“The Witcher” é uma série curiosa. Desde o lançamento da primeira temporada na Netflix, em dezembro de 2019, a saga de Geralt de la Rivia (Henry Cavill), Yennefer (Anya Chalotra) e Ciri (Freya Allan) sempre foi mais promissora do que de fato boa. Para respeitar o aspecto dos livros de Andrzej Sapkowski, a série optava por uma narrativa semi-procedural, com histórias quase individuais a cada episódio, enquanto desenvolvia a trama principal – o resultado era uma temporada picotada e personagens pouco desenvolvidos, mas sempre havia a promessa.
A Netflix entendeu a força pop, muito atrelada à imagem de Cavill, e tratou de explorar a marca. Lançou a razoável animação “The Witcher: A Lenda do Lobo” e o interessante, mas muito mal recebido, prelúdio “The Witcher: A Origem” com a ideia clara de deixar a marca sempre em sua vitrine. Isso, somado ao anúncio de que Cavill não retornará para uma quarta temporada (sendo substituído por Liam Hemsworth), fez com que a terceira temporada, lançada nesta quinta (29), chegasse cercada de expectativa.
Acontece que alguém na Netflix teve a “brilhante” ideia de dividir a temporada em duas partes com a justificativa de que “deu certo com ‘Stranger Things’”. O resultado é que a primeira parte da terceira temporada de “The Witcher”, em seus cinco episódios, pouco acrescenta à série ou a leva a outro lugar, mas continua com boas sequências de ação capitaneadas por Cavill.
A nova temporada dá sequência aos acontecimentos da anterior, com Geralt e Yennefer preocupados com o treinamento de Ciri e em mantê-la segura – todas as facções do Continente estão atrás da poderosa jovem, cada uma planejando um destino diferente, e nunca bom, para ela. A nova temporada, ao menos nessa primeira parte, se mantém muito fiel ao livro “Tempo do Desprezo”, quarta parte da saga de Geralt escrita por Sapkowski (o livro está disponível gratuitamente para assinantes Prime da Amazon), e leva essa adaptação muito a sério. Tudo nos novos episódios é descrito em diálogos, todos os sentimentos, todas as sensações, todos os ambientes. Em sua nova temporada “The Witcher” é uma série de personagens muito falantes, inclusive o sempre sucinto Geralt.
Os novos episódios passeiam por diferentes ambientes, com muitos personagens e tramas nas quais é fácil se perder. Há os elfos, há personagens antigos, como Triss (Anna Shaffer), há a ligação com o passado de Yennefer, com muitos momentos em Aretusa, escola em que ela “aprendeu” a magia, e há Redania, lar de novas e importantes peças do tabuleiro da série. Mesmo fiel ao livro, a série opta por deixar os jogos de poder em segundo plano, tentando manter seu foco no trio de protagonistas; Yennefer, inclusive, ganha muito tempo de tela e um desenvolvimento até mais interessante do que o de Geralt, cujo mistério acerca do passado faz parte do personagem. Como drama, no entanto, a terceira temporada de “The Witcher” carece um pouco daquela relação quase paterna de Geralt com Ciri, o que existia na temporada anterior.
É louvável o esforço dos produtores para manter a série alinhada com os livros e os jogos. “The Witcher” recompensa os fãs com vários personagens que ganham pequenos arcos, como Otto Dussart (Dempsey Bovell), um personagem conectado ao passado de Geralt e que nos ajuda a entender o protagonista e suas escolhas. Ao mesmo tempo, o texto se preocupa com os espectadores casuais com as tramas principais e a conspiração que ganha força entre os poderosos do Continente.
O principal atrativo da série continua sendo as boas cenas de ação. Os novos episódios retomam os longos takes da primeira temporada, enfatizando as habilidades de Geralt (e Cavill) e as boas coreografias da equipe de dublês. É sempre interessante ver o bruxo em ação contra humanos (e outras espécies interpretadas por humanos) e monstros, um dos principais atrativos do universo de “The Witcher”, mesmo que eles sofram com a computação gráfica nem sempre funcional (principalmente nas cenas diurnas).
A constatação que a nova temporada entrega é que será difícil para “The Witcher” sem Henry Cavill. A química do ator com Anya e Freya é a força motriz da série, é o que faz com que o espectador se preocupe com Geralt, Yennefer e Ciri em meio a tramas que nem sempre fazem muito sentido.
Ao fim, a conclusão desta primeira parte é um pouco frustrante, com aquela sensação de que o corte é exatamente no momento em que a temporada parece engrenar no quinto e “ousado” episódio. A boa notícia é que os episódios restantes chegam em menos de um mês, em 27 de julho, quando toda a construção textual da despedida de Henry Cavill do papel deve chegar a seu ponto alto, deixando as coisas ainda mais complicada para o caçula dos Hemsworth.
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