A única coisa que justifica a existência de “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” é o fato de a obra de A. A. Milne ter entrado em domínio público nos EUA em 2022, tornando possível a utilização de Pooh, Christopher Robin e o resto da turma em qualquer obra, ou quase isso. Nenhuma nova história pode remeter aos personagens que a Disney transformou em filme em 1966.
“Ursinho Pooh: Sangue e Mel” é um filme quase amador e muito me lembra um exercício de Literatura da sexta ou sétima série, quando eu e meus colegas de turma tivemos que criar uma história a partir do clássico “João e Maria”. À ocasião, este que vos escreve criou uma história sangrenta em que João eliminava todos os outros personagens com um machado – meus pais foram chamados à escola após esse episódio, mas isso é outro assunto.
Escrito e dirigido por Rhys Frake-Waterfield, o filme lançado discretamente nos cinemas, mas agora com grande distrobuição no Prime Video, tem início com uma animação explicando quem são aqueles personagens. O texto explica que o pequeno Christopher Robin conheceu os “híbridos” quando criança, no Bosque dos Cem Acres, os alimentou e, quando partiu para a universidade, os abandonou. Sozinhas, As criaturas passaram fome e até precisaram se alimentar de alguns colegas para sobreviver, se tornando bestas selvagens e jurando se vingar de Robin a qualquer custo.
Passados cinco anos, Christopher (Nikolai Leon) volta ao bosque acompanhado da noiva, Mary (Paula Coiz) e seus antigos amigos fofinhos, agora violentas e bizarras máquinas de matar, finalmente têm a chance de se vingar. Tudo isso é mostrado em 15 minutos de “Ursinho Pooh: Sangue e Mel”, que logo muda o foco para um grupo de amigas que decide passar um final de semana de descanso em uma casa no meio da floresta mesmo que os créditos do filme mostrem que o lugar se tornou violento e não recomendado a ninguém. Maria, a protagonista, lida com problemas após uma experiência traumática e precisa de um descanso; a única regra do grupo é a proibição de smartphones ou qualquer contato com o resto do mundo.
É óbvio que Pooh e Leitão (Tigrão não teve sua utilização liberada) chegam à casa e as jovens se tornam alvos. “Ursinho Pooh: Sangue e Mel”, no entanto, é muito ruim em tudo o que tenta – o filme não funciona como um terror slasher ou tampouco como uma narrativa mais tensa. Rhys Frake-Waterfield até tenta criar uma atmosfera de terror, emulando filmes como “Sexta-feira 13”, mas toda tentativa é frustrada pela falta de talento do diretor e de todos os envolvidos no filme.
Neste ponto, é bom deixar claro: “Ursinho Pooh: Sangue e Mel” é absolutamente ruim até mesmo como filme trash. Sem o potencial gore de um “Terrifier” ou a comicidade de um “Evil Dead” da vida, o filme se leva a sério demais. Pooh e Leitão parecem dois adultos com máscaras de urso e porco, respectivamente, nunca dando um aspecto mais fantasioso ao filme ou explorando o contraste de criaturas fofinhas se tornando assassinos em série.
“Ursinho Pooh: Sangue e Mel” é um filme pouco criativo, um grande erro para uma obra de baixo orçamento. Não há surpresas ou construção de tensão, culpa de uma edição que parece nunca saber o peso de cada cena; quando alguma decisão mais ousada é ensaiada, o texto busca o clichê, o esperado. O roteiro não desenvolve personagens, fazendo com que o público não se importe com nenhuma das meninas do grupo principal e tornando-as apenas vítimas para a violência dos assassinos. Ainda, isso tira do filme a única coisa que desperta algum interesse, a premissa que tenta trazer de volta no terceiro ato em busca de comoção.
“Ursinho Pooh: Sangue e Mel” poderia ser divertido, trash, uma galhofa, mas é uma obra constrangedora que não vale ser assistida nem de graça. Distribuído no Brasil como um sucesso “alternativo” do terror, o filme é assustadoramente ruim até mesmo para um filme de baixo orçamento. Fica claro que Rhys Frake-Waterfield não tem muito ideia do que escreve, filme ou edita. Os pais dele deveriam ser chamados no estúdio para conversar com os executivos sobre essa atrocidade.
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