Marie Curie é um dos maiores nomes da ciência de todos os tempos. Nascida Maria Skłodowska, na Polônia, adotou o Marie ao se mudar para a França e o Curie ao se casar com o físico francês Pierre Curie. Com o também físico Henri Becquerel, foram homenageados com um Nobel de Física por pesquisas com a radioatividade.
Marie Curie foi a primeira mulher a vencer o prêmio e se tornaria, anos depois, a primeira pessoa a vencê-lo duas vezes, desta vez tendo seu trabalho reconhecido como química. Ainda hoje, Marie é, ao lado de Linus Pauling, a única vencedora de dois Nobel em duas áreas diferentes. Pauling, vale ressaltar ganhou um da Paz, ou seja, um reconhecimento não relacionado a suas pesquisas.
“Radioactive”, lançado nesta quinta (15) pela Netflix, conta a história de Marie Curie com algumas liberdades criativas, mas retratando a importância de suas descobertas e tudo o que elas lhe causaram. Quando conhecemos Marie (Rosamund Pike), ela já está na França e faz parte da comunidade científica, mas encontra dificuldades para realizar suas pesquisas. Sua vida dá uma guinada quando ela conhece Pierre Curie (Sam Riley) e eles desenvolvem uma parceria de trabalho e de vida.
O filme dirigido por Marjane Satrapi (“Persépolis”) a partir da HQ de Lauren Redniss tem uma narrativa interessante. Inicialmente bem padrão, com a protagonista revendo sua vida a partir de um leito de hospital, o texto logo oferece alguns desdobramentos. A cada nova descoberta dos Curie, somos levados ao futuro para ver suas aplicações - da radioterapia à bomba atômica, ou seja, da cura à destruição. O recurso resulta em uma manipulação de sentimentos do espectador, mas funciona para o que texto se propõe.
Marie Curie era uma mulher brilhante e arrogante. Ela utilizava essa postura de “ninguém mexe comigo” como resistência às sociedades francesa e polonesa e à comunidade científica. O roteiro deixa de fora o retorno de Marie à Polônia antes de seu casamento, quando uma vaga na universidade lhe foi negada por ser mulher. Também não está presente no filme uma questão que sempre a incomodou: quando era premiada, era um orgulho da França, pois havia se naturalizado, mas, quando associada a doenças, era polonesa. Apesar dessas ausências, o texto impõe a Marie dificuldades na supostamente progressista França, quando é “acusada” de ser uma “judia e suja” mesmo sendo de origem católica.
O texto também toma outras liberdades para criar conflitos na trama, como, por exemplo, a ida de Pierre para receber o Nobel - na realidade, nenhum dos dois foi por estarem muito ocupados com o trabalho. Falta ao filme de Marjane Satrapi, no entanto, uma exploração maior de outros recortes da vida da cientista. O arco final, com a atuação de Marie e da filha Irene (Anya Taylor-Joy), deveria ser menos atropelado, mas é o ritmo escolhido pelo filme. Com acontecimento atrás de acontecimento, nem sempre dá tempo para o espectador entender a relevância de cada descoberta.
“Radioactive” não é incrível, mas funciona como um bom estudo de personagem, um filme sobre sacrifícios, e como um registro/apresentação da vida de Marie Curie. Rosamund Pike se sai muito bem como Marie, com ênfase na arrogância e na postura de resistência da cientista. A direção de Marjane Satrapi é correta, quebrando um pouco o ar de biografia e tentando reunir diferentes arcos da HQ em uma história mais fluida. Nem sempre funciona, mas tem ótimos e emocionantes momentos.
Este vídeo pode te interessar
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.