Prometida como uma "nova" "The Vampire Diaries", “Primeira Morte”, série lançada pela Netflix, é uma espécie de “Romeu & Julieta” que troca a rivalidade das famílias Montecchio e Capuleto pela eterna rivalidade entre… vampiros e caçadores de vampiros.
Criada a partir do conto homônimo de V. E. Schwab, a série acompanha Juliette (Sarah Catherine Hook), uma vampira adolescente descendente de uma linhagem de poderosos vampiros, e Calliope (Imani Lewis), que, por ironia do destino, vem de uma família com tradição de caçar monstros. Ambas estão em momentos decisivos da vida e precisam fazer escolhas que podem definir seus futuros.
Juliette se vê pressionada pela mãe, Margot (Elizabeth Mitchell), a realizar o rito de passagem vampiresco: sangrar o primeiro humano. Já Calliope convive com a expectativa da família para que ela mate seu primeiro monstro - seus irmãos mais velhos eram mais novos do que ela quando passaram pela tarefa. Quando o caminho das duas jovens se cruza e elas se veem diante das chances de superarem essas etapas do amadurecimento de acordo com as pressões familiares, o inesperado acontece e elas acabam em uma pegação que obviamente se transformará em um relacionamento proibido que coloca não apenas a vida delas em risco, mas a de suas famílias que ameaçam quebrar tradições centenárias.
“Primeira Morte” usa seus primeiros episódios para apresentar as duas protagonistas e o relacionamento entre elas. Assim, os episódios iniciais da temporada têm uma pegada mais série de romance adolescente, com duas meninas se conhecendo e se apaixonando. Apesar do esforço do roteiro para vender uma paixão repentina avassaladora, soa como um exagero o comprometimento imediato e inabalável das duas após acabarem de se conhecer.
As consequências desse relacionamento são deixadas para a segunda metade da temporada, que ganha uma narrativa mais séria centrada no peso das escolhas feitas por Juliette e Calliope. Quando se torna mais séria, “Primeira Morte” se torna também mais desinteressante - toda discussão sobre a necessidade de mudanças, transformações e valores é superficial e expositiva. Não há sutileza alguma no texto ao tratar desses temas e a narrativa, para deixar bem claro caso alguém não tenha entendido, traz até uma narração em off para reforçar o discurso. A falta de sutileza atinge também a referência de “Romeu & Julieta”, que vira peça a ser ensaiada na escola e com troca de falas entre as duas protagonistas.
Em busca da construção de um universo próprio, um lore, o roteiro, mesmo que de forma ingênua, se esforça para mostrar a origem da rivalidade histórica entre vampiros e caçadores - ele também traz outros monstros que sofrem com uma computação gráfica de qualidade duvidosa. Outros personagens, como Oliver (Dylan McNamara) e Theo (Phillip Mullings Jr.) também têm histórias paralelas que podem servir de material para possíveis novas temporadas.
Lutando o tempo todo para fugir do rótulo de série adolescente genérica, “Primeira Morte” não é ruim, mas tampouco é uma série que desperta o interesse imediato ou que será recomendada com entusiasmo. A química entre as protagonistas é apenas razoável, apesar da tentativa de desenvolver a relação com mais cuidado, tornando, assim, difícil comprarmos a ideia de que esse amor pode ser o responsável por uma mudança de grandes proporções em uma cultura de milhares de anos.
A sensação é de que “Primeira Morte” é um passatempo inofensivo, de fácil consumo, em um universo de fantasia com uma relação amorosa de possibilidades interessantes. Nada disso, porém, desperta no espectador aquela vontade de continuar assistindo episódio após episódio. É mais um romance de fantasia adolescente da Netflix, um texto corretinho do início ao fim que tenta vender uma transgressão, mas tem tudo devidamente controlado para acertar um nicho não incomodar demais outros.
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