Em 23 de janeiro, quando o nome de Regina Duarte ainda era ventilado para substituir Roberto Alvim como Secretária Especial da Cultura, A Gazeta publicou um artigo de opinião com o título “Regina Duarte pode ser um sopro de bom senso na Cultura”. O texto, em tom otimista, trazia opiniões como “mesmo que a atriz, por seu conservadorismo declarado, divida opiniões na classe artística, historicamente posicionada mais à esquerda, ela está anos-luz distante do extremismo que havia se apoderado da secretaria”.
A posição da atriz/secretária veio à tona, mostrando que o alardeado otimismo não tinha fundamento algum, em matéria exibida pelo “Fantástico”, no domingo, dia 8, quando, entrevistada por Ernesto Paglia, Regina confirmou que seu alinhamento é muito mais com o obscurantismo de Bolsonaro e Roberto Alvim do que com a classe artística.
Vale lembrar, inclusive, que a atriz, em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo” em novembro de 2019, apoiou a nomeação de Alvim, que pouco antes havia ofendido Fernanda Montenegro por um ensaio fotográfico contra a censura. “Porque a classe teatral que aí está é radicalmente PODRE. E com gente hipócrita e canalha como eles, que mentem diariamente, deturpando os valores mais nobres de nossa civilização, propagando suas nefastas agendas progressistas, denegrindo nossa sagrada herança judaico-cristã, bom – com essa corja não há diálogo possível”, proferiu, à época, o apoiado por Regina Duarte.
Voltando à entrevista ao “Fantástico”, Regina até tentou adotar um tom conciliatório, mas derrapou feio ao mandar um “eles que lutem” para as minorias. “Você não vai fazer filme pra agradar a minoria com dinheiro público”, disse, ao ser questionada sobre a guinada conservadora do governo para coibir formas de manifestação artística. Ela completou: “todos estão livres para se expressar, contanto que busquem patrocínios na sociedade civil”.
Para o governo do qual Regina Duarte faz parte, tudo o que não é branco, cristão, conservador e heterossexual é minoria - na verdade, qualquer um que não tenha votado no atual presidente. A atriz, acostumada a viver suas “Helenas” no Leblon, não parece entender que a arte (e o governo) é para todos.
A secretária também não entende que o dinheiro que ela diz ser “público”, do Fundo Setorial do Audiovisual, não é público, ele apenas é administrado pelo governo. A principal fonte de receita do fundo é a própria atividade audiovisual, pela arrecadação da Condecine (Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional). O setor audiovisual movimenta anualmente mais de R$ 20 bilhões, gera empregos diretos e indiretos, e a cada R$ 1 investido, traz um retorno de R$ 2,60 em tributos.
Regina, espero, não gravará um vídeo com estética nazista ou copiará um discurso de Joseph Goebbels, mas o conceito de cultura, para ela, é similar ao de Alvim (e de Goebbels): eles veem a arte como um dirigismo cultural, uma forma de controlar e manipular a opinião pública. Como escrevi à época, “cai o secretário, permanece sua ideia de higienização da arte”.
CORONAVÍRUS
Na coluna da semana passada falei sobre os impactos do coronavírus na cultura pop. Desde então, muita coisa aconteceu. Tom Hanks e Rita Wilson foram diagnosticados com o vírus; as estreias de “Velozes e Furiosos 9”, “Um Lugar Silencioso 2”, “Mulan”, “Novos Mutantes” e dos filmes sobre Suzanne Von Richthofen foram adiadas. O festival Coachella, na Califórnia, não será realizado. Shows internacionais no Brasil, como o da banda Converge, em São Paulo, seguiram o mesmo caminho; o Lollapalooza teve suas edições na Argentina e no Brasil postergadas - por enquanto não há definição de novas datas. Ainda há mais por vir.
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