminuiu a oferta de bons casos. Sem os casos criminais, o investigador Paul Drake (Chris Chalk) também ficou sem função na organização.
A série continua com o clima de antes, com uma narrativa “noir” na ensolarada Califórnia e com uma sociedade ainda tentando se reerguer pós-Crise de 1929. Mason se mantém firme quanto aos novos casos, mas um novo crime cai em seu colo: dois jovens de ascendência mexicana teriam executado um herdeiro popular na cidade. Perry acredita que eles sejam inocentes e começa a investigar por conta própria antes de perceber que já está mergulhando de cabeça no caso.
A narrativa não tem pressa em estabelecer a situação de Mason como um advogado frustrado, defendendo poderosos contra pessoas mais pobres. O primeiro episódio também é ótimo ao desenvolver a vítima e em mostrar, por exemplo, as motivações que diversas outras pessoas teriam para matá-la. As investigações levam Mason e Drake a um passeio pela sociedade californiana da década de 1930 e suas várias camadas, dos mais poderosos aos mais miseráveis.
A nova temporada é bem menos violenta e tem um clima menos “sinistro” - a primeira, afinal, lidava com um crime contra um bebê -, mas isso não a torna menos interessante. Ao lidar com o trauma de Mason, a série lida com temas pesados, e Matthew Rhys se sai muito bem. O protagonista nunca está de fato confortável, há sempre algo que o incomoda, e isso fica claro na maneira em que ele é enquadrado ou até mesmo em suas vestimentas (a gravata sempre com o nó mal dado, a roupa com manchas de sangue). Mason é um personagem complexo, nem sempre agradável e nem sempre certo; suas dinâmicas com Street e Drake funcionam bem até para colocá-lo na direção certa, quase sempre num exercício de empatia.
A segunda temporada ganha ares de conclusão para a história iniciada, mas nada impede que novas histórias sejam criadas para o personagem. “Perry Mason” é uma série que tem na HBO a casa perfeita, pois poucos serviços possibilitariam uma narrativa totalmente adulta, com dez episódios que se preocupam bem mais em construir uma boa história do que em surpreender com viradas bobas e frequentes. Assim, a série convida o espectador a praticamente fazer parte da investigação e o recompensa quando a série chega a seu clímax.
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