Lançado em 1940, “Rebecca” é um dos clássicos que construiu o legado e a fama de Alfred HItchcock (1899 - 1980). Vencedor do Oscar de Melhor Filme em 1941 (e também de Melhor Fotografia Preto e Branco), o filme acompanha uma jovem simples às voltas com a família aristocrata do marido e as eternas comparações com a falecida primeira esposa dele, a tal Rebecca - uma grande jornada de traição, sexo, romance e assassinato, um thriller quase impecável.
O filme de Hitchcock é baseado no livro homônimo de Daphne Du Maurier, mesmo livro que serve de inspiração para “Rebecca”, longa dirigido por Ben Wheatley (do ótimo “No Topo do Poder”) e lançado pela Netflix na última semana. A trama é a mesma: após um caso apaixonado em Monte Carlo com o sedutor viúvo Maxim de Winter (Armie Hammer), uma humilde e ingênua jovem (Lily James) que trabalha como acompanhante de idoso se casa e se muda para a longínqua propriedade da família do marido, Manderley.
Cheia de sonhos e aspirações, a jovem logo percebe que viverá sempre à sombra da falecida Rebecca de Winter - ela inclusive é proibida de frequentar uma ala da mansão pela qual Rebecca costumava passear. Aos poucos, a paixão de Maxim por ela amansa e as comparações com a finada são sempre reforçadas pela governanta (Kristin Scott Thomas), que faz questão de dizer que a atual esposa pode até ser “ok”, mas nunca chegará aos pés da falecida. Se a premissa é tão parecida, porque o “Rebecca” de Hitchcock funciona e o de Wheatley não?
O filme lançado pela Netflix se mantém mais próximo do material original, o livro, mas não é só isso - ele carece de sutileza, tensão sexual o clima constante de thriller erótico que permeia o filme de 1940, realizado sob a vigência do Código Hays, um conjunto de normas morais que vigorou em Hollywood até o final da década de 1960. A comparação talvez não seja justa, pois já faz 80 anos que o filme foi lançado e o público atual não tem obrigação nenhuma de conhecê-lo.
Ben Wheatley é um diretor talentoso, mas talvez a escolha errada para “Rebecca”. Ao contrário do filme de 1940, o lançamento da Netflix tira muito da imaginação e expõe em tela, e isso nem sempre funciona bem - mas é justo dizer que parte da responsabilidade disso é mais do roteiro do que do próprio diretor.
Wheatley falha é em construir a tensão e o mistério que ronda Manderley - o terror gótico praticamente desaparece e toda construção sobre sexo e morte se torna morna desde o início, nos primeiros encontros do casal em Monte Carlo. Há poucos jogos de sedução e poder em “Rebecca”.
Ao fim, o “Rebecca” de Ben Whaetley não é ruim, ele apenas, tal qual sua protagonista, vive à sombra de algo inalcançável. Há bons momentos quando o filme lembra um terror moderno, independente, mas elas são poucas e espaçadas. O principal problema é o roteiro que parece não entender que o que fez o filme de Hitchcock um clássico foi o poder da sugestão e a tensão sexual constante entre os personagens, e não apenas protagonistas bonitos e um suposto mistério.
Dito isso e correndo o risco de parecer não fazer sentido, o filme pode funcionar bem para quem não tem ideia da existência de um original dirigido por um dos maiores nomes da História do cinema e quer apenas ver um drama com pitadas de thriller e personagens bonitos desfilando pela tela.
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