Os irmãos Joe e Anthony Russo eram completamente desconhecidos fora da indústria de Hollywood quando receberam o convite para dirigir “Capitão América: Soldado Invernal” (2014). Com experiência em seriados de TV como o ótimo “Community” e filmes menores, os Russo não se encaixavam naquele ambiente blockbuster, mas contaram com a indicação de Steven Soderbergh e uma vasta coleção de quadrinhos para vencer a concorrência. Ainda bem.
O segundo filme do Capitão é considerado por muitos como o melhor de todo o Universo Marvel, com menos efeitos de computação e cenas de ação mais próximas da realidade - dentro do possível, claro. O resultado foi tão bom que coube aos irmãos dirigir também os dois filmes-evento “Vingadores” (“Guerra Infinita” e “Ultimato”) que encerrariam em grande estilo a jornada iniciada lá em 2008 com o primeiro “Homem de Ferro”.
Longe do Universo Marvel (mais ou menos), eles produziram o bom “Crime Sem Saída”, estrelado por Chadwick Boseman, o Pantera Negra, e agora estão de volta com “Resgate”, protagonizado por Chris Hemsworth, o Thor.
O filme lançado pela Netflix nesta sexta-feira (24) foi roteirizado por Joe Russo com base em uma graphic novel escrita por ele ao lado do irmão. Dirigida por Sam Hargrave, que faz sua estreia em longas-metragens, a trama acompanha o mercenário Tyler Rake (Hemsworth) em uma missão para resgatar Ovi, o filho do maior traficante da Índia, que acabou no meio de uma guerra do pai com o maior traficante de Bangladesh.
Logo de cara o filme impressiona pelas cenas de ação. Assim como Chad Stahelski e David Leitch, criadores da franquia “John Wick”, Hargrave é um dublê com experiência na indústria - ele foi coordenador de dublês e coreografias em todos os filmes dos Russo na Marvel e também trabalhou como diretor de segunda unidade.
O diretor opta por uma ação mais bruta, seca, mas ainda assim estilizada. As coreografias são ótimas e Chris Hemsworth tem total domínio delas em cena, nunca deixando que as lutas pareçam uma dança ou algo artificial. Os takes são longos, sem aquele monte de cortes rápidos, e o ator se impõe em tela, nos fazendo acreditar na violência e na brutalidade daqueles golpes.
Além das lutas, vale também a ação com armas e as perseguições. O primeiro ato do filme conta com um incrível (e longo) plano sequência, realizado sem exageros e por diferentes ambientes, que envolve embates físicos, perseguições automobilísticas, diálogos e troca de tiros, tudo sem a artificialidade que a técnica pode causar. A câmera na mão, no meio da ação, e os diversos elementos em cena a fazem lembrar a sensacional sequência final de “Filhos da Esperança” (2006), de Alfonso Cuarón.
O roteiro não tem grandes mistérios, mas insere algumas boas camadas a uma trama simples. O protagonista ganha certo desenvolvimento quando entendemos algumas de suas dores, mas o mesmo não pode ser dito dos antagonistas. Saju (Randeep Hooda), brilha nas sequências de luta ao lado de Chris Hemsworth e ganha até momentos de destaque individual. Hooda, vale ressaltar, é um astro na Índia e sua presença deve atrair muitos espectadores no país.
O resto do bem selecionado elenco tem David Harbour (“Stranger Things”) como o rosto mais conhecido no ocidente, mas há também a iraniana Golshifteh Farahani (“Paterson”) e o indiano Priyanshu Painyuli (do bom “Bhavesh Joshi Superhero”, disponível na Netflix) - quanto mais global, melhor.
“Resgate” é um original Netflix diferente; não é um filme de credibilidade como “O Irlandês”, “Dois Papas” ou “História de um Casamento”, tampouco é um filme rejeitado por estúdios como “Aniquilação” ou um “médio” como “Operação Fronteira”. O longa estrelado por Chris Hemsworth é blockbuster em sua essência, com um grande astro e produzido por nomes importantes na indústria. Baseado no sucesso de “John Wick”, a Netflix tem em mãos uma possibilidade interessantíssima de franquia.
“Resgate” é um filme feito para a tela grande, com grandes sequências, tiros e explosões, e que provavelmente se sairia bem nas bilheterias. Um dos grandes filmes de ação dos últimos anos.
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