Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Resgate 2", da Netflix, impressiona com ação espetacular

Continuação do sucesso de 2020, "Resgate 2" não prima pela originalidade, mas compensa com algumas das mais espetaculares sequências de ação já filmadas

Vitória
Publicado em 15/06/2023 às 09h01
Filme
"Resgate 2" é ainda mais ambicioso que o filme anterior. Crédito: Jasin Boland/Netflix

Quando “Resgate” foi lançado, em abril de 2020, pegou todo mundo de surpresa. Dirigido por Sam Hargreaves, um ex-dublê no comando de seu primeiro grande projeto, e estrelado pelo astro Chris Hemsworth (o Thor da Marvel), o filme trazia excelentes cenas de ação e um espírito de blockbuster até então pouco visto nas produções originais Netflix. Na crítica do primeiro filme, encerro o texto com as palavras: “a Netflix tem em mãos uma possibilidade interessantíssima de franquia”. Felizmente eu estava certo.

“Resgate 2”, que chega dia 16 à plataforma, segue a fórmula do primeiro filme, mas tem plena ciência da obrigação de ser maior em tudo o que tenta. O longa tem início mostrando exatamente o que aconteceu com Tyler Take (Hemsworth) após os acontecimentos de Bangladesh, no filme anterior, mas o fato de Tyler ter sobrevivido provavelmente não espanta ninguém.

Em uma espécie de prólogo, acompanhamos o resgate e a recuperação do mercenário antes de sua suposta aposentadoria em uma casa isolada e cheia de animais. Claro que essa calmaria não dura muito e um misterioso e imponente homem aparece com uma proposta que Tyler até recusaria se não envolvesse a família de sua ex-esposa e, novamente, crianças. Nessa introdução também somos rapidamente apresentados aos antagonistas, dois irmãos georgianos que comandam um império criminoso na Armênia – há pouco desenvolvimento além de apresentá-los dando ao espectador a noção do tamanho da ameaça. Tudo isso não dura mais que 25 minutos, ou seja, ainda há muito tempo para a ação.

Quando menos percebemos, estamos no plano de resgate dentro de uma prisão lotada de sujeitos perigosos. Logo se percebe, também, a ausência de cortes na sequência da extração; se o primeiro filme tinha um suposto plano sequência de 12 minutos, o novo filme mira alto em uma ambiciosa cena de 21 minutos, supostamente sem cortes, envolvendo cerca de 300 figurantes, muitos embates físicos, perseguição de carros, um trem em movimento e até um helicóptero.

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"Resgate 2" é ainda mais ambicioso que o filme anterior em suas cenas de ação. Crédito: Jasin Boland/Netflix

“Resgate 2” coloca o espectador dentro da ação de maneira impressionante, com uma violência crua, sem grandes espetáculos, e que parece perfeitamente plausível para quem já viu Rake em ação. As coreografias são ótimas e dão peso à ação sem que tudo pareça um grande balé sem alma.

Grande parte do filme se passa em Viena, na Áustria, uma localidade bem mais urbana que a do filme anterior. Há momentos grandiosos além da já citada invasão à prisão, como uma excelente sequência no prédio, na qual personagens utilizam o “chão” de vidro quase como recurso durante a luta. É também durante essa sequência que o filme traz rostos conhecidos do filme de 2020, como Nik (Golshifteh Farahani) e Yaz (Adam Bessa), que têm boas e intensas cenas de ação e seus momentos de brilho.

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"Resgate 2" é ainda mais ambicioso que o filme anterior em suas cenas de ação. Crédito: Jasin Boland/Netflix

Se por um lado a ação é espetacular, por outro o roteiro não se preocupa tanto com a originalidade. Mesmo cheio de novos personagens, falta um como Saju (Randeep Hooda), que brilha nas sequências de luta do primeiro filme ao lado do protagonista – os gângsters georgianos são ameaçadores, claro, e têm um exército em mãos, mas nunca parecem à altura de Rake.

“Resgate 2” também sofre com a exposição de alguns diálogos, um problema recorrente nos textos escritos por Joe e Anthony Russo, que mais uma vez assinam o roteiro e a produção do filme. A sequência inicial é um festival de didatismo, com tudo sendo explicado em diálogos pouco criativos, uma muleta narrativa. Não é difícil, também, imaginar o destino de alguns personagens, pois há tão pouco desenvolvimento que um mínimo de arco dramático já indica o possível arco deles. Ainda assim, Tyler Rake tem um arco satisfatório que se conecta com o personagem apresentado em 2020 e faz com que o público até o entenda melhor.

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"Resgate 2" é ainda mais ambicioso que o filme anterior em suas cenas de ação. Crédito: Jasin Boland/Netflix

Mesmo parte relevante no novo cinema de ação de filmes como “John Wick” (não por coincidência também comandado por um ex-dublê), “Resgate 2” ainda mostra influência de filmes como “Comando Para Matar” (1985), com Arnold Schwarzenegger, e outros hoje clássicos dos anos 1980 e 90. Com ótimo tempo de humor, mas entendendo o tom sério do filme, Chris Hemsworth desfere algumas sacadas e frases de efeito que nem sempre funcionam, mas que se encaixam no filme de forma meio torta, gerando até comentários e críticas de outros personagens.

Enquanto o filme anterior tinha um desfecho com ar de encerramento, a continuação abre de vez as portas para uma série de filmes, introduzindo novos personagens a serem desenvolvidos em histórias subsequentes. Falta, porém, sustância ao texto, um universo mais complexo para o qual o público anseie voltar para conhecer novas histórias. Por enquanto, a ação mantém o interesse vivo, mas até quando o fará?

“Resgate 2” talvez não surpreenda tanto quanto o primeiro filme, do qual ninguém sabia ao certo o que esperar, mas impressiona pela ambição de grandiosidade e, obviamente, pelas incríveis cenas de ação, sua principal razão de existir, e isso, da maneira que Sam Hargrave entrega, não é pouca coisa.

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