“Ninguém morre em Skarnes”. Essa frase é dita algumas muitas vezes durante os seis episódios de “Post Mortem”, série norueguesa lançada pela Netflix que ganhou inclusive tal frase como subtítulo no Brasil.
De fato, a pequena cidade de menos de 2500 habitantes e cuja personalidade mais famosa a sair de lá é o atacante Kent Håvard Eriksen, hoje no modesto Mjøndalen, da primeira divisão da Noruega, não está habituada às mortes não naturais, para o desespero da família Hallangen, dona da funerária local. Assim, é uma surpresa para os policiais quando um corpo aparece numa região deserta.
Falecida de causa misteriosa, Live Hallangen (Kathrine Thorborg Johansen) é levada à mesa de autópsia e acorda durante o procedimento, horas após ser declarada morta. O caso é tratado como um erro policial, mas o pai de Live parece saber mais do que aparenta - ele receba a notícia da “volta” da filha com um mix de tristeza e desespero.
Logo, Live percebe que não é a mesma. Seus sentidos parecem mais aguçados e ela sente também uma inexplicável sede por sangue. Sim, “Post Mortem: Ninguém Morre em Skarnes” é uma série de vampiros, ou algo bem próximo disso.
Ao contrário do que estamos habituados a consumir das produções nórdicas, “Post Mortem” é bem-humorada e leve. É interessante como o texto consegue misturar essa leveza a uma crescente tensão e à obviedade de que algo bem sinistro está acontecendo com Live. O clima de cidade pequena de Skarnes ajuda a construir essa tensão, assim como o ótimo trabalho de mixagem de som, que potencializa os sons ouvidos por Live e nos faz sentir a mesma angústia que ela com os ruídos sonoros.
O humor de “Post Mortem” é às vezes quase involuntário, como quando Odd (Elias Holmen Sørensen) recebe notícia sobre a morte de alguém, ou na dinâmica entre os policiais Reinert (André Sørum) e Judith (Kim Farichild), nada confortáveis ao lidar com mortes. Este ponto, inclusive, causa certa estranheza, pois estamos acostumados a policiais de séries americanas, sempre bélicos, sempre sabendo exatamente o que fazer e encontrando o culpado com facilidade.
A série, porém, não é só humor. “Post Mortem” tem momentos de muita tensão antes de entendermos o que está acontecendo. O espectador descobre tudo junto com a protagonista, recurso que funciona bem para aproximar o público da personagem. Todo o mistério acerca do que está realmente acontecendo com a jovem não é exatamente bem explicado, o que pode incomodar os mais ávidos por explicações.
O roteiro trata a “maldição” de Live de forma misteriosa, com poucas informações a respeito, da forma que provavelmente aconteceria fora das telas. O texto gradualmente desenvolve um pouco o assunto, com informações desencontradas, uma pista aqui e outra acolá, mas nada muito aprofundado.
O problema de “Post Mortem” é que a narrativa se torna repetitiva e cansativa quando entendemos a dinâmica da série. O roteiro é cheio de “quases”, uma coisa meio "Dexter", criando situações para que personagens quase sejam pegos, mas em que algo sempre acontece de última hora e eles consigam se safar. A construção dessa tensão funciona da primeira, da segunda e até da terceira vez, mas a partir da quarta o espectador já não espera mais nada daquelas situações. O texto pelo menos tem a dignidade de não guardar todas essas situações para o gancho de cada episódio - a série, vale ressaltar, tem ótimos ganchos, o que torna uma maratona dos seis episódios de 45 minutos quase inevitável.
“Post Mortem: Ninguém Morre em Skarnes” é uma boa surpresa, uma série que mistura tensão e humor em doses interessantes, sem nunca pesar a mão em nenhuma de suas características. A série norueguesa mostra a variedade da produção nórdica, habitualmente dedicada a séries policiais, em um produto interessante e com possibilidade criativas para novas temporadas.
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