A pequenina e fictícia Edda, na Noruega, está de volta ao centro do mundo. A “última cidade do país a se tornar cristã” foi criada especialmente para receber a trama da série norueguesa “Ragnarok”, que mistura mitologia nórdica com trama adolescente e críticas ambientais. A série foi um dos inesperados sucessos da Netflix em 2020 e agora retorna à plataforma para sua segunda temporada.
Voltando à temporada anterior, vimos Magne (David Stakston) se descobrindo como Thor ao mesmo tempo em que descobria que os Jutul, família mais poderosa da cidade e donos da empresa que emprega praticamente todo mundo por lá, eram gigantes, uma raça de antagonismo aos deuses nórdicos. Ao final do sexto episódio, o aguardado conflito entre Magne e Vidar fazia o espectador crer que veríamos muito mais disso na segunda temporada… Ledo engano.
Em mais uma leva de seis episódios de cerca de 45 minutos cada, “Ragnarok” desacelera. Enquanto a primeira temporada era praticamente o arco de Magne como Thor, a segunda investe mais tempo na construção de Lauritis (Jonas Strand Gravli) como Loki. São muitas idas e vindas para justificar o comportamento errático do jovem e de alguma forma encaixar o nome mais complexo da mitologia nórdica na série.
A segunda temporada funciona quase como uma construção de exércitos para o conflito final, com Loki sempre flutuando entre os dois lados. Não é necessário se rum estudioso da mitologia nórdica para entender os principais conceitos da série - no início de cada episódio há uma contextualização acerca de um personagem que será desenvolvido pelos próximos 40 minutos. É didático, mas funciona.
Há, no entanto, uma sensação de frustração, de termos sido enganados ao não encontrarmos aquilo que procurávamos nos novos episódios. A segunda temporada tem bons momentos, alguns arcos interessantes e umas escolhas até ousadas. É interessante ver o esforço dos roteiristas para encaixar arcos da mitologia nórdica em uma trama adolescente - se você sabe o motivo da rivalidade entre Thor e Loki, por exemplo, entenderá logo qual o destino de alguns personagens na série.
O problema é que essas inserções nem sempre são naturais. Se por um lado funciona para a rivalidade entre os irmãos, por outro tem algumas histórias que forçam muito a barra - é o caso dos arcos de Freya, Fyr e, principalmente, de tudo o que envolve a serpente de Loki.
Mesmo com um arco complicado em mãos, Jonas Strand Gravli se sai muito bem. Ao contrário de David Stakston, com um Magne/Thor bem superficial, o Lauritis/Loki de Strand Gravil é um personagem complexo. Andrógino e em uma constante transformação, Lauritis é em torno de quem o roteiro orbita - está presente em todos os momentos de virada da trama mesmo sem ser o protagonista.
“Ragnarok” agora deixa de lado um pouco os relacionamentos pessoais para investir na mitologia. Não é que os namoricos adolescentes não estejam presentes no texto, eles apenas não representam o centro das histórias. Há bons arcos dramáticos de relacionamentos, como o de Fjor (Herman Tømmeraas) e Gry (Emma Bones), mas eles servem apenas como recurso para decisões do roteiro.
Com protagonismo adolescente, a série norueguesa parece cada vez mais próxima de algo meio “Crepúsculo” ou “The Vampire Diaries”, o que é mais uma constatação do que uma crítica. “Ragnarok” às vezes é meio gratuita - aparentemente todos os deuses nórdicos estão lá por Edda -, mas é eficaz no que se propõe a fazer e justifica todas as suas escolhas. Cabe à audiência comprar ou não essas justificativas que nem sempre são muito boas.
O grande problema da série é não suprir as expectativas construídas na primeira temporada. A impressão final é de que, apesar de alguns acontecimentos, a trama não caminhou tanto quanto deveria e o prometido confronto, o “fim do mundo”, ficou para os próximos anos. A segunda temporada, tal qual a primeira, se encerra com a promessa de um grande combate, mas, se continuar assim, corre o risco de “Ragnarok” ser cancelada sem nunca chegar ao evento que dá título à série.
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