A esta altura você já sabe que Bong Joon Ho fez história no Oscar. Diretor e roteirista de “Parasita”, o cineasta coreano é o responsável pelo primeiro filme de língua não-inglesa a levar o prêmio de Melhor Filme, o principal do Oscar, em 92 anos de cerimônia. Vale ressaltar que “O Artista”, vencedor do Oscar de Melhor Filme em 2012, é francês, mas é mudo e as únicas palavas pronunciadas no filme são em inglês. “Parasita” também foi o primeiro filme coreano a levar a Palma de Ouro em Cannes. Mas quem é Bong Joon Ho?
O cineasta coreano de 50 anos é um sujeito tímido, que faz piada quando fica nervoso e não sabia como agir ao vencer os Oscar de Direção, Filme Internacional e Roteiro Original. Com o Oscar de Direção em mãos, homenageou o mestre Martin Scorsese e Quentin Tarantino. "Quando eu era jovem e estava começando no cinema, havia uma frase que eu coloquei no fundo do meu coração: 'O mais pessoal é o mais criativo'. Essa frase era do grande Martin Scorsese", falou, em coreano, com a devida ajuda de uma tradutora (a pessoa que mais subiu ao palco do Oscar no último domingo).
Bong Joon Ho surgiu para o mundo em seu segundo longa, o excelente “Memórias de um Assassino” (2003), um suspense policial sobre um assassino serial em uma cidade pequena na Coreia. O filme se tornou cult e o hoje faz parte da lista dos 200 melhores filmes do site “IMDB”.
O reconhecimento internacional veio três anos depois, com o terror “O Hospedeiro” (disponível na Netflix). O filme foi um sucesso de bilheteria na Ásia e se tornou a maior bilheteria da história da Coreia, além de ter sido exibido em Cannes e rodado o mundo. Quentin Tarantino , em 2009, colocou tanto “O Hospedeiro” quanto “Memórias de um Assassino” em sua lista de melhores da década. Ele também comparou o trabalho de Bong ao de Steven Spielberg dos anos 1970 - Bong era considerado um dos novos nomes a serem observados na indústria.
Em Hollywood
O filme seguinte, o excelente “Mother - A Busca Pela Verdade”, seguiu o mesmo caminho. Era questão de tempo para que o coreano desembarcasse em Hollywood. Sua estreia por lá, no entanto, não foi fácil; “Snowpiercer - O Expresso do Amanhã” passou por vários problemas de produção, a maioria deles ligados a Harvey Weinstein. O ex-poderoso de Hollywood não estava satisfeito com o filme, achava que tinha diálogo demais e queria ver Chris Evans, já famoso pelo Capitão América, mais tempo em tela.
Em entrevista ao “Vulture”, o cineasta coreano lembrou de seu encontro com Weinstein. “Até aquele momento eu só tinha lançado filmes do jeito que eu queria”, contou. O produtor queria cortar uma cena em que um soldado estripa um peixe para intimidar rebeldes, ele não via sentido naquilo. “Por que um peixe? Precisamos de ação”, pontuou, antes de Bong responder: “Essa cena tem um significado para mim. Meu pai era pescador e quero dedicar essa cena a ele”. Weinstein, então, cedeu dizendo que “família é importante”. Acontece que não era bem isso.... “Foi uma porra de uma mentira. Meu pai não é pescador”, revelou o diretor, num belo plot twist. Após a batalha, a versão de “Snowpiercer” (disponível tanto na Netflix quanto no Amazon Prime Video) que chegou aos cinemas é a de Bong Joon Ho.
“Okja”, lançado pela Netflix em 2017, foi mais um marco. Lançado em Cannes, o filme foi vaiado quando o logo da gigante do streaming surgiu em tela - era o começo da discussão sobre a exibição dos filmes lançados diretamente nos serviços marcar presença em festivais.
Assinatura
Em seus filmes, Bong normalmente mistura gêneros com louvor; um drama policial se torna um suspense, um horror ganha ares de humor, por aí vai. O diretor também gosta das diferenças sociais e do conceito de “filme de monstro”. mesmo não seja uma criatura propriamente dita. O monstro pode ser um assassino serial, o responsável por um crime, um sujeito no sótão, o capitalismo ou, como em “O Hospedeiro”, um monstro de verdade.
Por mais diferentes que sejam seus filmes, o cineasta consegue dar a todos algumas características comuns: um humor sombrio, montagem ágil e apuro visual.
Bon Joon Ho faz parte de uma geração de cineastas coreanos que começou a brilhar no início da década de 2000. Foi nessa época, empolgado pelo sucesso de uma novela coreana na China, que o governo sul-coreano resolveu investir em cultura para exportação. Pode não parecer, mas o cinema está diretamente ligado ao sucesso do k-pop mundo afora - o mundo passou a consumir mais a Coreia e, por consequência, a cultura feita no país. Para se ter ideia, o turismo por lá triplicou nos últimos 15 anos. Não é à toa.
O diretor de "Parasita" pode ser o que está nos holofotes no momento, mas não é o único. Antes dele, o cinema coreano viu nomes como Park Chan-wook ("Oldboy", "A Criada"), Kim Ki-duk ("Pietá", "Primavera, verão, outorno, inverno.... e primavera") e Lee Chang-dong ("Em Chamas"), entre outros, serem premiados em festivais mundo afora. Há também filmes como o recente "Invasão Zumbi" (disponível na Netflix), de Yeon Sang-ho, sucesso de bilheteria até no Brasil, onde não ficou restrito ao circuito alternativo, tendo invadido as salas comerciais.
"Parasita" na TV?
Bong Joon-Ho agora trabalha em um spinoff de “Parasita” para a HBO, vencedora de um verdadeiro leilão com a Netflix pelo material. Ao lado de Adam McKay (“Succession”), o cineasta vai criar novas histórias dentro daquele universo. “Quando escrevi a série tinha muitas histórias que queria contar, mas que não caberiam em duas horas de filme. Essa é minha chance”, disse, em entrevista ao “Indiewire”.
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